Ando
colecionando frases. Mesmo sem saber bem dos porquês,
passagens de músicas, versos de poemas, ditos populares
e frações de discursos importantes ou que gosto,
povoam minha mente atenta a registrar situações
que me dizem respeito. Foi assim, por exemplo, que vendo os
depoentes da CPI dos Correios, independente de engolir os
absurdos que nos arrasam, me veio à mente uma passagem
de uma de minhas óperas favoritas “As bodas
de Figaro” – notem que não é
só de música brega que alimento meus ouvidos,
No enredo Mozart contrapõe o famigerado Conde de Almaviva
como um pândego súdito que em um diálogo
com o bufo Figaro, ao duvidar de desculpas frágeis
que este montava para se sair bem de uma trama, diz:
- “sua cara mente”
ao que a resposta do safado rapaz vem pronta:
- “minha cara mente, mas eu não minto”.
Sei
que isto não serve de consolo, mas ajuda a manter a
esperança de que os fatos sejam esclarecidos em sua
integralidade. Afinal, se “errar é humano”,
como diz o povo, “permanecer no erro é burrice”.
É verdade que cabem atenuantes em favor de Fígaro,
afinal, a ópera se passa em um tempo em que, na Espanha
do início do século XIX, os senhores detentores
de privilégios tinham o direito de dormir com as donzelas
na noite de núpcias de seus vassalos. Inconformado,
Fígaro pretendia quebrar a tradição e
assim driblar as regras. É lógico que as manobras
dos jovens nubentes faziam parte do enredo sobre a discussão
do direito, justiça, poder e limites da ação
dos senhores e dos subjugados. O diálogo citado é
parte deste debate que apesar de tudo não elide a graça
ou humor.
Sinceramente,
precisei deste intróito para tocar em um tema que me
diz respeito. Antes, porém me vali de outra passagem,
de Paulo Freire, que pontifica “para quem quer crescer,
todo erro é pedagógico”. No meu artigo
“Joãsinho Trinta, Pelé e Ronaldinho”,
publicado no Contato número 232, à página
11, escaparam-me alguns erros que diria foram de três
ordens: um, a grafia do nome Joãsinho com “Z”
em vez de “S”; outra a falta de um “de”
na passagem “Algumas são decantadas e, expressão
(sic) senso de oportunidade”, e finalmente, a repetição
da palavra “direito” na frase derradeira
que além disso incorre em cacofonia “...
se sentem no direito de opinar sobre o direito...”.
Pensei que se o duplamente conterrâneo professor Pasquale
(ele é de Guaratinguetá e portanto Valeparaibano)
lesse diria o seguinte: “Joãsinho”
no caso do carnavalesco é nome, não diminutivo
de João, portanto não tem nada a ver com o “z”;
a minha falta do “de” na frase indicada acima
incorreu em um grave erro que poderia ser sanado com a retirada
de uma “vírgula,” aliada à mudança
do termo “expressão” por um tempo verbal
(“Algumas são decantadas e expressam senso
de oportunidade”); a terceira seria solucionada
por uma fácil alteração da palavra “direito”
substituída na primeira vez por “autoridade”
e assim ficaríamos com “... autoridade (em
vez de direito) para opinar sobre o direito dos demais”.
Por
fim, para terminar, tiro algumas lições freirianas
destes “erros do meu português ruim”
(como diria Roberto Carlos): 1- prefiro não permanecer
no equívoco e assim evitar a “burrice”;
2- não quero ser como Figaro que precisa enganar os
senhores e graciosamente disfaça; e se errar é
humano assumo que corrigi-los publicamente é divinal.
Como
eu que peço desculpas públicas, gostaria que
os senhores da corrupção também se investissem
do sagrado dever de apontar os próprios desvios, e
se possível devolvessem o nosso dinheiro.
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