Que não me
tomem por quem não sou, peço humilde,
antes de tudo. Estou me propondo a dizer duas pa-lavras
ainda sobre escultura, agora escrevendo sobre calcinhas.
“Tudo a ver”, como cunhou a Globo ou al-guém
duvida?
As espessas vestimentas de anta-nho proibiam qualquer
especulação (esta palavra vem de especulo,
espe-lho, implicando ver no espelho, dando nome à
coluna) sobre vestimentas interiores, agora íntimas.
Uma peça não se comunicava com a outra,
nem mesmo mantinham um entendimento sequer razoável.
Mais recentemente elas se dese-nham, mesmo estando debaixo
das calças que lhe favorecem aparecer, pelo menos
nos riscos de seus com-tornos, revelando personalidades
e, até, intenções. O que antes
era moti-vo de pudores, agora se revela como uma intenção
clara de confissão.
De tudo há, mas fiquemos em al-guns exemplos
mais conhecidos. Entre eles o da calcinha sem função
nenhuma, aquela que existe para que não se ignore
que ela também se presta a não fazer nada,
nem ter fun-ção específica, a não
ser a de provo-car essa reação de inutilidade,
nada cobrindo e nada revelando. São fios não
condutores.
A clássica é aquela que envolve todo o
volume e existe até para aque-cer as partes cobertas,
aqui e na África chamada de bunda, que tam-bém
é um dialeto africano. São peças
que pouco mostram de seus contor-nos, até porque
suas portadoras são pessoas que quase não
se mostram. Há, por outro lado, aquelas que pou-co
cobrem, denunciando o lado insti-gante e descoberto,
geralmente dan-do a impressão que vivem apertadas
à superfície que cobrem, tudo desco-brindo
e revelando. São muito apreci-adas pelos espectadores
que não gostam de ver suas esposas decora-das
de modo tão sumário, mas ado-rando-as,
em privado.
Antes que me culpem de omissão, declaro, por
ouvir falar, que a fímbria das peças contam
mais que seu de-senho total, por sugerir limites e exci-tar
a imaginação.
As cores são personagens importan-tes no assunto,
pois denunciam in-tenções ou mostram aceitação
de sugestões de seus pares, mas as cores preta
e vermelha induzem a pensamentos que superam o objeto,
revelando o objetivo. Já as brancas ou clarinhas
denunciam toques de elegância e contém
transparências tidas como perturbadoras.
Não se tem noticia, até agora, que elas
carreguem fortunas em seus interiores, sendo mais comum
às cuecas esse fazer deselegante, mas os mais
eruditos e apaixonados no assunto sempre acham que o
que elas carregam é mais valioso que moeda, inclusive
as estrngeiras mais valiosas, no que concordo, usando
meus parcos conhecimentos.
Poderia continuar, caso não me desse conta que
posso estar estrapo-lando limites. Por causa desse pudor,
deixo de falar em “forma piquá”,
a-quela que se afunila, contrariando a anatomia. Há
outras, mas fiquemos por aqui.
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