Por
Pedro Venceslau e Thaís Naldoni
Emilio
Surita
"O Casseta dá
de milhão no Pânico"
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Advogado
por formação, o Dr. Antônio Emílio
Saenz Surita nunca exerceu a profissão. Foi no rádio
que Emílio Surita, de 42 anos, fez carreira e caiu
nas graças dos ouvintes, como líder e mediador
do programa Pânico, que vai ao ar diariamente pela
rádio “Jovem Pan” há quase 12
anos.
Há pouco mais de um ano, o irreverente programa,
que faz perguntas indiscretas aos convidados e não
tem qualquer “delicadeza” com seus ouvintes
– jovens em sua maioria – foi levado para a
TV aberta, exibido através da Rede TV!. Hoje, um
dos líderes de audiência aos domingos, o Pânico
está cada vez mais na “boca do povo”
e da mídia.
Nesta entrevista, a segunda para o jornal CONTATO e Portal
IMPRENSA, Emílio Surita comenta a figuração
do “Pânico na TV!” no ranking da baixaria
do deputado Fantazini e esclarece alguns episódios
polêmicos, como o recente apagão que tirou
o programa do ar por mais de 20 minutos, além da
repercussão da mídia do interesse de Silvio
Santos em levá-los para o SBT.
Durante a entrevista, Emílio foi chamado para atender
uma ligação: era Luciano Huck. Emílio
pediu para que a secretária anotasse o telefone,
que ele retornaria depois. Porém, quando se trata
do Pânico, uma pergunta sempre paira: é verdade
ou pegadinha? Afinal, qual é a credibilidade do palhaço?
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CONTATO:
O deputado Fantazini, com a criação do “ranking
da baixaria”, tenta fazer com que a audiência e o
faturamento dos programas assim considerados, baixem até
que eles sejam extintos. O que acha disso?
Surita: O problema de tudo isso é se fazer algo sem qualquer
metodologia. Lembro uma vez em que eu estava estudando pesquisa,
e falaram que tinha um inglês que queria saber quanto se
tomava de chá na Índia. Aí ele pegou um avião,
saiu de Londres, chegou em Nova Dheli, desceu no aeroporto, chegou
no barzinho do aeroporto, tinha uma pessoa tomando café
e outra tomando chá. Ou seja, 50% da população
toma chá e 50% toma café. [Na TV] É uma coisa
julgada por um grupo de 10, 15 pessoas que não gostam daquilo
que estão assistindo. Portanto, não há números
suficientes para se discutir. É complicado classificar
humor, porque humor é subjetivo.
CONTATO:
Mas tinha uma parte mais pesada do programa que vocês tiraram,
que era a morte. Vocês chegaram ter algum problema com aquilo?
Surita: Você tem problema com tudo. A gente estava fazendo
uma brincadeira, por causa daquele corte de energia que nós
tivemos. Dissemos que era um boicote, um ato terrorista e colocamos
uma cena do World Trade Center. Uma pessoa reclamou, dizendo que
era um absurdo colocarmos aquela cena, mas era uma brincadeira,
de se falar de uma grande tragédia e se comparar com uma
bobagem daquela nossa, mas é assim que funciona.
CONTATO:
Há algum limite imposto para vocês?
Surita: O limite é o bom senso. No humor, muitas vezes
você anda numa linha fina, às vezes você escorrega,
e depois, mais à frente, você busca fazer diferente.
Esse é o ex-Morte que foi demitido do
Pânico |
CONTATO:
No humor vale tudo? Ou tem limite?
Surita: O limite é você pensar que você está
fazendo um programa para o cara que está em casa, com a
mulher dele, para que nem a mulher ou o filho dele se sintam constrangidos.
CONTATO:
O que você acha da classificação dos programas
por faixa etária?
Surita: Classificar a faixa etária não funciona,
porque meus filhos vêem a novela, que é classificada
para 14 anos e eles têm 12. Aí, se ele não
entende um beijo homossexual, você senta com ele e explica
o que é aquilo. Então, é a família,
o bom senso da família é que vai determinar o que
uma criança vai ou não assistir. [Por outro lado]
É complicado, porque aí tem aquele jornal das seis
horas da tarde cheio de crimes. Outro dia de manhã, 9h
da manhã, estavam mostrando um cara cheirando cocaína.
Você não pode julgar isso, tem é que pegar
o menor e explicar essas coisas, é o mundo que está
acontecendo ali na televisão.
CONTATO:
Este movimento pode evoluir para censura?
Surita: Eu acho que não há essa intenção
de censurar, eles querem só classificar. Só que
quando você cria normas, você pode encarar como censura,
mas eu acho que não deve ser este o objetivo desse pessoal
de Brasília. Acho que, hoje em dia, ninguém quer
censurar nada no Brasil.
