Por Thaís Naldon
thaisnaldoni@portalimprensa.com.br
Fotos: TV Globo
- Zé Paulo Cardeal
Serginho
Groisman:
“Ainda existem resquícios
de censura no Brasil”
|
|
Ele
poderia ter sido advogado, cineasta, mas acabou cursando jornalismo.
De tão fraco o curso, depois de formado voltou à
faculdade como professor, com uma proposta diferenciada. “Em
princípio todos passavam. A responsabilidade de estudar
ou não deve ser do aluno”, argumenta Serginho
Groisman, apresentador dos programas “Altas Horas”
e “Ação”, na TV Globo e “Tempo
de Escola”, no Futura.
Serginho passou pela TV Gazeta, TV Cultura e SBT. Na Globo
desde 1999, o apresentador amargou por algum tempo a geladeira,
por falta de espaço na grade da emissora. A proposta
de um horário alternativo acabou motivando a direção
da TV, mas inviabilizando o projeto do programa ao vivo. O
“Altas Horas” é gravado às quintas
e exibido aos sábados.
Nessa entrevista exclusiva para Jornal CONTATO e Revista Imprensa,
Serginho fala sobre a imprensa e a juventude brasileira, a
censura no Brasil, a proliferação das revistas
de fofoca e a importância da educação.
Acompanhe os melhores momentos.
|
CONTATO
- Recenetemente, duas decisões da Justiça de Goiânia
agitaram a imprensa brasileira: a prisão de Jorge Kajuru
e a apreensão do livro do Fernando Morais. Como você
avalia estes casos?
Serginho - Nossa real liberdade de imprensa [é] relativamente
nova, se a gente pensar que nos anos 70, há trinta anos,
nós tínhamos uma censura absolutamente controlada.
Em princípio, nós temos uma imprensa livre. Mas existem
particularidades que emperram esse processo. [Entretanto] a imprensa
livre precisa ser responsável Se qualquer leitor, espectador
ou até o próprio Estado se sentir ferido através
da imprensa, ele tem os meios a recorrer. Mas existe um limite muito
fino entre as pessoas se sentirem atingidas e essa liberdade de
imprensa. Creio que [ainda] existam resquícios de censura,
de má interpretação do que seja a liberdade
de imprensa e, às vezes, isso menos, de irres-ponsabilidade
jornalística.
|
CONTATO
- A imprensa brasileira é clara, informativa, imparcial?
Serginho - [Ela] é um pouco o reflexo do resto das nossas
atividades ou de nossos comportamentos. Nós temos uma TV
que deve muito, mas também tem coisas boas. Temos um avanço
político que é um pouco melhor do que já foi,
mas que ainda deve muito. Com relação à imprensa,
[é] difícil a gente caracterizar a imprensa brasileira.
Fazendo uma analogia, quando eu escuto pessoas que querem saber
como vai o jovem hoje, eu pergunto: como você pode querer
de uma maneira geral o jovem brasileiro, se dois caras de 15 anos,
que vivem na mesma cidade, como São Paulo, por exemplo, um
estuda em escola particular o outro está na Febem? Como a
gente pode falar a juventude brasileira com tantas diferenças?
Existem alguns pontos comuns, mas existem diferenças que
são fundamentais. A mesma coisa [acontece com a] imprensa.
Existe a responsável, a que informa e aquela que não
tem o sentido ético, que [quer] apenas gerar vendas de jornais
e revistas a qualquer preço. A imprensa televisiva, talvez
junto com a rádio FM, [são] as mídias mais
superficiais no sentido da própria informação.
Nos veículos impressos existe um aprofundamento maior. Mas,
[em todos eles] há os interesses [que] descaracterizam uma
possível isenção. É quase impossível
de existir a isenção jornalística.
CONTATO
- Nas bancas há uma proliferação de mídias
de fofoca. Você conseguiu se manter distante disso. O que
você fez?
