Por Thaís Naldoni – thaisnaldoni@portalimprensa.com.br

Entrevista: Jorge Kajuru

Ponte aérea forçada de Jorge Kajuru

 

Segundo o jornalista, as críticas giraram em torno da aquisição dos direitos de transmissão do Campeonato Goiano, em 2001, pela OJC. O valor pago teria sido muito mais baixo do que o restante dos campeonatos estaduais. “Em Santa Catarina, por exemplo, o valor pago pelos direitos de transmissão do estadual foi de R$ 2,3 milhões. Já em Goiânia, o valor foi de R$ 200 mil. O mais grave é que havia interesse de outras emissoras em comprar os direitos, por valores mais altos, porém suas propostas sequer foram ouvidas”, explica.
Mesmo com mais de cem processos em seu currículo, esta é a primeira vez que Kajuru é condenado. Apesar de já ter perdido em 1ª instância, a sentença sempre era revertida quando levada à Brasília. Desta vez, no entanto, isso não foi possível.
Além de ter que passar as noites em um albergue penitenciário de Goiânia, Kajuru foi condenado a pagar 200 dias-multa, o equivalente a pouco mais de seis salários mínimos.
Um dos grandes confortos que recebeu foi o apoio de Sílvio Santos, que ofereceu um avião para que o apresentador possa continuar, junto de Hebe Camargo e Adriane Galisteu, a apresentar o programa “Fora do Ar”, pelo SBT. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida pelo jornalista ao Jornal CONTATO e Portal IMPRENSA.

CONTATO– Como ficará sua vida durante o período em que você estiver cumprindo a pena?
Kajuru – Para mim são grandes os prejuízos profissionais. Na ESPN eu perco o emprego porque o “Linha de Passe” é ao vivo e vai ao ar às 21h. Terei que estar no albergue penitenciário a partir das 20h. Também tenho um programa na TV Alphaville, que não poderei fazer, e um em Ribeirão Preto.
Já o “Fora do Ar”, no SBT, o Sílvio Santos veio a mim pessoalmente e me disponibilizou um avião para que eu pudesse vir a São Paulo fazer as gravações do programa. A Adriane Galisteu e a Hebe Camargo também se disponibilizaram a gravar mais cedo, para que eu possa retornar na hora de me apresentar.

CONTATO– Você acredita que esta condenação seja ruim para sua imagem?
Kajuru – Não. Tenho 30 anos de carreira, sempre fui um crítico e não vou mudar. Como todo cidadão, tenho o poder da indignação. Quando não puder mais me indignar com as arbitrariedades que acontecem no Brasil, não sei o que valerá a pena. Reconheço minhas limitações, meu exageros nos adjetivos. Posso pecar por exageros, mas nunca por mentiras. Não faço nada, não falo nada se não tiver um mínimo de embasamento e, neste caso, nunca estive tão embasado.

CONTATO– Há a tentativa de fazer com que a pena seja cumprida em São Paulo...
Kajuru – A pena não poderá ser trazida para São Paulo, isso já está decidido. Só poderia acontecer se existissem vagas nos albergues da cidade e isso todo mundo sabe que não tem. A tentativa agora é de um habeas corpus. Espero que tenhamos resposta antes de 28 de maio, quando terei de iniciar o cumprimento da pena.

CONTATO– Você acredita que exista no Brasil a tão falada “indústria do dano moral”?
Kajuru – Existe, com certeza e eu sou uma grande vítima dela. Acho um absurdo que alguém exija dinheiro para “limpar” sua honra. Honra é uma coisa que não tem preço, não há dinheiro que pague.

CONTATO– Você foi condenado pela justiça de Goiânia, a mesma que ordenou a apreensão dos livros de Fernando Moraes, duas sentenças que atentam contra à liberdade de imprensa...
Kajuru – Não vou ficar falando sobre o caso do Fernando Moraes porque já tem muita gente falando sobre o caso dele e poucas pessoas tratando o meu caso. Fui condenado sem chances de recurso. Todos os processos que tive até hoje aconteceram por eu ter expressado minha opinião ou por ter feito alguma denúncia. Já perdi em primeira instância algumas vezes, mas recorria e vencia. Se eu tivesse a chance de recorrer à Brasília, certamente, ganharia de goleada, mas não pude fazer isso.

CONTATO– Seu advogado perdeu o prazo para recorrer da sentença e isso impediu que você levasse a decisão à Brasília. Foi apenas um descuido ou você acredita que tenha sido má fé?
Kajuru – Meu advogado perdeu o prazo, mas eu prefiro acreditar que seja por inexperiência, ele ainda é jovem. Na verdade quem perdeu o prazo em Goiás não foi meu advogado titular, mas um substituto. O titular, que é meu amigo inclusive, por motivos de saúde não pode continuar acompanhando o processo e passou para o outro, que trabalhava com ele. Há quem diga que tenha sido má fé, que ele teria ganhado uma grana preta por isso, mas realmente eu prefiro acreditar que não. Ele chegou a me dizer que depois disso, deixaria a profissão.

CONTATO– Você disse que em Brasília esta decisão da Justiça de Goiânia seria revertida. Acredita em perseguição ou influência política no estado?
Kajuru – Eu garanto que existiu influência política neste caso. Mas ressalto, só no caso deste Juiz (Alvarino Egidio da Silva Primo, da 12ª Vara Criminal de Goiânia), não estou questionando toda a Justiça de Goiânia. O que mais me estarrece é que eu tinha, como ainda tenho, todas as provas documentais sobre o que eu falei. Fiz uma crítica denúncia totalmente embasada. Por isso acredito em interferência política.

CONTATO– Você tem medo de que esta condenação abra precedentes para novas condenações?
Kajuru – Com certeza. Os jornalistas que não gostam de mim deveriam pensar que eles podem ser os próximos a sofrerem uma condenação. Este é um precedente gravíssimo e os colegas deveriam se conscientizar da gravidade disso.

CONTATO– Você tem recebido apoio dos colegas de profissão?
Kajuru – Das pessoas que eu respeito e das pessoas de bem, sim. E é isso o que importa.

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