Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Tucanos, petês, corvos e abutres

Os tucanos – pelo menos os daqui – violam os ninhos e comem os filhotes, cortando caminho em direção aos repastos, nada deixando para pais legítimos. Os petês, que já foram os predadores dos tucanos, arrasando sua estirpe e plumagem, em episódios de poucos anos atrás, foram atingidos por estranha doença, perdendo sua memória mais recente, também a memória um pouco mais distante, agora também perdendo sua memória remota, só restando a memória sentimental, aquela que o mal de Alzheimer deixa por último, para que a criatura tenha uma derradeira forma de conexão com a vida, agora a vida pregressa e longínqua, a que fala de sindicatos heróicos, greves memoráveis e eventos que orgulharam a nós todos.
Salvo uma clonagem milagrosa e não prevista ainda pela Ciência, o óbito se aproxima velozmente.
O chupin (Molothus bonariensis) anda por perto dos tico-ticos, em cujos ninhos põe seus ovos, assegurando a criação de seus filhotes. São conhecidos e odiados por não serem portadores de moral ou ética, também se notabilizando pelo nenhum trabalho. É um pássaro aproveitador, tipo petebê, marginal e eficiente usuário de vitórias alheias, além de cordial amigo de toda forma de poder.
As raposas são uma forma elegante e folclórica de rapina, servindo-se de galinheiros para devorar aves e chupar seus ovos. Atacam à noite, de preferência, quando o mundo dorme e também dormem seus alvos prediletos. Costuma olhar parreiras de uvas, sabendo quando os frutos ainda estão verdes. Penso que haja mais raposas no Congresso que nestas matas amenas, onde vivo.
Os corvos se servem de carne em estado de putrefação, banqueteando sobre a morte, recente ou não, de suas presas. Transformam-se em abutres, com sérias variações em relação à ética e a moral. Rondam as terras, onde tudo vêem e cheiram de modo privilegiado. Vigiam os céus e as terras, em seus vôos inteligentes e, até, poéticos, exibindo beleza de movimentos, servindo-se dos ventos para flanar sem esforço.
Há entre os homens subespécies que se deliciam com a desgraça alheia, rondando seus passos, à procura do momento certo para cair sobre os despojos de seus semelhantes, apropriando-se de bens e patrimônios, via lei e de modo legal, embora sem amparo moral ou ético, coisas que pouco importam aos abutres forenses, onde exercem sua condição de rapinadores de seus assemelhados, conservando poses e posições sociais, para consumo externo.
Aves, bichos e os bichos-homem guardam semelhança no fazer e no usar. São quase iguais, embora os pássaros e os bichos vivam carregados de razões que se avizinham de uma moral de sobrevivência, nem sempre defensável, mas com defensores importantes, como La Fontaine. Os abutres humanos não se salvam nem em Balzac, mas sua punição tem a ver com a consciência que não possuem.
Gosto do assunto e voltarei a ele.


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