Por Pedro Venceslau

Exclusivo

Pedro “BBB” Bial

 

Formado em jornalismo na PUC carioca, em 1980, o foca Bial conseguiu uma vaga na Globo como estagiário. Passou a produtor, repórter, substituiu Leda Nagle no “Jornal Hoje” e chegou até a apresentar programa de auditório. Aos 30 anos, em 1988, recebeu o grande convite de sua vida: ser correspondente da Globo, em Londres. Cheio de prestígio, foi apresentar o Fantástico. E de lá não saiu mais.
Sua primeira participação no BBB desencadeou uma enxurrada de críticas. Como um jornalista com o currículo e o patrimônio profissional de Pedro Bial pode apresentar um programa tosco como o Big Brother? Chegaram a dizer que iria “querer apagar essa mancha do passado”. Bobagem. A vontade na pele de Grande Irmão, Bial recorre a Chacrinha para vaticinar: “Disseram que o Velho Guerreiro era lixo. Hoje ele é venerado. Dêem tempo ao BBB...”. Nesta entrevista para Jornal CONTATO e Revista IMPRENSA Pedro Bial faz um desabafo sobre a indústria da fofoca, avalia sua relação com a fama, defende o Big Brtoher, desanca Lula e passa a mídia brasileira a limpo.

CONTATO - Em 1997, pouco depois de voltar de Londres cheio de prestigio e assumir o Fantástico, você morava em um apartamento alugado no Leblon. O que mudou na sua vida?
Bial – Ainda moro em casa alugada e não tenho patrimônio. Fiz uma aventura cinematográfica, que foi dirigir e produzir um filme, ("Outras Histórias", lançado em 1999), onde perdi tudo que tinha economizado. Tive que começar do zero e não estou muito longe disso ainda.

CONTATO - E o ócio...?
Bial – Estou cada vez mais investindo em dias "inúteis". Estamos montando um esquema de rodízio no Fantástico onde só um fica de plantão no fim de semana. Em 1997, minha vida era uma aflição só. Eu não tinha entendido muito bem porque eu tinha ido apresentar o Fantástico... Eu queria mostrar que eu era mais que aquilo...Houve algum processo psicológico que me fez quase chegar a auto – flagelação. Aí eu entrei em psicanálise, tive problemas de depressão. Tive um stress que chegou a tal ponto, que tive problemas no joelho. Fiz uma batelada de exames. Ele me disse que eu estava com quadro de depressão. Fiquei tomando anti - depressivo durante anos. Percebi que mais importante do que tentar se afirmar fazendo um monte de coisas é fazer bem o seu trabalho, abrir espaço para os filhos. Hoje sou um cara muito caseiro.

CONTATO - Na primeira edição do BBB a "crítica especializada" acabou com Big Brother. Disseram até que você iria "se esforçar para apagar essa mancha do currículo". Depois de 5 edições, por que você acha que desistiram de criticar?
Bial – O Chacrinha foi chamado – ele e o programa – de débil mental e de lixo, durante décadas. Desde o rádio até a televisão. Aí, um belo dia, um teórico da comunicação europeu disse que ele era genial, que tinha umas sacadas brilhantes e tal. De repente, os acadêmicos e a crítica brasileira, com o perdão da má palavra, começaram a concordar com ele. Por isso eu digo: não julguem o Big Brother tão rápido. Deixem passar um pouco. No BBB 5 proliferaram matérias em jornais, como a “Folha”, de gente querendo dar uma áurea de Andy Warhol.

CONTATO - A fama te incomoda?
Bial – Antes do Big Brother eu tinha a proteção do título de jornalista. E por mais que jornalista seja popular, as pessoas têm uma certa cerimônia na abordagem. No momento em que eu virei apresentador de um programa que estimula as pessoas a "darem uma espiadinha" , perderam a cerimônia. Eu procuro agir com naturalidade, mas, às vezes, tenho de sair correndo. Tem certos lugares que eu não posso ir.

CONTATO - Quando um jornalista lhe persegue, você lembra que ele é um coleguinha no exercício da profissão e deixa barato?
Bial – No dia seguinte ao final do Big Brother, fui pegar jacaré na praia e um papparazo me fotografou. Saiu na revista “Quem”. Nesse caso eu até achei simpático. Mas geralmente é infernal. Já tentaram me fotografar dentro de casa. Subiram no muro...Aí já é invasão mesmo, é contra a lei. Não é nada agradável essa situação de não poder colocar o pé fora de casa. Tudo que for feito pode ser usado contra você. É um “Big Brother” 24 horas por dia.

