Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

O vôo das folhas e das libélulas

Se fosse pintor, Fernando Ito poderia ser, se quisesse, figurativista, catalogando o escultor de forma acadêmica e insuficiente. Fernando é um rebelde e, ele próprio, um voador de longos cursos, quem sabe um “vedor” de coisas que não vemos, quando não usamos seus olhos e olhar.
Daí que, vendo e olhando longe, suas libélulas carregam a graça de sobrevoar o mundo – seu mundo, de modo especial – como se a semelhança de seu inseto de eleição com helicóptero lhe facultasse ver o tudo, olhando de cima, como se visse em inglês, com seus cuidados de “wuathcer”, aquele que vê para cuidar.
Ito tem dois instrumentos de que não pode se devorciar, implicando bens não descartáveis. Seus olhos e olhar e a destreza de suas mãos fazem dele um escultor com origem (razão), meio (execução) e fim (mensagem). Por causa disso, nele se deve empregar que o meio é a mensagem, mas dependente do agudo de seus olhos perscrutadores da natureza como fonte informadora de seu mundo privilegiado de bandeirante de caminhos das seivas, as vielas da vida das folhas, do mesmo modo que a sabedoria das libélulas levam para as margens quentes de lagos e rios, carregando “seus vestidos de gaze e seus adereços de ametista”, como as via Cecília Meireles com seu olho mágico e palavras do mais diáfano dos vocabulários.
Fernando, agora, ensaia vôo em metal e eu me amedronto que, sem as veredas das folhas e sem a leveza da madeira, se perca em massa contínua despida dos caminhos que a madeira ensinou ao poeta-escultor, um caminhante cheio de devaneios, por entre a mata e folhas de sua melhor inspiração.
Não se trata de um temor de perda de qualidade e de ameaça de revogação de um caminho, por desesperança de que ele continue rico e farto em descobertas. Talvez seja mais o caso deste aculturado que escreve este depoimento de elogio ao artista que admira. Coisas de amador, como se pode ver facilmente. Além disso, tenho consciência que escrever sobre arte é coisa para os melhores iniciados nos caminhos e descaminhos da Beleza.
Que o amigo Fernando Ito me perdoe pela ousadia desta viagem por seu mundo deslumbrante. Já, já estarei de volta às coisas mais simples e logo na próxima semana escreverei sobre calcinhas, em cuja área me proponho como conhecedor.


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