CONTATO
– Estamos em época da indústria do dano moral.
Há pouco, a Rede TV! acabou condenada pela primeira vez,
por causa do Pânico. Vocês não temem esta indústria?
Surita - Eu não sei. Isso fica por conta do departamento
jurídico da emissora. Ninguém nem me falou isso,
eu nem sei.
CONTATO
– É verdade que um dos motivos que abortou a ida
do “Pânico na TV” para o SBT tenha sido o medo
de processos?
Surita – Não, foi outra coisa. Não vou abrir
o motivo, porque já passou.
CONTATO
– Mas não há uma preocupação?
A emissora não pede para que não haja exageros?
Por exemplo, o processo que a Rede TV! perdeu foi por ter levantado
a saia de uma senhora durante o SPFW.
Surita – O Pânico tem uma linguagem muito jovem que
chegou na televisão, porque a televisão é
muito careta, tudo o que é feito nela é velado.
A TV não é feita por moleques, que nem o Pânico.
Tem programas que o cara leva alguém lá e diz: “vamos
mostrar agora como faz o um exame de mama”, só para
mostrar o peito da mulher. Todo mundo sabe disso. Então,
é tudo feito de uma maneira muito hipócrita. Eles
falam: “esse é o programa da família brasileira.
É muito importante fazer o exame”. Aí vão
lá, colocam três modelos peitudonas... minha mãe
nunca convidaram para fazer mamografia, nem a sua.
Olha isso aqui (Surita mostra uma carta em que um advogado se
oferecia para processar a Rede TV! por perdas e danos, em nome
da equipe do Pânico e dos anunciantes, por causa da pane
que tirou o programa do ar). Isso é indústria. Vocês
estão vendo como funcionam as coisas?
CONTATO
– Tem muita bobagem que falam sobre o Pânico na imprensa?
Surita – Hoje em dia, com a internet, tem muita informação,
tem muito site de fofoca. Tem o Terra, brigando com o UOL, que
briga com IG... existem não sei quantas revistas voltadas
para televisão e o entretenimento, então, todo mundo
quer dar o furo.
No negócio do Silvio Santos foi a coisa mais absurda que
eu já vi. As pessoas queriam, de qualquer maneira, dar
o furo desse negócio e foi algo que protelou muito. O Silvio
Santos chamou o Tutinha na casa dele, aqui no Morumbi. O Tutinha
foi lá, conversou com ele durante meia-hora e falaram do
contrato, como funcionava o nosso, multa contratual... e o Silvio
Santos disse que estudaria qual seria o potencial de faturamento
do Pânico, para ver se seria viável para o SBT.
Depois disso, o Tutinha viajou para a Turquia, durante 20 dias.
Nesses 20 dias, a imprensa falou que o Pânico já
tinha sala no SBT, que tinha troca de minuta de contrato, falaram
tudo o que se possa imaginar. Eu, estando perto do Tutinha, fui
informado do que estava acontecendo.
Mas, me ligam Daniel Castro, Feltrin, e eu falando para os caras:
“olha, não tem nada”. E eles diziam assim:
“não, vocês já estão no SBT.
Parabéns, agora vocês vão ganhar dinheiro”.
E, por mais que eu dissesse que não tinha nada, não
adiantava e eles diziam que eu estava escondendo o jogo. E eu
vendo aquilo tudo, pensava: “Meu Deus! Que loucura!”.
No fim, é muito pãozinho para fazer e pouco bromato
para encher o pãozinho.
Repórter
Vesgo e Pedro Venceslau, editor de CONTATO |
CONTATO
– A dupla Vesgo e Silvio é um inegável sucesso.
Não há o receio de que eles se tornem maiores do
que o Pânico?
Surita – Não, acho que não. Eu não
tenho a menor preocupação. Quando você trabalha
numa equipe, você tem que ser generoso. Todos devem ser
generosos com os outros. Eles sabem que todo mundo cria para eles
também, porque não são os dois que estão
lá que são sensacionais. Há, atrás
daquilo, um monte de coisas. Eles estão aparecendo mais
porque está todo mundo também trabalhando para eles
e eles sabem disso, por isso é que não tenho receio.
CONTATO
– Você acredita que o Pânico continuaria com
o mesmo sucesso sem os dois?
Surita – Não sei. Não sei fazer previsão.
Pode ser que faça sucesso sem os dois, pode ser que com
os dois não faça mais sucesso, isso aí é
previsão. Só Nostradamus responderia para você.
