Por Paulo de Tarso Venceslau e Marlon
Maciel Leme
Exclusivo
Prefeito
Roberto Peixoto abre o coração
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Muita
paciência e perseverança. Esses dois ingredientes,
somados à credibilidade de CONTATO, foram determinantes
para convencer o prefeito Roberto Peixoto (PSDB) a dar
essa segunda entrevista com exclusividade. A primeira
foi em agosto de 2003, com o então pré-candidato
a prefeito. Naquela oportunidade, descrevi Peixoto como
“um político atípico, que
acredita que ainda é possível selar um acordo
em cima de um fio de bigode (...) é um poço
de sinceridade. Uma virtude que pode ser a fonte de muita
dor de cabeça. Ele acredita piamente que o político
Bernardo Ortiz não roerá a corda que amarra
o acordo que lhe assegura o apoio para sua candidatura
a prefeito. “Olho no olho” é a expressão
empregada por Roberto Peixoto para explicar como foi seu
acordo com o (então) prefeito. Foi além.
O “acordo foi selado em cima de um fio do bigode”.
Olhei no fundo dos seus olhos. Não havia o menor
sinal de que aquela afirmação fizesse parte
de qualquer encenação (...) fui convencido
pela sinceridade simples (ingênua?) e direta de
um político que não quer atrito nem com
os seus opositores mais ferozes. Por outro, não
consegui me abstrair do jogador frio (Bernardo) que comanda
silenciosamente o jogo da sucessão diretamente
do Palácio do Bom Conselho. Cumprirá o acordo
firmado com seu vice? Por via das dúvidas, consegui
arrancar de Peixotinho, olho no olho, que ele dará
uma entrevista exclusiva ao Contato, em 2004, assim que
os nomes forem definitivamente registrados como candidatos
no Tribunal Regional Eleitoral. A partir de hoje, torço
para que a próxima entrevista seja com o candidato
oficial do PSDB”.
A entrevista concedida durante cerca de 4 horas, na manhã
de quarta-feira, 19, será publicada em duas edições
de CONTATO. Acompanhe os melhores momentos da primeira
parte.
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CONTATO
– Havia alguma cláusula no acordo que garantiu sua
indicação a prefeito que previa um possível
apoio do Peixoto à candidatura do Ortiz Junior, em 2008?
Peixoto – Não. Não existia acordo algum.
CONTATO
– Mas Bernardo deixa entender isso. Que o sr. teria algum
compromisso com ele na sua sucessão ou reeleição.
Peixoto – Não. Na realidade, o ex-prefeito evidentemente
me deu apoio assim como eu dei apoio para ele também, quando
fui vice dele, em 2000.
CONTATO
– Seu apoio teria sido determinante para a eleição
dele [Bernardo Ortiz]?
Peixoto – Eu o ajudei numa oportunidade e ele me ajudou em
outra oportunidade. Acredito que a cidade deva ter ganhado com isso
porque ela cresceu muito nos últimos anos, e continua crescendo.
CONTATO
– O sr. acredita que ele não saiu candidato para cumprir
o acordo contigo ou porque ele simplesmente renega a reeleição?
Peixoto – Acredito, com toda sinceridade, que não tinha
candidato forte dentro do próprio partido para vencer a eleição.
“Não
tinha candidato forte dentro do próprio partido para vencer
a eleição”
CONTATO
– Mas tinha ele (Bernardo)?
Peixoto – Tinha, mas ele não queria mais. Ele deixou
isso muito claro. Muita gente não acreditava que ele não
seria candidato. Todas as vezes que conversávamos, ele dizia
que não seria candidato. E eu acreditava nele porque aprendi
a conhecê-lo durante o tempo que fui vice dele.
CONTATO
– O sr. considera que a partir do momento em que Bernardo
lhe deu apoio praticamente zerou o acordo? Foi isso?
Peixoto – Exatamente. Acredito que a cidade ganhou muito com
isso. Porque a cidade teve um político muito forte que é
o ex-prefeito Bernardo Ortiz e que fez muito pela cidade. E eu que
vinha numa ascendência.
CONTATO
– O acordo que teria havido, como o sr. relatou aqui, se encerrou
nesse processo eleitoral?
