Por Paulo de Tarso Venceslau

Partido dos Trabalhadores


Pau que nasceu torto ou pepino que não foi torcido

 

Dois ditados que selecionei poderão contribuir para entender a crise pela qual passa o governo federal sob o comando do Partido dos Trabalhadores (PT): "O pepino se torce de pequeno” e “Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”.
Esses dois ditados populares, longe de qualquer rigorismo intelectual, traduzem o sentimento que carrego dentro de mim a respeito dos tristes fatos trazidos à tona pela imprensa. Os mais açodados culpam essa velha senhora que é sempre venerada quando fala bem e odiada quando revela lados obscuros que incomodam. O maior exemplo é o que aconteceu recentemente nos EUA. Uma jornalista foi presa porque se negou a revelar sua fonte. A liberdade de imprensa, cartão de visita dos norte-amereicanos, foi literalmente estuprada por um tribunal conservador submisso ao governo de George W. Buesh.
No Brasil, a Folha de São Paulo, foi acusada de estar alinhada com o PT até dezembro de 2002. Sua postura independente diante do governo federal, agora sob Lula, atraiu a ira de petistas e simpatizantes que vêem nessa postura um posicionamento submisso às elites que governam esse país desde que foi descoberto por Cabral. Não morro de amores pela Folha, mas sou obrigado a reconhecer que o jornal tem sido coerente. Desceu o pau no governo FHC e agora desanca o de Lula. Clóvis Rossi e Jânio de Freitas, um dia acusados de simpatizantes do PT, hoje são odiados pelos petistas mais exacerbados.
O episódio atual, marcado por corrupção explícita, mensalões e cuecas que defenestraram a alta burocracia partidária, é emblemático. Longe de querer pontificar como verdade absoluta, estou convencido que tudo isso poderia ter sido evitado se o partido tivesse se assumido como Partido em 1997. Naquele ano, dei uma entrevista ao Jornal da Tarde relatando a malversação de recursos públicos na prefeitura de São José dos Campos, numa época em que o prefeito não era do PT. Porém, havia uma empresa por trás de toda a falcatrua que era representada pelo compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira.
Se naquele episódio tivessem prevalecido o estatuto do PT e as opiniões da Comissão Especial de Investigação (CEI) do PT da qual faziam parte Hélio Bicudo, Paul Singer e José Eduardo Cardoso e do relatório oficial da Comissão Ética do PT, com certeza eu estaria no Partido até hoje e o compadre de Lula teria sido o punido.
Lula, porém, rasgou o estatuto, assumiu a defesa do compadre e exigiu que a burocracia petista me condenasse. Imediatamente, ninguém mais falou no relatório da CEI. Em seguida, a burocracia ordenou que um de seus “camaradas” fizesse um relatório paralelo à Comissão de Ética pedindo minha expulsão. Os dois relatórios foram enviados ao Diretório Nacional. Antes da reunião que decidiria minha sorte, Lula foi enfático ao afirmar: “ou ele (Paulo de Tarso) ou eu”. Caso eu não fosse expulso, ele não seria candidato em 1998. Conclusão óbvia: o Diretório Nacional me expulsou e eximiu Roberto Teixeira de qualquer culpa.
A militância, que só tem acesso aos comunicados oficiais, ficou alheia a tudo e, ao mesmo tempo, com tudo concordou. Uma vitória de Pirro para a burocracia e uma derrota histórica para o Partido dos Trabalhadores foram os resultados mais marcantes de tudo isso. O caudilho Lula assumiu com a mão de ferro de José Dirceu o comando do partido que foi vitorioso na histórica eleição de 2002. Infelizmente, o pepino que não fora torcido na hora certa apodreceu cedo. Prevaleceu a máxima: pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto.

 

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