Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Namorados, casados

Você, homem ou mulher, você se casa com uma pessoa que julga conhecer pro-fundamente, graças ao convívio de um bom tempo de namoro e algumas intimidades. De-pois, não muito tempo depois, começa a conviver com uma criatura que você não conhecia: ronca como uma locomotiva, come e fala de boca aberta, fala muito alto, toma banho sem rotina, esperando a sujeira aparecer, come como um ser panta-gruélico, e não é aquela criatura nobre que priorizava o espírito às coisas mundanas. E daí?
Você pode escolher: não se esquecer daqueles juramentos do civil e do reli-gioso, quando prometeu fidelidade eterna, sem desconfiar desse valor meio cretino e de estar atento ao célebre axioma do que “deus (qual deus?) uniu, nada pode se-parar”. Também pode mandar tudo para o alto e discutir, ou não, os centavos do patrimônio. É um jeito, mas não o único.
Mudar de quarto resolve alguns dos problemas, mas não livra de outros. Pode diminuir o som de “rock pauleira”, pois o solista está distante, mas não elimina os arrotos - explicados como modo árabe de mostrar satisfação - nem o coçar frieiras desobedientes: “o quê você quer; quer que eu fique sofrendo?”
Você pode reagir contra a forma de se vestir de seu parceiro(a), alegando excesso de panos e cores descombinados, mas não tem fôlego para uma vigília estética per-manente, entregando-se à convivência promíscua com a agressividade do mau gosto. Pode, mas não agüenta.
Se se casa com uma pessoa e concorda em viver com uma outra, está sujeito a es-posar um Apolo ou uma Vênus e viver com um gordo de volume do Jô ou com uma barrica sem cintura e saliências, aquelas que o atraíam até à loucura, mas, é fatal, você perde o entusiasmo de voltar para casa e começa a se atrasar por nada ou por tudo, isto é, por outra pessoa. Claro, ainda restam os regimes, os cursos de boas-maneiras, promessas de “nunca mais” re-petir a cena grotesca, as agressões gros-seiras, mas esse momento parece já perto do fim: dê o fora, antes que a barrica se torne um caminhão-pipa, que os palavrões se transformem em língua coloquial. Te-nham pressa, não se matem ou só namo-rem. Não passem disso, nunca.


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