Se disser que
o governo do mundo e de suas gentes é exercido
pelo amor, corro o risco de pieguice e de chacota. Não
temo nenhuma das duas hipóteses, mas tenho todo
medo que me comparem ao Quixote, a mais rica e emocionante
personagem criada pelo gênio humano. Explico o
temor. A mim me faltam as qualidades e a delicadeza
– na forma de sutileza – que o herói
copiosamente servia em suas aventu-ras de afrontador
de limites, aliado à inocente(?) postura de cava-lheiro,
na condição de cavaleiro.
As atenções são a forma externa
do amor, por onde atitudes e fine-zas filtram as delicadezas,
respeito e as verdades do amor. Não há
amor sem o amparo de atitudes expressas por gestos,
palavras que divulgam o amor, tornam nobre a autoria
e emocionada a criatura objeto de atenções.
Estamos falando de Educação e de educados,
os que não se permi-tem ultrapassar os limites
que separam a delicadeza e se avizinham da grossura.
Há quem não se contenha em si mesmo, pela
necessi-dade de ir em busca do pior de nossa condição.
Também vou até os adestrados, aqueles
que aprendem pela repetição sem análise,
resultando na decoração de algumas regras
para sentar sem deixar as pernas expostas, outras regras
para beber no copo cer-to, hoje tão em moda,
outras, ainda, que regulam o que falar, quando se chega,
outras, para quando se despede, afora os elogios de
praxe, com cada palavra expressando situações
já vistas e vividas por ou-tros.
Os educados se conduzem e os adestrados, além
de não viver nada novo, repetem-se desesperados,
imitando a quem os educou: não se conduzem, são
conduzidos.
Desculpem pelo simplório do tema, mas me impressiona
a falta de sensibilidade dos mais ásperos, ao
tempo em que me impressiona a indulgência dos
tolerantes, quase sempre distantes da procura por medidas
mais próximas de uma bondade quase indígena,
por sua grandeza insuspeitada.
Preocupado em colocar o amor como o centro do Universo,
não te-mo chamar de volta o infeliz e desastrado
Ptolomeu, dizendo que a Terra, o Sol e os homens precisam
tirar o Sol copérnico como nossa referência
espacial, repondo o coração em seu lugar.
O mundo, des-se jeito seria melhor, mesmo desconhecendo
etiquetas e protocolos.
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