Eu
me colho, digo com um pressenti- mento cinza, com medo
dessa história que mal esboço e que já
me conduz de-sandado e surpreso, mas com uma espe-rança
azul..
Volto ao início e me vejo dividido em mil partes,
em seguida milhões delas, só uma com a
carga do infortúnio que, depois, chegou. Eu me
semeio, volto ao mesmo ponto, como quem se automatiza,
de tanto se repetir em ânsia de fazer encontrar
o desejo com sua satisfação.
No silêncio das noites, madrugada, tento me achar
em meio das fotos que de mim faço, como se não
existisse e pre-cisasse me comprovar, atestando-me.
As-sim, vou adiando a colheita, embora es-teja seguro
do direito a ela. Afinal, a semeadura é de minha
gestão, o desejo e a colheita de minha decisão
de não me semear estéril.
Colherei sem pressa o que a semente me der. Só
eu sei que esse plantar volátil, quase aéreo
vai medrar. Por isso, passeio sobre mim mesmo, dando
autoria ao su-cesso do plantio, uma certeza que só
a mim pertence, como é só minha a colhei-ta,
quando ela chegar. E chegará.
Mesmo agora, quando me semeio múltiplo de mim
mesmo, me alegro
das sementes que, como pólem, vou deixando pelo
caminho, mas sem o ins-tinto das gralhas, que não
administram sua prole de futuro, esquecendo-se das áreas
de fecundação, o que resulta no germinar
de pinheiros, que não gosto de chamar por araucária,
muito menos por seu adjetivo brasiliensis, que os de
me-lhor Latim, entendem por do Brasil.
Ao contrário delas, sou atento à minha
colheita, não me esquecendo de todo o ciclo das
novas vidas, acompanhando o seu percurso para se multiplicar.
Eu me semeio de coragem e algumas idéias, nesse
caso esperando que a colheita traga também alguma
forma de reconhecimento, pois ainda não conheço
escritor sem vaidade. Afirmo com o do-mínio que
tenho de mim mesmo, só plantando ou semeando
no varejo perifé-rico de uma humilde literatura
de jornal.
Se deixar de me interessar pela semea-dura que em mim
mesmo faço, levarei a decisão para o domínio
sobrenatural, pois estarei fazendo um voto de abstinência
contrário às minhas crenças e deveres.
Nesse caso, passarei a semear a pílula do dia
seguinte, toda vez que me contrariar com o resultado
menor que o amor do plantio desejar, se um padre ou
bispo de São José dos Campos tentar me
conven-cer com suas idéias medievais. |