Poder Cínico

José Dirceu, ministro Chefe da Casa Civil foi o entrevistado pelo programa Roda Viva da TV Cultura na segunda-feira. Foi uma aula de cinismo. Segundo o dicionário Houaiss, cinismo é a “atitude ou caráter de pessoa que revela descaso pelas convenções sociais e pela moral vigente; impudência, desfaçatez, descaramento”. E cínico é “aquele que afronta ostensivamente as convenções e conveniências morais e sociais”. Dirceu foi muito além.

 


O cínico ministro Chefe da Casa Civil

 

No fim de semana, a revista Veja foi farta em informações a respeito do governo Lula. Uma reportagem trouxe uma gravação em vídeo de cenas nas quais Maurício Marinho, alto funcionário nos Correios, dá uma aula de corrupção explícita que seria comandada pelo presidente do PTB – Partido Trabalhista Brasileiro –, Roberto Jeferson, aliado do Planalto.
José Dirceu, quando perguntado, assumiu a mesma postura do episódio Valdomiro Diniz: “não sei de nada, ele já se explicou, não podemos condená-lo” etc, etc. Escândalo mais explícito só mesmo o do então homem de confiança do ministro Chefe da Casa Civil.
Em seguida, o entrevistado afirmou que só faz o que seu chefe manda. Mas, a mesma revista Veja, edição 1905 de 18 de maio, afirma que José Dirceu é quem manda na campanha eleitoral de 2006. O recado foi dado em reunião com os aliados do PMDB que pediam para que Lula não suba nos palanques nos estados em que houver disputa entre os dois partidos PMDB e PT. Nesse momento, Dirceu teria interrompido a reunião para afirmar que aquela “decisão é da coordenação e não candidato [e que] as trombadas vão acontecer”.
Lula, docilmente, tudo aceitou. E no programa Roda Viva o cínico José Dirceu jurou de pé junto que não manda nada. Mas omitiu que ele é o coordenador da campanha de Lula em 2006.
A mesma revista Veja traz ainda uma notinha em que relata um jantar misterioso que teria ocorrido entre Dirceu e Emílio Odebrecht, proprietário de uma das maiores empreiteiras que leva o mesmo sobrenome. Curiosamente, essa empreiteira é uma velha conhecida dos petistas, especialmente de José Dirceu. Em 1994, por exemplo, muita grana “doada” por ela entrou na campanha de Lula através do então candidato a governador do estado, José Dirceu.
Quando a manobra veio a público, Dirceu ficou em maus lençóis. César Benjamim, um dirigente petista carioca, bateu duro em um encontro nacional do PT. O tiro saiu pela culatra e Cézinha, como é conhecido, abandonou o partido. Sua carta de desligamento do PT, publicada no jornal Folha de São Paulo em 23 de agosto de 1995, foi premonitória, apesar de sua generosidade com Dirceu: “Dirceu é inocente, mas não o sistema de poder que governa o PT, aliás, com o apoio das bases. Boa parte do que resta delas está cooptada. Grande ambições articulam pequenas ambições”.
Naquele momento, Cezinha ainda acreditava que Dirceu seria remanescente de uma militância política formada com ética e valores que foram deixados de lado. Com certeza, depois desse programa na TV Cultura e as notícias mais recentes, não resta a menor dúvida que Dirceu hoje é apenas um operador que estimula grandes ambições para exercer o poder através dos seus seguidores que se conformam com pequenas ambições. Só o cinismo explícito é capaz de conviver com essa realidade e não se avexar.

 

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