Serginho - Eu não fiz nada. E é por não fazer
nada que eu consigo me manter distante. Existe uma certa cumplicidade
entre certas personagens do mundo artístico e estas revistas.
CONTATO
- A notícia pode ser um entretenimento?
Serginho - Não necessariamente. Em alguns veículos,
as notícias se tornam um entretenimento. A televisão
tem muito essa característica, de misturar o entretenimento
com a informação.
CONTATO
- É importante o diploma de jornalista para se atuar na profissão?
Serginho - Eu comecei a fazer jornalismo quando era obrigatório.
Mas comecei a ver as coisas assim: um cara que entendia de música
melhor do que eu, que era um músico e que sabia escrever,
não podia escrever no jornal. Hoje, o jornalismo de rádio
e de televisão usa muito os ex-jogadores de futebol, porque
têm uma clareza interessante. Deve haver um espaço
para quem não é formado, mas deve haver a valorização
daquela pessoa que optou em estudar especificamente o jornalismo
e que possa ter seu espaço garantido nas redações.
Tem uma outra questão: o colunista, que não é
jornalista. Não pagam nada para ele, e ele terá o
maior prazer em escrever, vai escrever bem, mas vai continuar sua
vida de pianista.
CONTATO
- O jornalista deve ou não deve fazer propaganda?
Serginho - Vai depender. Deve haver critérios e não
dogmas. Quando você faz um comercial, você empresta
sua credibilidade, mas eu não vejo motivo para um jornalista
ter um olhar diferente de um apresentador ou um ator. Um ator pode
interpretar alguma coisa, mas você sabe quem é que
está falando aquilo no comercial e a empresa contrata a pessoa
por ela ter uma certa credibilidade.
|
CONTATO
- Como é feito o programa “Altas Horas”? De onde
vêm as idéias de pauta e como são decididos
os convidados, por exemplo?
Serginho - Eu dirijo o programa. Pela primeira vez, aqui na Globo,
eu codirijo, com o Maurício Arruda. Mas antes, eu dirigia
e apresentava sempre. Hoje, eu codirijo e apresento, faço
a Direção Geral do programa. Venho todos os dias aqui
na emissora. Temos uma equipe de, mais ou menos, quinze pessoas.
A questão da pauta, agente conversa diariamente e vai criando
os programas da semana. A gente grava na quinta e exibe no sábado.
O programa era para ser ao vivo, mas por causa do horário,
não tem jeito.
CONTATO
- Mas a proposta do horário não foi sua?
Serginho - A proposta de ter um programa no início da madrugada
foi minha, mas às vezes o horário me deixa irritado,
porque entram às vezes duas da manhã. Mas não
existe uma guerra. Por exemplo: o Papa morreu, daí o “Jornal
Nacional” cresce, o filme é longo, daí começa
mais tarde. O horário que eu gostaria que fosse exi-bido
o programa seria en-tre meia-noite e meia e uma da manhã.
CONTATO
- Seu programa é dirigido ao jovem. Você se preocupa
com o conteúdo das coisas que você diz?
Serginho - No programa, eu procuro não emitir opinião
mesmo. Quando temos um assunto mais contundente, mesmo tendo a minha
opinião, eu prefiro que as pessoas tirem as suas conclusões,
porque eu não sei se a minha opinião vai valer de
alguma coisa para o espectador.
CONTATO
- Você estudou no colégio Equipe, que tinha uma proposta
alternativa na época, carregada de cultura. Qual foi a importância
de uma educação diferenciada?
Serginho - Eu tenho um novo programa no [canal] Futura chamado “Tempos
de Escola”. É um programa [para as] pessoas falarem
da época de escola. Estou falando do colégio, cursinho...que
é uma idade de muita sede de informação, de
conhecimento, de descobertas e a escola fica um ponto de referência
das amizades e possível conhecimento.
