Por:
Pedro Venceslau
Paulo de Tarso Venceslau, diretor de redação
do Jornal CONTATO
“PT
Saudações”
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Nesta
entrevista de pai para filho, o diretor de redação
de COTATO, Paulo de Tarso Venceslau, ás vésperas
de completar 62 anos, passa Taubaté a limpo, conta
histórias do passado e relembra os bons e maus tempos
do Partido dos Trabalhadores. Nada mais oportuno, aliás,
já que, nos últimos meses, a mídia
nacional (re) descobriu um episódio ocorrido em 1993,
em São José dos Campos. Na ocasião
o entrevistado era secretário de finanças
daquela prefeitura. O fato já trazia todos os ingredientes
revelados recentemente e que provocaram uma das maiores
crises políticas da história republicana.
Paulo de Tarso, desde então, tem sido procurado por
todos os meios de comunicação de todo o país.
Chegou a nossa vez de contar para Taubaté histórias
que ninguém conhece. Confira.
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CONTATO
- Você sempre criticou a gestão Bernardo Ortiz. Agora,
está marcando em cima do Peixoto. Por que?
Paulo de Tarso – Não se trata da pessoa do Peixoto,
uma figura humana muito afável. Acontece que ele é
o prefeito de Taubaté. Portanto, um homem público.
E como tal tem de prestar contas dos seus atos e da sua administração.
Só isso. Infelizmente, nossos dirigentes estão mal
acostumados com o papel da imprensa. Peixoto, além disso,
está muito mal assessorado. Juro que eu teria o maior prazer
se pudesse em elogiar nossa prefeitura. Infelizmente, ainda não
foi possível.
CONTATO
- Quais as diferenças entre as gestões Ortiz e Peixoto?
Qual dos dois cuida melhor de Taubaté? Por que?
Paulo – Bernardo Ortiz, tucano de primeira hora, gostando
ou não, tinha um projeto e sabia executar o que havia se
proposto a fazer. Minhas divergências com ele eram políticas.
Nunca engoli seus conceitos de democracia. Porém, sempre
nos respeitamos. Nos seus três governos, Taubaté passou
profundas modificações. Peixoto nunca teve e não
tem projeto ou qualquer identidade político-partidária.
Além disso, está muito mal assessorado. CONTATO já
dispõe de farto material que deverá pautar as próximas
edições, assim que forem encerradas as investigações
em curso. E mal se encerrou seu oitavo mês de governo. Com
Bernardo isso não acontecia.
“Roberto
Peixoto nunca teve um projeto para Taubaté”
Paulo
de Tarso concede entrevista exclusiva para o repórter
Luiz Macklouf Carvalho, do Jornal "O Estado de São
Paulo" |
CONTATO
– A atual Câmara de vereadores é mais competente
que a anterior? Quais seriam os destaque nesta gestão e na
anterior?
Paulo de Tarso – Essa Câmara promete ser melhor, embora
ainda não tenha mostrado a que veio. Só recentemente
percebe-se alguma mobilização provocada pelo escândalo
de compras de livros sem licitação. Na gestão
anterior, Joffre Neto (PHS) tinha um projeto legislativo muito interessante
que envolveu a maioria dos outros vereadores. Nessa legislatura,
Jeferson Campos (PT) tem sido a melhor surpresa. Luizinho da Farmácia
(PDT), Gorete (sem partido) e Chico Saad (PMDB) têm conseguido
se impor, mas não garanto que resistirão aos apelos
de Peixoto. Ângelo Filipini (PSDB) promete. As três
novas musas (Tereza Paolicchi, Pollyana e Graça) são
revelações que precisam ser buriladas. Contam com
minha humilde torcida.
CONTATO - Quais foram os erros que levaram Antônio
Mário Ortiz, que era favorito, a perder na última
hora para Peixoto, na eleição de 2004?
Paulo de Tarso – Um erro insanável de um lado e um
fenômeno político do outro. O erro foi e é a
sua pouca disposição em amassar barro no dia-a-dia.
Sua gestão, que foi razoavelmente boa, não contou
com a presença do prefeito no dia-a-dia. Principalmente na
periferia onde a informação é mais precária.
CONTATO
- Peixoto traiu Bernardo Ortiz?
Paulo de Tarso – Eu não diria traição.
Mas até o momento, Peixoto tem cometido os mesmos equívocos
de Salvador e Antônio Mário. Até fim de setembro,
os políticos terão encerrado a dança dos partidos.
Novas alianças regadas a acordos irão temperar a sopa
de 2006. A partir desse rearranjo, é muito provável
que aumentem os problemas de Peixoto com a Câmara, e aí
o fenômeno Bernardo pesa. A conferir.
“Peixoto
cometeu os mesmos erros de Salvador e Antonio Mário”
Paulo
de Tarso no rio São Francisco, julho de 1968 |
CONTATO
- Quais as semelhanças de estilo de governo entre Lula e
Peixoto?
Paulo de Tarso – Não são poucas. Vejamos alguns.
Os dois apostam que a falta de projeto possa ser compensada com
campanhas milionárias nos meios de comunicação.
Os dois se deixaram cercar por assessores despreparados que comprometem
seriamente a administração pública. Basta ver
a quantidade de denúncias contra a prefeitura. Os dois acreditam
que o simples carisma é suficiente para superar as dificuldades.
