Dois
episódios que marcaram nossa história recente: o brutal
assassinato do advogado José Ismael Pedrosa, ex-diretor da
Casa de Custódia de Taubaté e da Casa de Detenção,
dois anos depois que se aposentou, após 45 anos de trabalho
no sistema prisional, e a confecção e distribuição
de cartazes que retratam, por meio de montagem, o senador Jorge
Bornhausen (PFL-SC) como um nazista.
Embora tenham ocorrido em espaços diferentes e se refiram
a episódios de natureza igualmente distintas, os mesmos podem
anunciar situações preocupantes. O assassinato de
Pedrosa pode representar uma forma de intimidar nossas autoridades
responsáveis pela repressão que podem levar à
prisão e à condenação perigosos bandidos
que há muito já perderam as noções mais
elementares de civilidade.
O discurso sociológico barato que reduz às causas
de violência aos desníveis sociais não pode
prevalecer num momento como esse. O Brasil, sem dúvida, é
um dos países que apresentam os maiores indicadores de desigualdade
social. Isso é inegável e inquestionável. Porém,
é inaceitável que essa triste realidade seja usada
por muita gente para “explicar” as causas de crimes
como esse que tirou a vida de Ismael Pedrosa.
O Brasil tem milhões de exemplos de gente pobre e miserável
que, longe de qualquer conformismo, colocam certos valores humanos
elementares acima dos problemas reais enfrentados. São esses
valores que distinguem a espécie humana de outros animais
que possuem predadores que os devoram dentro da lógica Darwiniana
da sobrevivência diante da seleção natural.
Se alguns seres humanos se comportam como animais, como tal têm
de ser tratados. Assassinar friamente um senhor de 70 anos de idade
ou seqüestrar sua filha ou até mesmo sua neta como desejavam
os bandidos do PCC, em 2001, são atitudes que não
encontram justificativas em nenhum lugar do planeta porque ameaçam
o convívio mais elementar entre seres pensantes.
Calar-se diante de um quadro extremamente ameaçador como
esse pode parecer que estamos pacificamente admitindo uma situação
inaceitável. Ao Estado republicano cabe a responsabilidade,
e para isso dispõe de recursos e legitimidade, de apurar
as responsabilidades, prender, condenar e garantir que os culpados
cumpram suas penas.
Em Brasília, a polícia federal tem mais uma missão.
Além da de prestar esclarecimentos à sociedade dos
avanços das investigações em curso sobre corrupção
no governo terá de descobrir quem é o responsável
pela confecção de cartazes que retratam, por meio
de montagem, o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) como um nazista.
Quem mandou fazer a peça? Quem imprimiu? Como foi paga a
encomenda? Quem colou os cartazes em muros de Brasília?
Goste-se ou não de Bornhausen — e ninguém precisa
concordar com o que ele diz nem considerar seu partido, o PFL, interessante
apenas porque o PT se mostrou um blefe como opção
ética e progressista —, é preciso evitar que
a política se torne arena de disputas baixas e perigosas.
Se os cartazes retratassem Lulas e Dirceus caracterizados de Stalin
ou Fidel Castro, é fácil imaginar o tipo de reação
“popular” que teríamos de enfrentar. Infelizmente,
alguns ingênuos insistem em não ver que o que estão
querendo
desmoralizar é o processo eleitoral de 2006.
O partido de Bornhausen é tão legítimo quanto
o PT. Fingir que a confecção e distribuição
se trata de um fato isolado é muito perigoso para a estabilidade
política e pode ameaçar nossa incipiente democracia.
Tão perigoso quanto admitir, do ponto de vista da segurança
mais elementar da espécie humana, que o assassinato de Pedroso
não passa de um episódio isolado.
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