Por Oscar Sachs

Algo de podre no Reino da Dinamarca (Shakespeare)
Empresário do ramo editorial, aposentado pela Volkswagen onde foi diretor, editor-chefe de publicação nacional, desabafa sua tristeza diante da compra, sem licitação, de 70.000 exemplares, sem licitação, pelo valor de R$ 1.575.000,00 de um livro que reproduz com penduricalhos a obra da professora Maria Morgado de Abreu.

Acabo de ler o livro sobre a história de Taubaté, editado por uma editora de fora da cidade, com coordenação do prof. Prado, (que foi professor de meus filhos e sobre quem só ouço elogios), e não posso fugir a alguns comentários.
Primeiro, o livro está lindo, bem impresso, as reproduções dos ilustradores setecentistas e oitocentistas estão perfeitas, a qualidade do serviço gráfico é excelente, o papel é ótimo, até aí tudo bem. Lamentável, sem dúvida, o uso político-propagandista.
Segundo, a informação, não desmentida, de que foram pagos, sem licitação, um milhão e meio de reais pela impressão dos 70.000 livros, é assombrosa! É uma afronta a quem recolhe, como eu, difíceis reais sugados de minha aposentadoria do INSS para pagar os IPTUs da prefeitura. Um e meio milhão de reais, mais umas quireras, é dinheiro pra mais de metro! Como trabalho no meio editorial, andei fazendo perguntas aqui e ali e cheguei à conclusão de que metade desse dinheiro pagaria toda a edição, tranqüilamente. E poderia ser feita em Taubaté, com o dinheiro circulando e gerando empregos por aqui mesmo. Um milhão e meio! É muita desfaçatez, é a certeza da impunidade, é a certeza de que somos todos idiotas, que não sabemos fazer contas, que somos analfabetos funcionais.
Faço um apelo à ilustre Promotoria Pública para que investigue, que levante orçamentos, que vá atrás dos cheques pagos à tal editora, que ponha a Polícia Federal atrás de a quem essa editora fez pagamentos, na palavra da moda, não contabilizados. Estou sendo claro?
Em terceiro lugar, e aí me dói o coração, pois participei, há poucos meses, dando um crédito que hoje sei indevido à nova administração, de uma reunião onde se discutiu, com o responsável pelos museus de Taubaté, a re-edição do trabalho da professora Maria Morgado sobre a história de Taubaté, edição esgotada, que merecia um aggiornamento em termos de imagens, de fotos e uma melhor editoração, que oferecemos gratuitamente, em homenagem à essa grande intelectual de nossa terra.
Hoje, avalio que havia um grande cinismo naquela reunião, pois já se preparava o livro em causa, que, sem dúvida, toma por base o trabalho da professora Maria Morgado. Talvez pela rapidez que o “negócio” exigia, acrescenta-se aqui e ali um penduricalho qualquer, modernizam-se as ilustrações, enfeita-se mais, enfiam-se as propagandas políticas proibidas em lei, mas é o livro da professora! Salta aos olhos.
Uma análise mais cuidadosa, um cotejar de textos, uma avaliação do que pode ser subtraído de uma obra, e em que porcentagem, com base na lei de direitos autorais, realmente precisaria ser objeto de especialistas.
O apelo que faço ao Ministério Público é que faça este trabalho, antes que, mais uma vez, Taubaté apareça para o Brasil como uma terra de velhinhas que acreditam em tudo e de idiotas crentes de que se prestou um serviço à educação com este livro infeliz.

 

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