Peixoto – O que eu cheguei a dizer ao ex-prefeito foi que
o filho dele, o Júnior, tem futuro político e que
um dia poderia ser prefeito de Taubaté. O filho dele tem
futuro político, é muito inteligente, dinâmico.
CONTATO
– O sr. assinou algum acordo?
Peixoto – Não, em hipótese alguma. Não
assinei acordo algum para que ele ficasse no meu lugar na próxima
eleição. Não existe acordo algum em relação
a minha sucessão ou reeleição.
“Não existe acordo algum em relação a
minha sucessão ou reeleição”
CONTATO
– Haveria algum compromisso para apóia-lo numa circunstância
em que ele seja candidato?
Peixoto – Não existe nada disso porque, na realidade,
não rompi corda com ninguém. Não deixei de
apoiar ninguém. Não briguei com ninguém. Não
fiz desabafo algum contra ex-prefeito. Não contra-ataquei,
pelo contrário, ouvi muitas críticas, preferi me silenciar,
preferi fazer meu trabalho com ações porque ficar
retrucando não é o campo que eu gosto.
CONTATO
– É importante frisar porque o Bernardo explora esse
assunto toda vez que vai para a rádio ou jornal. Ele fala
desse acordo e que o sr. não vai cumprir.
Peixoto – Talvez tenha havido um pequeno mal entendido quando
eu disse que o filho dele é inteligente, dinâmico e
que poderá vir a ser prefeito de Taubaté.
“Talvez tenha havido um pequeno mal entendido
quando disse que o filho dele é inteligente”
CONTATO
– O que difere a crise hoje vivida e as ocorridas com o Salvador
[Khuriyeh] e com o Antônio Mário? É igual ou
é diferente?
Peixoto – Salvador e o Antônio Mário trabalharam
na administração junto com o ex-prefeito Bernardo
Ortiz. Depois houve aquela desavença que todos vocês
conhecem entre eles. No meu caso, se dependesse do Roberto Peixoto,
jamais, haveria desavença. Aliás, se você procurar
em algum jornal ou alguma emissora de rádio ou televisão,
você não vai achar o atual prefeito Roberto Peixoto
fazendo qualquer crítica ao ex-prefeito. Pelo contrário,
só tenho elogios a ele, porque fui vice dele. Minha postura
vai ser sempre assim. Eu respondo com ações, com trabalho
e consigo dar alguns exemplos aos nossos diretores. Divido a minha
administração em três fatores: 1) continuar
todos os projetos do ex-prefeito; 2) dar corpo às idéias
do ex-prefeito que ficaram no papel, não porque ele não
quisesse fazer, mas porque não teve tempo de fazer, eu estou
fazendo; e 3) realizar os meus projetos. Mas eu nunca briguei com
ele (Bernardo). Foi um grande prefeito, possivelmente o maior da
história de Taubaté, merece uma estátua. Eu
tive a honra de ter sido vice dele, mas agora o prefeito se chama
Roberto Peixoto, e eu quero apenas licença para trabalhar.
“(Bernardo) Foi um grande prefeito, possivelmente o maior
da história de Taubaté (...) agora o prefeito se chama
Roberto Peixoto, e eu quero apenas licença para trabalhar”
CONTATO
– O sr. foi pego de surpresa com as críticas recebidas?
Peixoto – Acredito que tudo começou quando indiquei
dois diretores, o da Saúde (Pedro Henrique Silveiras) e o
diretor de Trânsito (Carlos Eugênio Monteclaro César)
que são pessoas que o ex-prefeito não gosta. Quando
eu os indiquei, e aí começou. Quando saiu na mídia,
abri os jornais e lá estavam as primeiras críticas
a meu respeito por ter nomeado Dr. Pedro Henrique Silveiras, na
saúde e o diretor de Transito que já tinha trabalhado
com Antônio Mario e com Salvador, e tem uma grande experiência.
CONTATO
– Esses dois nomes foram o ponto da discórdia?
Peixoto – Foram.
CONTATO
– O sr. já teve a oportunidade de conversar com o ex-prefeito
sobre esses nomes especificamente?
Peixoto – Tive. Dialogamos e ele reclamou para mim não
só desses nomes, como de outros nomes também. Mas
eu disse a ele que confiava nessas pessoas e, na oportunidade, ainda
disse a ele [Bernardo] que eu não tinha dispensado ninguém
da prefeitura. Eu fiz remanejamento aqui dentro. Vou dar um exemplo:
o Dr. Paulo Pereira. Hoje ele é gerente, toma conta das nossas
policlínicas. Quer dizer, ele era o diretor de Saúde,
e hoje é o gerente das policlínicas.
