Faz
tempo que o tempo virou.
Pouca
gente acredita em previsões meteorológicas. Mas a
gente as lê ou ouve com atenção. Pricipalmente
quando se tem um compromisso no fim de semana. Os radares, computadores,
cálculos estatísticos e fotos de satélites
que fazem a leitura do tempo costumam, porém, não
ver o que um caiçara sente.
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Ricardo
Kotscho |
Ricardo
Kotscho, brilhante e respeitado jornalista, confessou publicamente
que não percebeu a mudança do clima político
no Brasil (“O vento virou e eu não percebi”,
Folha 24.05. 2005). Desinformado ele nunca foi. Até recentemente,
viveu nos bastidores do poder. Partilhou de informações
que os pobres mortais talvez nunca saibam. Sobrevoou nuvens carregadas
e céus de brigadeiro. Com certeza, tal qual um frade, ouviu
confidências que permanecerão quardadas sob sete chaves.
Kotscho confessa que há pouco tempo escreveu sobre os bons
tempos que talvez julgasse ser extensivo senão para todos
pelo menos para aqueles que acreditavam no governo Lula. Era o caso
dos velhos amigos reunidos na casa do escritor Fernando Morais.
Foi “um baita astral, um pessoal de bem com a vida”.
A festa era uma homenagem ao ditador Fidel Castro ou de desagravo
ao ministro José Dirceu por ocasião da revelação
do escândalo Waldomiro Diniz, seu braço direito? Até
onde se sabe, foram as mesmas pessoas que participaram desses dois
jantares. Nem mesmo as “toneladas de críticas”
que recebeu foram suficientes para alertá-lo sobre a mudança
do tempo.
Faz tempo que o tempo mudou. A carta de desfiliação
do PT de César Queiroz Benjamin, por exemplo, foi publicada
na página 3 da Folha, em 23 de agosto de 1995. A gota d’água
para Benjamin, que hoje assessora o MST, foi a contribuição
de uma conhecida empreiteira baiana para a campanha presidencial
de Lula, em 1994. Os recursos teriam entrado através da campanha
de José Dirceu, candidato a governador, em quem Benjamin
ainda confiava (não sei se ainda confia). Confira: “Dirceu
é inocente, mas não o sistema de poder que governa
o PT, aliás com apoio das bases. Boa parte do que resta delas
está cooptada. Grandes ambições articulam pequenas
ambições, grandes chefes têm sob si chefes menores,
empregos mais altos geram empregos para quem está embaixo”.
Na mesma ocasião, eu guardava um segredo só confindenciado
a Lula. Roberto Teixeira, compadre e amigo da pricipal liderança
do PT, estava envolvido diretamente com malversação
de recursos públicos na prefeitura de São José
dos Campos. A descoberta só foi possível porque, em
1993, eu era secretário das finanças. Em 1997, após
4 anos de silêncio cúmplice e tentar, sem sucesso,
debater a questão em todas as instâncias partidárias,
dei longa entrevista relatando o episódio. Eu ainda acreditava
no compromisso do PT com os valores que nortearam a militância
nos anos de chumbo. Paguei caro por isso.
Depois, Chico de Oliveira abandonou o partido que ajudara a fundar
e construir. Suas análises revelam que a premonição
de Bejamain se concretizara. Militantes políticos e sindicais
abandonaram seus compromissos históricos e se transformaram
em gestores e reprodutores do capital.
Desde quarta-feira, 18 de maio, apesar do bom tempo, governo e PT
vivem a ressaca de uma fracassada mega-operação para
abafar a CPI dos Correios com farta distribuição de
cargos e recursos públicos.
Sábado, 28 de maio, acaba de ser publicada a Carta de Campinas,
subscrita por um time eclético, majoritariamente oriundo
do PT, que mostra a consciente política do governo Lula com
a manutenção e aprofundamento da obra tucana.
O tempo mudou. Faz tempo.
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