Por: Glauco Callia, , cidade de Genova, provincia da Liguria, 100km de Milão

Sindrome do Terror

Quando a notícia do atentado chegou, estávamos na sala de operação. Um enfermeiro aumentou o rádio e todos ficamos atônitos. Depois do trabalho, segui para tomar um café e ouvi o comentário geral: a próxima é a Itália. Não se passou mais de uma hora do atentado quando os carros de polícia qualharam as ruas, sete só na praça central onde a Fontana [di Trevi] foi desligada e as bandeiras baixadas.
Respira-se tensão enquanto diferentes jornais contam informações diversas. A policia local já fez 147 prisões. O presidente enviou ao parlamento um pacote com medidas de emergência, entre elas a quebra de sigilo telefônico e e-mails, o fim dos interrogatórios com presença de advogados, e o prazo para se manter um suspeito de terrorismo sem as devidas formalidades subiu de 12 para 24 horas.
As fronteiras estão blindadas e o tratado de livre trânsito europeu está para ser revogado. Os mulçumanos sumiram das ruas com medo de represálias, o que piora a tensão entre italianos e imigrantes. Todos falam sobre a participação da Al Quaeda, Bin Laden, novos grupos e coisas assim. Poucos entendem que a Al Quaeda não é um grupo terrorista, mas sim uma linha de terror onde as atitudes não partem do alto comando que apenas dá as diretrizes e os grupos tomam as iniciativas isoladamente, o que torna mais segura a operação. Pode se entender um pouco sobre isso se lendo o (manual da guerrilha urbana do Marighella).
Hoje (quarta-feira, 13) haverá um show em praça pública onde a orquestra tocará músicas dos Beatles em homenagem às vitimas. Ontem, o ensaio foi aberto, mas poucos assistiram. Uma criança deixou estourar uma bexiga, um casal se atirou ao chão e o carabinieri repreendeu duramente a mãe. São cenas que refletem a tensão dominante.
Ontem, o metrô de Turim foi paralisado por uma ameaça de bomba e a rádio local informou que 15 kg de explosivos foram encontrados em Milão. Existe um clima de histeria, e o próprio terror alimenta, que agora nada funciona, ninguém está em paz e somente nos resta esperar o pior acontecer. Esta noite muitos que vão ao show dizem que somente assim se pode lutar contra o terrorismo, vamos conferir.
Os italianos acreditam que o ataque virá. Se vocês estivessem aqui, também acreditariam.