Se fosse pintor, Fernando
Ito poderia ser, se quisesse, figurativista, catalogando
o escultor de forma acadêmica e insuficiente.
Fernando é um rebelde e, ele próprio,
um voador de longos cursos, quem sabe um “vedor”
de coisas que não vemos, quando não usamos
seus olhos e olhar.
Daí que, vendo e olhando longe, suas libélulas
carregam a graça de sobrevoar o mundo –
seu mundo, de modo especial – como se a semelhança
de seu inseto de eleição com helicóptero
lhe facultasse ver o tudo, olhando de cima, como se
visse em inglês, com seus cuidados de “wuathcer”,
aquele que vê para cuidar.
Ito tem dois instrumentos de que não pode se
devorciar, implicando bens não descartáveis.
Seus olhos e olhar e a destreza de suas mãos
fazem dele um escultor com origem (razão), meio
(execução) e fim (mensagem). Por causa
disso, nele se deve empregar que o meio é a mensagem,
mas dependente do agudo de seus olhos perscrutadores
da natureza como fonte informadora de seu mundo privilegiado
de bandeirante de caminhos das seivas, as vielas da
vida das folhas, do mesmo modo que a sabedoria das libélulas
levam para as margens quentes de lagos e rios, carregando
“seus vestidos de gaze e seus adereços
de ametista”, como as via Cecília Meireles
com seu olho mágico e palavras do mais diáfano
dos vocabulários.
Fernando, agora, ensaia vôo em metal e eu me amedronto
que, sem as veredas das folhas e sem a leveza da madeira,
se perca em massa contínua despida dos caminhos
que a madeira ensinou ao poeta-escultor, um caminhante
cheio de devaneios, por entre a mata e folhas de sua
melhor inspiração.
Não se trata de um temor de perda de qualidade
e de ameaça de revogação de um
caminho, por desesperança de que ele continue
rico e farto em descobertas. Talvez seja mais o caso
deste aculturado que escreve este depoimento de elogio
ao artista que admira. Coisas de amador, como se pode
ver facilmente. Além disso, tenho consciência
que escrever sobre arte é coisa para os melhores
iniciados nos caminhos e descaminhos da Beleza.
Que o amigo Fernando Ito me perdoe pela ousadia desta
viagem por seu mundo deslumbrante. Já, já
estarei de volta às coisas mais simples e logo
na próxima semana escreverei sobre calcinhas,
em cuja área me proponho como conhecedor.
|