CONTATO
– A Luciana Gimenez estava usando o Pânico do começo
ao fim. Incomoda o fato de os outros programas da casa usarem
e abusarem do material de vocês? Há pouco tempo,
a Luciana reclamou que vocês não haviam liberado
parte do programa.
Surita – Não tinha sido liberado porque a gente reprisa
o programa na sexta. Quando a gente não reprisava, a gente
liberava. Mas não incomoda o fato de os outros programas
usarem nosso material. Acho arrogante falar não. É
uma postura arrogante. Sem contar que é da casa.
CONTATO
– Você não se chateia pelo investimento ser
bem maior no programa dela?
Surita – Não sei. Esse negócio de cenário,
eles estão falando desde janeiro que vão trocar,
porque estava velho, estragado. Aí, eu falei para destruir,
porque pensava que eles não deixariam o programa sem cenário,
e deixaram. Aí, surgiu o negócio do SBT e eles não
fizeram o cenário e está até hoje assim.
CONTATO
– Vocês descobriram o que aconteceu naquela pane?
Surita – Ninguém sabe o que aconteceu. [E foi] na
hora em que a gente iria mostrar o camarim. Foi coincidência.
Então, se nós tivéssemos falado que tinha
sido um problema técnico e pronto, tudo bem. Mas nós
ficamos levantando esse negócio que saiu, ficou parecendo
que a gente é que estava armando. Quem tiraria uma emissora
com 12 pontos do ar?
CONTATO
– Vocês chegaram em um ponto em que as pessoas querem
dar entrevista, querem participar. Isso não faz com que
o programa perca um pouco da naturalidade?
Surita – Sim, mas aí a gente vai criar outras coisas
para sair da mesmice. Olha, eu acho que a melhor contribuição
que uma comissão pode dar para o cara que está em
casa, não é falando qual programa é melhor
para cada horário, é explicar como é feito
aquilo. Se o cara tiver cultura suficiente para saber o que é
uma edição, o que fizeram com o Lula e o Collor,
naquela famosa edição do debate de 1989, o cara
seria muito mais inteligente assistindo. Porque a pessoa que assiste
televisão, não sabe como a televisão a manipula.
Hoje, a pessoa não sabe diferenciar o que é ficção,
realidade, entretenimento e jornalismo. Então, parece que
é tudo farinha do mesmo saco, que é o caso da credibilidade
do palhaço. O cara exige da gente, a mesma credibilidade
do Joelmir Beting. O João Kléber tem que ter uma
postura de Willian Bonner.
CONTATO
– Muitas pessoas temem que se vocês forem para uma
emissora maior, percam a naturalidade. O Faustão, por exemplo,
era muito mais engraçado no “Perdidos da Noite”.
Surita – O Faustão escolheu esse caminho. Ele ganha
trilhões, se adequou ao padrão da Globo e a fazer
um programa daquele jeito. Hoje ele é da grande mídia.
No caso do SBT, com certeza não faríamos o programa
que fazemos hoje. Hoje, o Pânico não é um
programa restrito à Rede TV!. Ele é uma vitrine
de humor, que pega este universo de televisão, de celebridade.
Ele pega o cara da Globo, brinca com o SBT. Esta semana, eles
foram fazer uma festa com o logo do SBT. Então, isso é
impossível de se fazer na Globo.
CONTATO
– Vocês iriam para a Globo?
Surita – O que seduz as pessoas é o dinheiro. Pelo
dinheiro você acaba fazendo.
Wellington
e Gordinho |
CONTATO
– Mas um dos grandes ingredientes do sucesso de vocês
é o marketing da pobreza...
Surita – Mas é pobreza. Na verdade, não é
pobreza. A Rede TV! é uma emissora com quatro anos, que
está começando, pegou um pepino da Manchete. Não
adianta você exigir de uma emissora pequena, todas as vantagens
de uma emissora grande. Porém, em uma emissora grande,
você não fala nada, porque tem um milhão de
compromissos. A Rede Globo não fala nada, não fala
de ninguém, não olha para o outro lado.
O Casseta como grupo de humor, pensante, como inteligência,
dá de milhão do Pânico. O Casseta é
o melhor grupo. Mas o que eles podem fazer na Globo? Nada. Ou
brincam com a novela ou não podem fazer nada. Mesmo assim,
estão há muitos anos no ar.
CONTATO:
Você acha mesmo que o Casseta dá de milhão
no Pânico?
Surita: Eu acho porque os caras são inteligentes, eles
estão um degrau acima do Pânico, porque o Pânico,
com exceção minha, que tenho 42 anos, é feito
por caras de 20. O Casseta é formado por oito caras que
têm experiência, bagagem, a manha para fazer o que
fazem, para fazer humor, um humor inteligente. E para quem diz
que não são o que eram, é porque já
se acostumaram.