Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Minhas crenças, minha descrença

Já acreditei nas histórias que minha avó Gabriela contava sentenciosa, punindo o mal, premiando o bem, fornecendo óleo, quando o enredo pedia água. Queimavam-se no céu religioso de minha avó os maus. Desse mesmo mundo tão afeiçoado ao desejo humano de justiça, também saíram histórias exemplares e capazes de dar um sentido moral ao comportamento moleque de seus netos, inibindo ataques aos doces e biscoitos que sua dissimulada ingenuidade escondia de nossas mãos e gula.
Minha mãe sentenciava: “Deus castiga!”, toda vez que violávamos o bondoso código moral que nos educava. Meu pai nos cobria com lições sobre honestidade e provocava nosso enrubescimento, diante de pequenas mentiras essenciais, como a ingênua ausência às aulas, supridas por intermináveis partidas de futebol, mas ele que nunca experimentou a maciez de um gramado verdinho, não era muito chegado ao pagamento de impostos, que tinha na conta de “alimento dos ladrões do Governo”.
A primeira jura de amor que recebi me pôs diante da eternidade das coisas e do amor, até que me desse conta do jeito finito de tudo. A segunda,ainda que sua história esmaecesse, durou mais. A última, espero que seja definitiva. em suas cores e contornos. O amor por meus alunos perdeu seu templo e, hoje, é tão verdadeiro como ontem, tendo se transformado em entidade, encantando-se.
Na Beleza acredito até hoje, bastando que ouça os “Fireworks”, como faço agora, ou me relembre dos Fra- Angélico de Toledo e Louvre. Na Beleza continuo acreditando toda vez que me chega o sorriso goiano distante e abro as janelas de minha casa, onde vejo e sinto o sol aquecendo meu corpo e minha alma atenta.
Na bondade eu acredito, toda vez que vejo criaturas humanas se desfazerem de bens e riquezas e se entregarem a missões diante de desvalidos, como eu.
Na inteligência superior dos homens acredito, sempre que criam obras como “I promessi sposi” ou “El amor en los tiempos del cólera” ou na força insuperável da energia de “Édipo-Rei”. Também creio no equilíbrio do mundo, quando me levo para a “Vênus de Milo”.
Mas não acredito mais no Lula e seus condôminos da ética e da moral. Ele me fez um grande mal, empurrando-me em direção ao abismo da mentira e me deixa sem vontade de acreditar em tudo que não contenha a transcendência branca da verdade, a verdade do “Paraíso” de Dante, da Nona Sinfonia, de Beethoven, na “Conversa de Botequim” do Noel.
O mundo não se inovou pelo verbo sindical do mágico de São Bernardo, mas é a cada dia mais novo e certo nos caminhos bandeirantes e severinos dos versos de João Cabral.
Eu que convivia com tantas verdades lindas, fui dar espaço para uma mentira periférica. Não me perdôo!



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