O
oitavo cadáver de pessoas envolvidas com o assassinato de
Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, em janeiro de 2002,
acaba de aparecer. Trata-se do corpo do médico legista Carlos
Delmonte Printes que foi o primeiro a afirmar, categoricamente,
que Celso havia sido barbaramente torturado. Naquela ocasião,
o advogado e deputado federal Luis Eduardo Greenhalgh, a serviço
do Partido dos Trabalhadores (PT), afirmava exatamente o oposto:
insistia que se tratava de um crime comum e que não havia
qualquer indício de que teria ocorrido tortura.
Delmonte, um profissional com mais de 20 anos de carreira, examinara
minuciosamente o cadáver antes de emitir seu parecer que
ficaria engavetado por longo período nos escaninhos da burocracia
policial a pedido de dirigentes e parlamentares petistas junto ao
governador Geraldo Alckmin. Estranho? Não. Apenas troca de
favores, muito comum no mundo da política. O próprio
legista revelaria mais tarde as pressões que teria sofrido
para que mudasse suas conclusões.
Delmonte costumava trabalhar de madrugada num escritório
fora de sua casa. Pessoas têm estranhezas. Mas e a carta deixada
com instruções à família, escrita na
segunda-feira? Pressentiu a morte? Miocardite? Delmonte era médico.
Entendia de vida. Legista, entendia mais ainda de morte. Não
há sinais de violência.
Espero que o governador acabe com os tais acordos políticos
e faça com que as investigações prossigam.
À Polícia de São Paulo seria prudente não
se precipitar como já o fez o delegado que afirmou que tudo
leva a crer que se trata de morte natural. Falou demais. Sem autópsia,
o próprio Delmonte recomendaria silêncio a respeito.
Algumas pessoas que se sabem condenadas por doença ou ameaçadas
deixam cartas. Geralmente, avisam alguém que estão
guardadas em tal lugar sob o compromisso de que só sejam
abertas depois da morte. Seu procedimento foi incomum.
Para muitos dos protagonistas desta estranha história, o
fim de Delmonte, mesmo que tenha sido acidental, caiu do céu.
Já morreram: o garçon que foi o último homem
que, fora Sérgio, “o Sombra”, viu Celso com vida;
morreu o agente funerário Iran Moraes Rédua, o primeiro
a ter reconhecido o cadáver; morreu o bandido que organizou
o seu seqüestro, e agora morre o legista cuja perícia
punha em questão a tese do crime comum. São oito misteriosas
mortes ao todo, incluindo a do ex-prefeito.
Em 2002, caso não tivesse sido assassinado, Daniel assumiria
o papel que depois foi assumido por Antônio Palocci. E este
o teria substituído porque conheceria o caminho das pedras.
Portanto, o drama envolve poder, muito dinheiro e até mesmo
misteriosas relações afetivas. Trata-se de nitroglicerina
pura. Principalmente quando os efeitos deixam de ser colaterais
e começam a atingir as ante-salas do Palácio do Governo,
em Brasília.
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