Você, homem
ou mulher, você se casa com uma pessoa que julga
conhecer pro-fundamente, graças ao convívio
de um bom tempo de namoro e algumas intimidades. De-pois,
não muito tempo depois, começa a conviver
com uma criatura que você não conhecia:
ronca como uma locomotiva, come e fala de boca aberta,
fala muito alto, toma banho sem rotina, esperando a
sujeira aparecer, come como um ser panta-gruélico,
e não é aquela criatura nobre que priorizava
o espírito às coisas mundanas. E daí?
Você pode escolher: não se esquecer daqueles
juramentos do civil e do reli-gioso, quando prometeu
fidelidade eterna, sem desconfiar desse valor meio cretino
e de estar atento ao célebre axioma do que “deus
(qual deus?) uniu, nada pode se-parar”. Também
pode mandar tudo para o alto e discutir, ou não,
os centavos do patrimônio. É um jeito,
mas não o único.
Mudar de quarto resolve alguns dos problemas, mas não
livra de outros. Pode diminuir o som de “rock
pauleira”, pois o solista está distante,
mas não elimina os arrotos - explicados como
modo árabe de mostrar satisfação
- nem o coçar frieiras desobedientes: “o
quê você quer; quer que eu fique sofrendo?”
Você pode reagir contra a forma de se vestir de
seu parceiro(a), alegando excesso de panos e cores descombinados,
mas não tem fôlego para uma vigília
estética per-manente, entregando-se à
convivência promíscua com a agressividade
do mau gosto. Pode, mas não agüenta.
Se se casa com uma pessoa e concorda em viver com uma
outra, está sujeito a es-posar um Apolo ou uma
Vênus e viver com um gordo de volume do Jô
ou com uma barrica sem cintura e saliências, aquelas
que o atraíam até à loucura, mas,
é fatal, você perde o entusiasmo de voltar
para casa e começa a se atrasar por nada ou por
tudo, isto é, por outra pessoa. Claro, ainda
restam os regimes, os cursos de boas-maneiras, promessas
de “nunca mais” re-petir a cena grotesca,
as agressões gros-seiras, mas esse momento parece
já perto do fim: dê o fora, antes que a
barrica se torne um caminhão-pipa, que os palavrões
se transformem em língua coloquial. Te-nham pressa,
não se matem ou só namo-rem. Não
passem disso, nunca.
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