Já
acreditei nas histórias que minha avó
Gabriela contava sentenciosa, punindo o mal, premiando
o bem, fornecendo óleo, quando o enredo pedia
água. Queimavam-se no céu religioso de
minha avó os maus. Desse mesmo mundo tão
afeiçoado ao desejo humano de justiça,
também saíram histórias exemplares
e capazes de dar um sentido moral ao comportamento moleque
de seus netos, inibindo ataques aos doces e biscoitos
que sua dissimulada ingenuidade escondia de nossas mãos
e gula.
Minha mãe sentenciava: “Deus castiga!”,
toda vez que violávamos o bondoso código
moral que nos educava. Meu pai nos cobria com lições
sobre honestidade e provocava nosso enrubescimento,
diante de pequenas mentiras essenciais, como a ingênua
ausência às aulas, supridas por intermináveis
partidas de futebol, mas ele que nunca experimentou
a maciez de um gramado verdinho, não era muito
chegado ao pagamento de impostos, que tinha na conta
de “alimento dos ladrões do Governo”.
A primeira jura de amor que recebi me pôs diante
da eternidade das coisas e do amor, até que me
desse conta do jeito finito de tudo. A segunda,ainda
que sua história esmaecesse, durou mais. A última,
espero que seja definitiva. em suas cores e contornos.
O amor por meus alunos perdeu seu templo e, hoje, é
tão verdadeiro como ontem, tendo se transformado
em entidade, encantando-se.
Na Beleza acredito até hoje, bastando que ouça
os “Fireworks”, como faço agora,
ou me relembre dos Fra- Angélico de Toledo e
Louvre. Na Beleza continuo acreditando toda vez que
me chega o sorriso goiano distante e abro as janelas
de minha casa, onde vejo e sinto o sol aquecendo meu
corpo e minha alma atenta.
Na bondade eu acredito, toda vez que vejo criaturas
humanas se desfazerem de bens e riquezas e se entregarem
a missões diante de desvalidos, como eu.
Na inteligência superior dos homens acredito,
sempre que criam obras como “I promessi sposi”
ou “El amor en los tiempos del cólera”
ou na força insuperável da energia de
“Édipo-Rei”. Também creio
no equilíbrio do mundo, quando me levo para a
“Vênus de Milo”.
Mas não acredito mais no Lula e seus condôminos
da ética e da moral. Ele me fez um grande mal,
empurrando-me em direção ao abismo da
mentira e me deixa sem vontade de acreditar em tudo
que não contenha a transcendência branca
da verdade, a verdade do “Paraíso”
de Dante, da Nona Sinfonia, de Beethoven, na “Conversa
de Botequim” do Noel.
O mundo não se inovou pelo verbo sindical do
mágico de São Bernardo, mas é a
cada dia mais novo e certo nos caminhos bandeirantes
e severinos dos versos de João Cabral.
Eu que convivia com tantas verdades lindas, fui dar
espaço para uma mentira periférica. Não
me perdôo!
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