Quinta-feira,
25 de agosto. O dia corria normalmente na Talent, em São
Paulo, quando um acontecimento acelera o já frenético
ritmo da agência.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República,
em um discurso defendendo o Ministro da Fazenda, Antônio Palocci,
declarou seu otimismo com a política econômica, e reconheceu
que, apesar de não trazer um resultado fantástico
neste ano, sua tendência era melhorar no futuro.
No entanto, a questão foi a expressão que Lula utilizou:
em vez de usar um adjetivo qualquer, o presidente disse que o resultado
econômico "não seria uma Brastemp", em referência
à famosa marca de eletrodomésticos e a um bordão
criado numa campanha de 13 anos atrás, pela própria
Talent.
Ainda com a conta da Brastemp, a agência agiu rápido
para aproveitar a oportunidade da campanha que acabara de cair em
seu colo. Para isso, a dupla de criação, Luiz Fleury
e Paulo Januário, selecionou as manchetes de dois grandes
jornais brasileiros, O Globo e Folha de S.Paulo, as quais destacavam
a declaração de Lula.
"A
intenção, ao usar manchetes jornalísticas,
foi causar impacto. Não fomos nós que dissemos ou
lembramos de nada, mas o próprio presidente. E os jornais
registraram isso", explica Fleury.
A propaganda, que nem parece anúncio, é conhecida
no meio publicitário como "anúncio de oportunidade".
Esse tipo de anúncio ocorre quando alguma situação,
que geralmente não tem nada a ver com o produto, faz com
que as pessoas se lembrem dele ou o associem de alguma forma.
Para
tanto, o anúncio deve ser produzido a toque de caixa, enquanto
as pessoas ainda têm condições de se lembrar
da situação à qual ele se refere. Foi o caso
do anúncio feito pela Talent: a declaração
de Lula foi feita no dia 25; no dia 26, ela estampava os jornais;
e no dia 27 também, mas dessa vez dentro do anúncio
da Brastemp.
No caso específico da Brastemp, o espantoso é o fato
de um bordão com mais de 10 anos de existência ainda
fazer parte do vocabulário das pessoas. "Falar que algo
'não é uma Brastemp' entrou na linguagem popular,
virou expressão. Isso é um orgulho para a agência",
diz Fleury.
A longevidade da campanha da Brastemp é realmente um fator
impressionante. Na época de sua criação, ela
deu tão certo que gerou variáveis, utilizadas até
hoje. A poltrona recebeu, além dos dois amigos do comercial
original, casais, pais e filhos e famosos.
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