CONTATO - É o Big Brother aquecendo o mercado da fofoca...
Bial - É impressionante o ciclo econômico que a fofoca movimenta a partir do Big Brother. O que rola de notícia falsa em revistas, sites - alguns até relativamente sérios - e nesses programas da tarde que passam na TV é impressionante. No começo eu ficava bravo. Chegaram a acusar o Domini, que participou do terceiro BBB, de ter assassinado uma pessoa. Um absurdo. Com o tempo passei a levar na esportiva e encarar isso como os empregos indiretos que nós geramos.

IMPRENSA – Durante a Copa do Mundo de 1998 a imprensa de celebridades espalhou que você estaria tendo um caso com a Suzana Werner, então esposa do Ronaldo. Chegaram a dizer que ele jogou mal a final por sua causa. Como encarou esse episódio?
Bial – O boato é um negócio terrível. Você não tem como lutar contra ele. Não há como plantar um contra boato. Se você vai a público negar, só fortalece a lógica do boato. Já passei por várias situações na minha vida mais ou menos trágicas, mas de praticamente todas elas hoje eu consigo rir. Mas se tem uma coisa que eu até hoje não consigo achar graça é a história desse boato da Susana Werner. Foi escroto, malicioso, descabido.

 

IMPRENSA – Como surgiu essa história?
Bial - Tenho algumas desconfianças de alguns nomes, inclusive de coleguinhas bem próximos. Mas seria leviano dizer... Mas também parei de querer saber. Me senti ultrajado como pessoa, como brasileiro. Todo mundo no Brasil começou a repercutir isso, principalmente as rádios. Eu não tinha como, nem a quem processar. Só se eu processasse todo mundo.

CONTATO - Você chegou a conversar com o Ronaldinho sobre isso?
Bial – Conversei na hora, lá mesmo, assim que soube disso pelo Ademário Touguinhó, que me chamou no canto durante o treino e falou da história. No mesmo treino, pedi um tempo com o Ronaldo e fui conversar com ele, que disse que já estava sabendo de tudo. Eu conhecia o Ronaldo desde 1994, na outra Copa. Já esclareci de cara com quem interessava e, depois, com a própria Susana. Ela trabalhava junto comigo, cobrindo pela Globo. Em vários jogos fiquei do lado dela, e isso fortaleceu a teoria do boato. Como a TV francesa, além da Globo, dava takes da namorada do Ronaldinho vendo o jogo, eu aparecia muito do lado dela.

CONTATO - E por falar em fofoca: é verdade que você e a Glória Maria brigaram e não se falam?
Bial – Eu tive que me ausentar do Fantástico para escrever o livro do Roberto Marinho e começaram com essa história. Não tem nada a ver.

CONTATO - Na apresentação de uma matéria sobre o balé Kirov, você fez comentário politicamente incorreto: “Isso é coisa de viado”. A frase teve um repercussão enorme. Como aquilo foi vazar?Bial – Aquilo foi sacanagem, mas não consegui identificar de quem. Meus amigos na Globo dizem que foi a lei de Murphy – passou por cinco edições e ninguém viu. Mas deixa para lá. Hoje eu dou risada disso.

CONTATO - Você não acha que essa comemoração dos 40 anos da Globo foi meio cansativa?
Bial - Em um país como o Brasil qualquer coisa que consegue chegar aos 40 anos com saúde, equivale a uma tradição milenar. Só que, por mais que a data mereça, é muito difícil fazer uma comemoração dessa sem cair no cabotinismo. No caso dos 40 anos da Globo, não acho que caiu no cabotinismo, mas transmitiu uma sensação de excesso. A festa ao vivo eu achei boa, mas muito longa.