Lula há muito tempo dispõe desse dom, mas Peixoto,
tenha dó, insiste em discursar e aí é um desastre.
Lula inchou a máquina com a companheirada; Peixoto com a
família e amigos incompetentes.
CONTATO
– Haveria diferenças?
Paulo de Tarso – Claro. Por exemplo, dona Marisa não
abre a boca; já dona Luciana “Magda” é
o oposto, com efeito desastroso. O carisma de Lula é uma
realidade, a pretensão peixotista é um devaneio. O
sucesso da Lula é a continuidade da política econômica
de FHC; já Peixoto foi literalmente engessado por [Bernardo]
Ortiz com um orçamento comprometido por pelo menos dois anos.
“O
carisma de Lula é uma realidade, a pretensão peixotista
é um devaneio”
Paulo
de Tarso chegando a UFB, julho de 1968. |
CONTATO
- Acredita que Bernardo Ortiz Jr. está preparado para ser
herdeiro político do pai e prefeito de Taubaté?
Paulo de Tarso – Não tenho a menor dúvida. Mas
não sei como ele enfrentará sua pouca visibilidade.
Carisma não se transfere. Mas tratando-se do filho de Bernardo
Ortiz, tudo pode acontecer em Taubaté. Tem muito chão
pela frente.
CONTATO - Você foi expulso do PT. Hoje, é visto
como oráculo da crise. Enfim... está rindo por dentro
ou sente uma ponta de tristeza ao ver o projeto que um dia moveu
sua vida saindo pelo ralo?
Paulo de Tarso – Trata-se de um sentimento ambíguo.
Ao mesmo tempo que vivo uma enorme satisfação pessoal
passo por uma amargura muito grande. A burocracia canalha do PT
não pode ser confundida com sua militância que é
maravilhosa. Nenhum outro partido no Brasil conseguiu, pelo menos
até hoje, atrair tantos setores marginalizados para a vida
política. Infelizmente, os valores de esquerda – solidariedade,
justiça social, soberania nacional, valorização
do lado humano e muitos outros – foram comprometidos por esses
gângsteres que tomaram conta da máquina partidária
do PT. Muito tempo passará, pelo menos é o que avalio,
para que o socialismo democrático volte a fazer parte da
ordem do dia no Brasil.
Em
pé: Tarciso "Friday", Camilher, Tio Patinhas,
Zé Carlos "21", Dino, Marcos "Pé
de Cabra", Paulo de Tarso (de chapéu), Giovanetti,
Gabriel "Bidé", Laurinho e Zé Eugênio |
CONTATO
- Acredita na tese que, depois desta crise, a direita vai se instalar
no poder por pelo menos 30 anos?
Paulo de Tarso – Qual direita? Existe no mundo moderno uma
direita muito civilizada e que tem participado de reformas importantes.
Basta dar uma olhada nos países nórdicos, por exemplo.
Existe também uma direita rançosa, racista, xenófoba,
que me dá até arrepios só de pensar. Le Pen,
na França, e Bush, nos EUA, são exemplos para ninguém
botar defeito. No Brasil, os militares deixaram de ser uma ameaça
e a direita mais esquizofrênica, como Maluf, está mais
desmoralizada do que nota de R$3,00.
CONTATO
- Em que pé está a investigação sobre
a agressão a você feita pelos funcionários da
prefeitura no lixão? A prefeitura tomou alguma providência?
Paulo de Tarso – Esse episódio revela mais uma identidade
de Peixoto com Lula. Por ignorância ou má fé,
pouco importa, os dois desprezam ou ignoram a história, pouco
importa, também. Empurram para baixo do tapete a sujeira
que poderá provocar uma alergia, um resfriado e transformar-se
em uma perigosa e incurável doença. No caso da agressão
que sofri, Peixoto não teve a hombridade – veja bem,
não falo sequer de medidas administrativas que não
foram tomadas – de se pronunciar a respeito. O prefeito não
abriu a boca. Como continuo a acreditar que História é
uma ciência, mais dia menos dia, ele terá que arcar
com as conseqüências. É só questão
de tempo.
CONTATO - Quais lembranças de amigos, causos e histórias
você guarda com mais carinho da sua juventude em Taubaté?
Paulo de Tarso – São tantos que seria preciso muito
mais espaço do que o disponível. Teria de começar
pelo roubo de frutas da chácara do frades, onde hoje fica
o bairro de Santa Clara, passando pelo Bosque (praça da Eletro),
histórias do Estadão, da fanfarra, da equipe de natação,
das namoradas, das serenatas, carnavais e bailes de carnaval no
TCC, viagens e muito mais. Repare que não tem nenhum fato
político. Aprendi que amizade não se mistura com política
e ideologia. Cresci com grandes e eternos amigos tanto à
direita e como à esquerda. Robertinho Dias sempre foi direitista
e conservador. Freqüentei sua casa até às vésperas
de sua prematura morte há cerca de dois anos. Wilson Silva,
assassinado pela ditadura militar e considerado desaparecido até
hoje, morreu meu amigo. Por isso mesmo, parafraseando Raulzito,
prefiro preservar minhas amizades do que a certeza de objetivos
políticos. As amizades são eternas em qualquer plano
de vida no seu mais amplo sentido.
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