CONTATO
– Se havia um programa anterior, o que diferenciaria o teu
programa com o do Bernardo?
Peixoto – Acredito que eu começo pelo servidor municipal
que são aquelas pessoas que carregam o piano. São
pessoas que precisavam de uma proximidade maior com o prefeito.
Eu faço questão de visitar os vários departamentos
da prefeitura pelo menos uma vez por semana.
CONTATO
– Qual é o eixo do programa do Peixoto? E o que mudou
em relação ao eixo do programa do Bernardo?
Peixoto – Vou dar um exemplo. Duas vezes por mês, coloco
todos os engenheiros e técnicos dentro de um micro ônibus
e vamos correr os bairros: é a prefeitura itinerante. Saímos
pelos bairros e vamos para a área rural também. Levo
nossos técnicos e mostro a eles o que é preciso fazer.
Só que ao invés de ver cinco ou seis assuntos, acabamos
vendo trinta. Mas, a grande diferença é que um é
mais centralizador [Bernardo Ortiz] e outro é mais descentralizador.
Eu sou mais descentralizador. Mas não estou dizendo com isso
que estou certo. Quero dizer que o mundo é assim hoje.
“A
grande diferença é que um é mais centralizador
e o outro é mais descentralizador”
CONTATO
– Sua gestão seria uma gestão mais democrática
ou é exagero da minha parte?
Peixoto – Acredito que o ex-prefeito não deixava de
ser democrático, ele tinha a maneira dele de ser democrático.
Ele era democrático também. Ele é aberto, mas
à maneira dele. Acredito que a diferença talvez seja
que eu passe um pouco mais de calma. Acredito que hoje é
preciso um governante que tenha tranqüilidade, paz, equilíbrio,
postura e que não brigue. Acredito que eu tenho mais respeito
com as pessoas. Se você chegar para mim falando mal de alguém,
eu vou ouvir, mas também vou querer ouvir o outro que foi
criticado. Acredito que aí está a balança:
gosto de ouvir os dois lados.
“O
ex-prefeito não deixava de ser democrático, ele tinha
a maneira dele de ser democrático”
CONTATO
– O governo Peixoto tem o norte, tem o eixo e um programa
definidos?
Peixoto – Totalmente definidos. Nossos trabalhos continuam,
não param. Reúno todas as semanas nossos diretores,
eles sabem o que o prefeito quer que seja feito. Não quero
que os diretores venham aqui toda hora para ficar me pedindo coisas,
ficar perguntando se pode fazer. Já descentralizei. Eles
têm que fazer. Prefiro que alguém erre por fazer do
que errar por medo ou omissão.
CONTATO
– O sr. mantém o compromisso de transformar os departamentos
em secretarias?
Peixoto – Continua, mas tem um porém. O esporte, por
exemplo, antigamente era DECE, Departamento de Educação,
Cultura e Esporte. Como ainda não criei secretarias, e esse
ano não dava mais porque o orçamento já está
pronto, criei o Departamento de Esportes, e o DECE virou DEC. Estou
investindo nisso. E também criei o departamento de segurança
que antes não tinha. Ano que vem estamos pensando em criar
as secretarias.
CONTATO
– No começo do seu governo houve uma série de
denúncias que devem tê-lo incomodado muito. Começou
com a compra de asfalto a quente, cujo edital tinha uma especificação
que exigia que fosse proveniente de um tipo de usina que só
tinha um fornecedor, no Rio Grande do Sul. Depois teve a questão
dos livros, alguns serviços contratados para o Campeonato
Mundial de Fanfarras, alguns projetos. Todo governo está
sujeito a receber críticas. Com foi isso para o sr.?
Peixoto – Na realidade, quando você está em inicio
de governo, uma minoria política, uma pequena facção
de uma esquerda festiva começou querer prejudicar nosso governo.
E não fica nisso não, também teve a municipalização
das escolas que não foi dito aí. Eles estavam subestimando
o prefeito, talvez achando que o Roberto não pudesse ser
um bom prefeito para Taubaté.
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