A educação [é] fundamental. Mas no Brasil a
escola deveria fazer um pouco do que eu faço no programa,
até com mais profundidade, que é ter uma matéria
que reunisse as pessoas e falasse: “hoje a gente vai conversar
sobre o Iraque”. Falta um pouco da atualidade. [Mas] falta
também um pouco da realidade mais difícil do adolescente
e do jovem como gravidez na adolescência, drogas e relação
familiar serem debatidos mais profundamente.
CONTATO
- Os temas podem ser batidos, mas a gravidez na adolescência
é uma constante...
Serginho - Exatamente. A gente recebeu a atriz Graziella Moreto,
que lançou um livro sobre mãe e ela falou: “mas
hoje em dia, imagina, com tanta informação”.
Daí eu falei: “quem conhece aqui alguém que
engravidou?”. 90% levantou a mão.
CONTATO
- Qual faculdade você fez?
Serginho - Fiz três faculdades. Fiz Direito na PUC e larguei
depois de um ano. Fiz um ano e meio de História na USP e
larguei e fiz Jornalismo seis anos, porque era horrível a
faculdade. Depois eu voltei lá para dar aula e me vingar,
não dos alunos, mas da faculdade, para ser professor.
CONTATO
- Qual faculdade foi essa?
Serginho - FAAP. Eu cheguei com critérios muito diferentes
para dar aulas. [Por exem-plo]: os alunos é que avaliavam
o professor [e] em princípio todo mundo ia passar. A responsabilidade
é do aluno, que paga a faculdade, então, se quiser
estudar, estuda, se não quiser, não estuda. Não
sou eu quem vai controlar a vida dele. O problema é dele
depois no mercado de trabalho.
CONTATO
- Existe diferença entre o aluno que sai de uma faculdade
pública e o que sai da faculdade particular?
Serginho - Existe mais no colégio. A questão mais
grave está no ginásio, no colégio público
e privado do que na facul-dade. Um cara que faz um bom colégio
privado, ele vai fazer uma boa faculdade, mesmo a faculdade [sendo]
ruim, e pode se tornar um bom profissional. Ele é mais interessado
e vem com base mais solidificada.
|
CONTATO
- A realidade da convergência de mídia está
chegando. Você se imagina pegando o celular e assistindo seu
progra-ma pela telinha do aparelho?
Serginho - Hoje em dia eu aceito tudo. Fui para o Japão em
outubro do ano passado. A tecnologia que existe lá, talvez
exista nos Estados Unidos. O povo que existe lá, talvez exista
na Índia. Mas não existe um povo que tenha uma tecnologia
tão forte com uma característica milenar arraigada
como no Japão, principalmente em Tókio. Eles andam
com o celular na mão, não no bolso, porque lá,
o celular funciona para tudo. Uma das coisas que mais me impressionou,
foi um cara que passou por um lado de uma máquina de refrigerantes,
passou o celular e caiu o refrigerante. Na conta do celular, vem
o refrigerante. E eles usam o celular lá para tudo. A tecnologia,
ao mesmo que tempo que avança e se interliga, vai fazendo
você consumir mais.
CONTATO
- Você apresentou um “Alta Horas” especial, direto
da casa do “Big Brother Brasil”. Você acredita
este tenha sido realmente um BBB diferenciado?
Serginho - Eu acho que dessa vez deram sorte. Este Big Brother levantou
algumas questões além da eliminação
e eu acho que isso foi positivo. O primeiro BB que eu acho que foi
mais interessante, dividiu a opinião das pessoas...o fato
de um gay ter sido um vencedor... no Brasil, isso tem alguma importância.
O Jean veio aqui, a gente fez uma entrevista com ele, todo mundo
gostou. Ele é um cara muito articulado, mas perguntaram para
ele assim: “você já teve alguma coisa com mulher?”.
E ele respondeu: “Já!”. Aí todo mundo
aplaudiu...ou seja, ainda tem recuperação. |