Espelhos (clique)

Por: José Carlos Sebe Bom Meihy


O beijo na cultura ocidental ocupa lugar de destaque nos comportamentos amorosos. Parentes, amigos e principalmente amantes têm no beijo uma das expressões máximas de seus sentementos

É verdade: existe uma História útil outra nem tanto. Uma é com solene “H” maiúsculo; a com “h” minúsculo refere-se às invenções tolas, mentiras, fábulas. Há mesmo os que preferem usar “estória” para diferenciar a grande História. Recentemente reinventou-se o termo “memória” para significar o que não é produto da História, mas que corre como versão não oficial de fatos passados. Discussão erudita de lado, vamos a uma curiosidade interessante: a história do beijo.
O beijo na cultura ocidental ocupa lugar de destaque nos comportamentos amorosos. Parentes, amigos e principalmente amantes têm no beijo uma das expressões máximas de seus sentimentos. E há variações incríveis que vão do beijo convencional nas faces, ao “selinho” que implica mera aproximação dos lábios nos lábios, há ainda o famoso beijo de língua e outros mais ousados. E como são complicados os rituais que encerram regras culturalmente definidas na base de quantos beijos dar, lugar, hora, posições, duração.
Lembro-me de quando fazia pesquisa entre os índios, ficar algo chocado pela não existência ou sequer conhecimento do beijo entre eles. Contrariamente, achava estranhíssima a demonstração máxima de amor se resumir no fato dos amantes defecarem juntos. Então, comecei a supor pesquisas sobre a tal História (ou seria estória) do beijo. Logo que apresentei o problema a alguns pesquisadores do comportamento, ouvi explicações inteligentes que se resumiam nas seguintes alternativas:

O beijo teria surgido em priscas eras, nas cavernas, quando os pares precisavam se lamber para retirar da pele do outro o sal necessário à composição dietética básica;
Também teria sido nas Cavernas que as dedicadas mulheres mastigariam os alimentos para seus pares e filhos;
Darwin defendia a origem do beijo apoiado em teorias evolucionistas que mostravam o aperfeiçoamento das mordidelas dos macacos que se preparariam para o ato sexual com jogos de aproximação;
Segundo alguns, o beijo na boca teria derivado de uma prática romana onde os maridos ciumentos, amedrontados pelos possíveis efeitos do vinho nas mulheres enfiavam a língua em suas bocas a fim de verificar se elas teriam bebido, ou não.


Mesmo que seja impossível saber a gênese do beijo, existem elementos históricos que permitem alguma instrução sobre o assunto. Sabe-se, por exemplo, que Platão escreveu sobre o gozo produzido pelo beijo. Da mesma forma são conhecidas as regras gregas do século IV AC que permitiam apenas aos pais/filhos o beijo na boca. A origem da palavra pode ajudar a compreensão do fato, pois em latim existe três vocábulos: o “basium”, aquele trocado fraternalmente, o “osculum” dado na intimidade e o mais sofisticado que era o “suavium” praticado por amantes. Também é certo que a prática do beijo difundiu-se ao ponto de os reis permitirem aos nobres o beijo nos lábios, sendo que os plebeus deveriam apenas beijar-lhe as mãos ou os pés. Logicamente, desde então, a Igreja Católica assumiu a proibição reconhecendo ser o beijo uma das práticas mais excitantes ou lascivas e por isto condenáveis. Vale também lembrar que atualmente há um dia – 13 de abril – dedicado ao beijo. De toda forma, o beijo está aí e serve, inclusive, para que eu termine esta breve viagem à inutilidade da história enviando um beijo respeitoso aos meus leitores.

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