Por Paulo de Tarso Venceslau

1º de Maio: virou festa de pelego

Joaquinzão deve estar rindo em seu túmulo. É o mínimo que se pode imaginar depois das comemorações desse primeiro de maio. Joaquim dos Santos Andrade era o nome do sindicalista que se transformou em ícone do então criticado peleguismo. Ele dirigiu o maior sindicato do Brasil, o dos Metalúrgicos de São Paulo, de 1965 a 1987.

A esquerda e os sindicalistas “combati- vos”, que em 1983 iriam fundar a CUT Central única do Trabalhadores -, acusavam Joaquinzão de ser pelego. Trata-se de uma expressão que tem origem na pele de car-neiro colocada entre o arreio e a pele do cavalo. Sua função é amaciar o choque para que montaria não reaja aos comandos do cavaleiro que a cavalga e a esporeia.
Segundo glossário do CPDOC da Fun-dação Getúlio Var-gas, pelego é o “termo utilizado para designar o dirigente sindical que defende as orientações do Ministério do Traba-lho entre a classe trabalhadora, cum-prindo assim o papel de intermediário en-tre os sindicatos e o governo. Na maioria das vezes os diri-gentes pelegos trans-formam o sindicato em um órgão essen-cialmente assistencial e recreativo, evitando que sirva de canal para reivindicações de melhores salários e condições de trabalho”. Não será esse o papel reservado à CUT no governo do PT de Lula?


Joaquinzão, o pelego. Hoje copiado pela CUT

Sinopse divulgada pela Radiobrás em 19 de abril afirma, por exemplo, que “ o Correio Braziliense fez comparações entre o sindicalista de ontem e o presidente de hoje, "Paz amor e muita paciência", onde o tom é o de que o ex-radical está cada vez mais tolerante. A matéria destaca que Lula prefere demorar mais tempo para tomar decisões. Não toma decisões sob pressão. E que Lula elogiou sindicalistas mais moderados da época, como seu antecessor Paulo Vidal e Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, dos metalúrgicos de São Paulo”.
Quando o próprio Planalto elogia Joaquinzão é sinal de que alguma coisa mudou. Nada mais revelador do que as comemorações desse 1º. de maio que mostraram o quanto o movimento sindical encontra-se atrelado ao governo. A Força Sindical, crítica do governo Lula, é coman-dada por Paulinho, sucessor mais que legíti-mo de Joaquinzão e do hoje deputado federal Luis Antônio Medeiros. A CUT não cansa de acusar a Força Sindical de pelega.
Nesse 1º de maio, as duas maiores sindicais saíram às ruas para medir forças. Os shows e sorteios de casas e automóveis da Força consegui-ram atrair, segundo a Polícia Militar, cerca de 1,2 milhão de pessoas à praça Campo de Baga-telle, em São Pau-lo. De quebra, al-guns políticos co-mo Severino Ca-valcanti, presidente da Câmara e do gover-nador Geraldo Alckmin colheram vaias.
Os shows de artistas, políticos e ministros do PT, da “combativa” CUT, levaram, segundo a própria PM, cerca de 500 mil pessoas à avenida Paulista. Nos chatérrimos discursos os políticos não se cansavam de fazer propaganda para a reeleição de Lula, em 2006. Na mesma manhã, em uma missa em São Bernardo do Campo, Lula fazia propaganda de seu futuro governo ao afirmar “que até 2008 iremos cumprir nosso compromisso de levar luz elétrica à casa dos 12 milhões de lares que ainda não têm energia."