Havia
resolvido escrever sobre esse medíocre episódio
da edição de uma obra (?) preten-siosa
que se diz histórica e que pretendia em cada
habitante de Taubaté um desinformado do mesmo
nível dos autores dessa molecagem de um milhão
e meio de reais..
Mudei de idéia quando vi a impressionante massa
de brasileiros orquestrados em torno da seleção
brasileira de futebol, todos uniformizados, musicais,
eufóricos com a festa que ainda não começara.
Fiquei feliz por ter o privilégio de ver o espetáculo
dos habitantes de Brasília berrando suas alegrias,
justo eles, moradores da infausta capital de nossa comba-lida
república. Ignoravam o palácio do Planalto,
Congresso Nacional, tudo ali ao lado do estádio
Mané Garrincha, onde o povo se reunia para coisa
mais séria do que o governo instalado a metros
dali.
Deu gosto ver o povo brasileiro exibindo a limpeza de
sua alma futebolística, cantando sua fé
e mostrando a alegria inabalável de nossa gente,
em que pesem o mar de lama e des-graça que nos
cobrem de acanhamento.
Fui às lágrimas, tocado pela cena dourada
e linda do estádio tomado de gente com o sor-riso
em todas as faces, esquecendo-se de que temos governo
e o governo que temos é indigno dessa gente alegre,
apesar desses atores de cirquinho mambembe que nos asso-la.
Impossível ficar indiferente ao cenário
e seus milhares de significados.
Louva-se com justiça o povo brasileiro, a começar
pelo elogio maior, aquele registrado por Darcy Ribeiro,
que viu no país uma nova Roma, enriquecida de
nossas misturas raciais. No que somos diferentes de
todos os outros povos de nosso planeta? Nos Estados
Unidos da América, em N. Orleans, somos o povo
de lá que foi derrotado pelo furacão e
pelo pre-sidente daquele país, lento para socorrer
o povo negro que não fugiu de seu lugar. Esse
povo nos deu o jazz mais esfuziante, tão amigo
do alarido feliz da festa brasileira de hoje, em Brasília.
Como nós, eles são povo e povo é,
no fundo, o mesmo em toda parte.
Quero ficar com as irresistíveis emoções
que a alegria do povo me deu e esquecer o livro de história
mal contada de Taubaté, no qual nem mesmo a boa
velhinha, agora enterrada, acreditaria.
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