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Dois
ditados que selecionei poderão contribuir para entender a
crise pela qual passa o governo federal sob o comando do Partido
dos Trabalhadores (PT): "O pepino se torce de pequeno”
e “Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”.
Esses dois ditados populares, longe de qualquer rigorismo intelectual,
traduzem o sentimento que carrego dentro de mim a respeito dos tristes
fatos trazidos à tona pela imprensa. Os mais açodados
culpam essa velha senhora que é sempre venerada quando fala
bem e odiada quando revela lados obscuros que incomodam. O maior
exemplo é o que aconteceu recentemente nos EUA. Uma jornalista
foi presa porque se negou a revelar sua fonte. A liberdade de imprensa,
cartão de visita dos norte-amereicanos, foi literalmente
estuprada por um tribunal conservador submisso ao governo de George
W. Buesh.
No Brasil, a Folha de São Paulo, foi acusada de estar alinhada
com o PT até dezembro de 2002. Sua postura independente diante
do governo federal, agora sob Lula, atraiu a ira de petistas e simpatizantes
que vêem nessa postura um posicionamento submisso às
elites que governam esse país desde que foi descoberto por
Cabral. Não morro de amores pela Folha, mas sou obrigado
a reconhecer que o jornal tem sido coerente. Desceu o pau no governo
FHC e agora desanca o de Lula. Clóvis Rossi e Jânio
de Freitas, um dia acusados de simpatizantes do PT, hoje são
odiados pelos petistas mais exacerbados.
O episódio atual, marcado por corrupção explícita,
mensalões e cuecas que defenestraram a alta burocracia partidária,
é emblemático. Longe de querer pontificar como verdade
absoluta, estou convencido que tudo isso poderia ter sido evitado
se o partido tivesse se assumido como Partido em 1997. Naquele ano,
dei uma entrevista ao Jornal da Tarde relatando a malversação
de recursos públicos na prefeitura de São José
dos Campos, numa época em que o prefeito não era do
PT. Porém, havia uma empresa por trás de toda a falcatrua
que era representada pelo compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira.
Se naquele episódio tivessem prevalecido o estatuto do PT
e as opiniões da Comissão Especial de Investigação
(CEI) do PT da qual faziam parte Hélio Bicudo, Paul Singer
e José Eduardo Cardoso e do relatório oficial da Comissão
Ética do PT, com certeza eu estaria no Partido até
hoje e o compadre de Lula teria sido o punido.
Lula, porém, rasgou o estatuto, assumiu a defesa do compadre
e exigiu que a burocracia petista me condenasse. Imediatamente,
ninguém mais falou no relatório da CEI. Em seguida,
a burocracia ordenou que um de seus “camaradas” fizesse
um relatório paralelo à Comissão de Ética
pedindo minha expulsão. Os dois relatórios foram enviados
ao Diretório Nacional. Antes da reunião que decidiria
minha sorte, Lula foi enfático ao afirmar: “ou ele
(Paulo de Tarso) ou eu”. Caso eu não fosse expulso,
ele não seria candidato em 1998. Conclusão óbvia:
o Diretório Nacional me expulsou e eximiu Roberto Teixeira
de qualquer culpa.
A militância, que só tem acesso aos comunicados oficiais,
ficou alheia a tudo e, ao mesmo tempo, com tudo concordou. Uma vitória
de Pirro para a burocracia e uma derrota histórica para o
Partido dos Trabalhadores foram os resultados mais marcantes de
tudo isso. O caudilho Lula assumiu com a mão de ferro de
José Dirceu o comando do partido que foi vitorioso na histórica
eleição de 2002. Infelizmente, o pepino que não
fora torcido na hora certa apodreceu cedo. Prevaleceu a máxima:
pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto.
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