Quando impera a impunidade
“Olhem para minha cara e vejam se estou preocupado.”
Do presidente Lula na sexta-feira 20.


Lula alegre e feliz em mais uma de suas viagens

 

A impunidade tem como um dos seus pilares, talvez o mais importante deles, o silêncio imposto ou voluntário dos envolvidos em alguma falcatrua. A história recente italiana mostra o seu papel e a sua importância. Lá, a lei do silêncio ficou conhecida por omertà. Além de impedir delações e testemunhos, afetou a convivência e a freqüência a espetáculos e centros culturais. Portanto, a omertà significou bem mais do que silêncio. Implicou submissão e solidariedade pelo medo.
A solidariedade é o argumento usado para justificar a lealdade cega que não mede ou finge que não vê os desmandos praticados por autoridades ou com sua conivência. Isso acontece em todos os níveis do poder. Na Itália, a máfia era um poder paralelo que se imiscuia na máquina do Estado, corrompia e não poucas vezes o suborninava aos seus interesses.
No Brasil, a então sutileza com que se procurava disfarçar a evidência dos fatos tem dado lugar à hipocrisia cínica. Pouco adianta se os d elitos são documentados em vídeos sonoros que registram todos os momentos e todos os detalhes de um ato de corrupção ativa e/ou passiva. Porém, desde que o caso Waldomiro “1%” Diniz foi devidamente abafado pelo Planalto e José Dirceu, seu chefe, dele Waldomiro, conseguiu recuperar o “prestígio” inerente à força do poder cínico não há como impedir a disseminação de operadores que circulam livremente pelos corredores palacianos dessa “terra descoberta por Cabral”.
Os operadores circulam lépidos e fagueiros porque têm certeza de que suas costas estarão devidamente protegidas. Infelizmente, essa é a conclusão que se pode extrair da expressão reproduzida na mídia e não desmentida pelo Palácio do Planalto: “Zé Múcio, diga ao Roberto Jefferson que sou solidário a ele. Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade. O Roberto Jefferson é inocente até prova em contrário. Quem tiver culpa no cartório que pague. Essa é a hora em que o Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não é.”
A frase atribuída ao presidente Lula foi tornada pública pelo líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE). Na segunda-feira, 23, Jefferson subiu à tribua para agradecer a solidaiedade de Lula a afirmar que o presidente não se arrependereia de te-lo apoiado e ao PTB, seu partido.
No sábado, 21, porém, a revista Veja não só ratificou todas as denúncias que havia feito a respeito do parceiro e amigo do presidente como ampliou-as com novos fatos. Além dos Correios, o deputado Roberto Jefferson teria exigido uma mesada de apenas R$ 400 mil de seu afilhado no IRB – Instituto de Resseguros do Brasil – para reforçar o caixa de seu partido.
A mesma revista trazia também as preocupação do poderoso José Dirceu com a CPI porque uma investigação mais profunda traria à tona os nomes de Delúbio Soares e Silvio Pereira, tesoureiro e secretário-geral do Partido dos Trabalhadores. Porém, só a certeza da impunidade pode ter provocado a pérola pronunciada pelo presidente “Olhem para minha cara e vejam se estou preocupado” ao ser indagado por jornalistas se a CPI dos Correios preocupa o governo.
Nessa altura do campeonato, o melhor remédio para combater a impunidade explícita de um poder corrompido e o silencioso obsequioso dos amigos solidários só mesmo uma boa e velha CPI da qual PT e Lula tanto se benficiaram.


 

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