Lula
alegre e feliz em mais uma de suas viagens |
A
impunidade tem como um dos seus pilares, talvez o mais importante
deles, o silêncio imposto ou voluntário dos envolvidos
em alguma falcatrua. A história recente italiana mostra o
seu papel e a sua importância. Lá, a lei do silêncio
ficou conhecida por omertà. Além de impedir delações
e testemunhos, afetou a convivência e a freqüência
a espetáculos e centros culturais. Portanto, a omertà
significou bem mais do que silêncio. Implicou submissão
e solidariedade pelo medo.
A solidariedade é o argumento usado para justificar a lealdade
cega que não mede ou finge que não vê os desmandos
praticados por autoridades ou com sua conivência. Isso acontece
em todos os níveis do poder. Na Itália, a máfia
era um poder paralelo que se imiscuia na máquina do Estado,
corrompia e não poucas vezes o suborninava aos seus interesses.
No Brasil, a então sutileza com que se procurava disfarçar
a evidência dos fatos tem dado lugar à hipocrisia cínica.
Pouco adianta se os d elitos são documentados em vídeos
sonoros que registram todos os momentos e todos os detalhes de um
ato de corrupção ativa e/ou passiva. Porém,
desde que o caso Waldomiro “1%” Diniz foi devidamente
abafado pelo Planalto e José Dirceu, seu chefe, dele Waldomiro,
conseguiu recuperar o “prestígio” inerente à
força do poder cínico não há como impedir
a disseminação de operadores que circulam livremente
pelos corredores palacianos dessa “terra descoberta por Cabral”.
Os operadores circulam lépidos e fagueiros porque têm
certeza de que suas costas estarão devidamente protegidas.
Infelizmente, essa é a conclusão que se pode extrair
da expressão reproduzida na mídia e não desmentida
pelo Palácio do Planalto: “Zé Múcio,
diga ao Roberto Jefferson que sou solidário a ele. Parceria
é parceria. Tem de ter solidariedade. O Roberto Jefferson
é inocente até prova em contrário. Quem tiver
culpa no cartório que pague. Essa é a hora em que
o Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não
é.”
A frase atribuída ao presidente Lula foi tornada pública
pelo líder do PTB na Câmara, José Múcio
(PE). Na segunda-feira, 23, Jefferson subiu à tribua para
agradecer a solidaiedade de Lula a afirmar que o presidente não
se arrependereia de te-lo apoiado e ao PTB, seu partido.
No sábado, 21, porém, a revista Veja não só
ratificou todas as denúncias que havia feito a respeito do
parceiro e amigo do presidente como ampliou-as com novos fatos.
Além dos Correios, o deputado Roberto Jefferson teria exigido
uma mesada de apenas R$ 400 mil de seu afilhado no IRB – Instituto
de Resseguros do Brasil – para reforçar o caixa de
seu partido.
A mesma revista trazia também as preocupação
do poderoso José Dirceu com a CPI porque uma investigação
mais profunda traria à tona os nomes de Delúbio Soares
e Silvio Pereira, tesoureiro e secretário-geral do Partido
dos Trabalhadores. Porém, só a certeza da impunidade
pode ter provocado a pérola pronunciada pelo presidente
“Olhem para minha cara e vejam se estou preocupado”
ao ser indagado por jornalistas se a CPI dos Correios preocupa o
governo.
Nessa altura do campeonato, o melhor remédio para combater
a impunidade explícita de um poder corrompido e o silencioso
obsequioso dos amigos solidários só mesmo uma boa
e velha CPI da qual PT e Lula tanto se benficiaram.
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