Por:
Paulo de Tarso Venceslau e Jorge Fernandes
Dr. Rubens Monteiro de Andrade, especialista em direito
administrativo
“É
pior do que eu pensava”
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A
mais respeitada autoridade em direito administrativo de Taubaté
e do Vale do Paraíba analisa os aspectos jurídicos
da compra, sem licitação, de 70.000 exemplares
do livro “TAUBATÉ, Cidade Educação,
Cultura e Ciência”, por R$ 1.575.000,00. A obra
foi organizada pelo professor José Benedito Prado,
diretor do Departamento de Educação, Cultura
e Esporte, e produzida pela Noovha América Editora.
Dr. Rubens Monteiro afirma categoricamente: “Para o
lançamento da obra que foi feita pela prefeitura, a
contratação da editora, se fosse lançar
essa obra, teria que ser precedida de licitação
porque há várias editoras que poderiam fazer
[o livro]”. Acompanhe os melhores momentos da entrevista
exclusiva para CONTATO.
Raio X
Dr. Rubens Monteiro de Andrade: Formado pela Faculdade Nacional
de Direito do Rio de Janeiro e pós-graduação
na USP; 25 anos como professor de Direito Administrativo na
Unitau; Assessor jurídico do governador Adhemar de
Barros; Chefe da Consultoria Jurídica da Secretaria
do Interior; Assessor legislativo da Assembléia Legislativa
do estado de São Paulo.
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Contato:
Qual a sua opinião sobre esse processo de compra de livros
sem licitação?
Dr. Rubens Monteiro: Do ponto de vista jurídico, não
necessita licitação para aquisição de
obra artística ou cultural [desde] que não exista
outra igual. [É] como contratação de artista
que dispensa licitação porque é aquele e não
tem outro. A lei de licitação prevê mesmo essa
inexigibilidade de licitação para coisas assim. Mas
o problema não é esse. A administração
pública só pode agir no interesse público.
Sua conduta tem que ser pautada pela moral administrativa. Não
pode haver favorecimentos de terceiros. Nem, tampouco, o prefeito
pode fazer uma promoção pessoal com verba pública.
No caso, há um favorecimento de terceiros e há uma
promoção pessoal.
Contato:
O terceiro seria quem?
Dr. Rubens Monteiro: O autor da obra. A editora não vem nem
ao caso. Pode ser qualquer uma. Esse é o problema da moral
administrativa que Eli Lopes Meirelles enfoca muito bem em sua obra.
A administração tem que se pautar pelos interesses
públicos. Muitas vezes se desvirtuam porque, ao invés
de estar procurando o bem comum, ficam acobertando favorecimento.
Contato:
No caso, a editora vendeu o projeto muito antes de o livro estar
pronto. A empresa reconhece que trabalhou cerca de 5 meses em pesquisa.
A empresa não teria condições de organizar
isso em um mês. Tem lógica isso?
Dr. Rubens Monteiro: Claro que tem lógica. A aquisição
de uma obra que não existe similar no mercado está
dispensada de licitação. Esse é um aspecto.
Agora, outro aspecto é procurar encobrir o que não
existe. Uma coisa que já está contratada há
seis meses, que já está apalavrada, e se concretizar
hoje é a burla da lei. Para o lançamento da obra que
foi feita pela prefeitura, a contratação da editora,
se fosse lançar essa obra, teria que ser precedida de licitação
porque há várias editoras que poderiam fazer.
Contato:
O líder do prefeito na Câmara, o vereador Carlos Peixoto
(PSC) disse que o prefeito vai colocar uma tarja preta para mostrar
que não há promoção pessoal.
Dr. Rubens Monteiro: Mas não pode. A prova já está
aí. É ele, prefeito Roberto Peixoto, fazendo apresentação
da obra.
Contato:
E como se analisa a verba federal do Fundef para fazer promoção
pessoal?
Dr. Rubens Monteiro: É... é a coisa pior do que eu
pensava. Eu pensava que a aquisição tivesse sido feita
diretamente do autor da obra, que é funcionário da
prefeitura. Mas, não. Foi adquirido de uma editora. Desse
modo, a editora teria que estar sujeita ao princípio da licitação.
Teria que haver licitação para analisar qual faria
um melhor preço para a prefeitura para a publicação
da referida obra – que é de autoria de funcionário
da prefeitura. Então, é a prefeitura que está
contratando uma editora para lançar este livro que foi feito
por um funcionário do Executivo.
Contato:
Se a pesquisa fosse feita pela editora e o livro fosse exclusivo?
Dr. Rubens Monteiro: Aí seria outra conversa. Agora, se a
prefeitura quisesse fazer um levantamento da história de
Taubaté e funcionários fossem disponibilizados para
este fim e fosse editar, teria que ter licitação.
É o caminho certo.
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