CONTATO - Seu livro sobre o Roberto Marinho recebeu duras críticas. Disseram que faltou isenção, carregou nas tintas e louvou demais a figura do chefe.
Bial – Teve uma crítica da Folha de S.Paulo - que faz uma campanha declarada contra a TV Globo - dizendo que faltava isenção ao autor. No Estadão uma resenha disse a mesma coisa. Dizer que falta isenção ao autor é desacreditar a obra sem nem precisar ler o livro. Eu acho que esta tudo tratado ali, com honestidade e franqueza. O que existe é uma maneira dialética de tratar o personagem. Não pesei um vetor em detrimento de outro. Roberto Marinho foi um homem paradoxal, um homem típico do século 20. Mas uma coisa de fato houve: a intenção de que as pessoas terminassem de ler o livro com uma impressão diferente do Roberto Marinho. Havia uma idéia formada, uma sentença, de que Roberto Marinho era o demo e daí para baixo. Mas faltava informação sobre quem foi aquele cara, de onde ele surgiu. Eu quis que houvesse uma revisão dos autos do processo do Roberto Marinho através do meu livro.

CONTATO - A família deu liberdade total para escrever o livro?
Bial – Tive total liberdade. Meu interlocutor principal, o João Roberto, não pediu para eu mudar nada. O único conselho que o João me deu foi: "Pode tratar de qualquer assunto, desde que seja com naturalidade".

CONTATO - Vamos falar de Big Brother. Em algum momento você se perguntou: "O que eu estou fazendo aqui?"
Bial – Eu nunca me questionei se eu deveria ou não estar fazendo aquilo por ser jornalista. Aliás, o programa começou a funcionar bem quando fui eu mesmo e parei de me preocupar com a condição de "o jornalista" e passei a ser o "Zé Mané" do Pedro Bial.

CONTATO - A saída da Marisa Orth ajudou?
Bial - Melhorou. Não tem espaço para duas pessoas no BBB. O pessoal confinado tem que ter relação com um sujeito só.

CONTATO - Em 1988, com 30 anos de idade, você desembarcou em Londres para ser correspondente da Globo. O jornalismo brasileiro cobre bem o mundo?
Bial - O interesse sobre o noticiário internacional no Brasil é muito pequeno. Isso é refletido nos noticiários dos jornais e das televisões. O dia a dia internacional não é bem coberto por ninguém. O jornal que melhor cobre o mundo é o Estado de S.Paulo. Eles mantêm a tradição de um caderno internacional forte e de qualidade.

CONTATO - Politicamente você se considera um tucano?
Bial – Na minha posição eu não posso afirmar o meu voto. Mas eu sou simpático à social
democracia. De qualquer forma, o PT também é um partido social-democrata.

CONTATO - O governo FHC era mais afável com a imprensa do que é o governo Lula?
Bial – O governo do PT tem mais desconfiança da imprensa do que o do PSDB. Eles (PT) têm medo de jornalista. FHC tinha mais jogo de cintura, era mais democrático. Alguns membros do governo são adeptos de teorias conspiratórias, como se a imprensa fosse uma grande "ordem" voltada para administrar o status quo.

CONTATO - Jogo rápido. Qual sua revista semanal preferida?
Bial – Aos poucos estou criando o hábito ler a Época, mas ainda prefiro a Veja, que evoluiu muito nos últimos tempos. Eles tem acertado muito mais que errado. Eu também gosto da “IstoÉ Dinheiro”, mas não da “Istoé Gente”. A Carta Capital é pouco confiável.

CONTATO - Um site?
Bial – www.nominimo.com.br.

CONTATO - Revista internacional?
Bial – “The Economist”. Eles são brilhantes.

CONTATO - Telejornalismo?
Bial – No últimos anos, tenho gostado muito do telejornalismo comunitário.

CONTATO - TV a cabo?
Bial – “Sem Fronteiras”, da Globo News. Também sou doido pelos canais esportivos.

CONTATO - Jornal diário?
Bial – Assino “O Globo” e “Estadão”. O “Globo” tem a melhor primeira página do Brasil. E o Estadão tem um texto muito bem escrito. Além disso, me afino com as posições do jornal. Já para a “Folha” falta equilíbrio. Eles têm uma pegada muito boa, mas um jornal não vive só de destruir. O Evandro Carlos de Andrade usava uma expressão que define bem a Folha: “Um jornal que aposta no fracasso”.

CONTATO - De onde vem essa história que a “Folha” faz campanha contra o Grupo Globo?
Bial – Isso é declarado. Já li entrevistas dos proprietários da Folha dizendo que fazem uma campanha contra a Globo. Isso é até justificável, já que a Globo detém uma fatia muito grande do orçamento publicitário que existe no Brasil e eles estão brigando nesse mercado. Só que isso tira legitimidade e isenção da Folha na hora de criticar a Globo.


| home |

© Jornal Contato 2005