Um sistema revolucionário
pode ter sido criado aqui em Taubaté por Zé Demétrio,
como é conhecido o escultor mais famoso da terra de Lobato.
Se aprovado, poderá ser solução para a transposição
das águas do Rio São Francisco.
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Zé
Demétrio não é o Leonardo da Vinci, aquele
pintor, escultor, cientista, engenheiro, físico e escritor
que viveu de 1452 a 1519 e que entre suas obras estão Mona
Lisa e Última Ceia.
Zé Demétrio é quase um caboclo. Gosta da vida
simples que vive num sítio à beira da via Dutra. Mas
esse artista tem obras espalhadas por muitas partes do Brasil. Aqui
em Taubaté, a estátua dos Bandeirantes erigida no
trevo da Dutra, no início da rodovia Osvaldo Cruz, por exemplo,
já provocou calorosas discussões. E pouca gente sabe
que Renato Teixeira, autor de Romaria, serviu de modelo para o escultor.
Além de artista, Zé Demétrio é inventor.
São tantas idéias que chamá-lo de Professor
Pardal não lhe causa qualquer espanto. O inventor fez questão
de mostrar em primeira mão para CONTATO sua penúltima
invenção. As longas décadas de sólida
amizade e a credibilidade do jornal foram determinantes nessa decisão.
Na manhã de quarta-feira, 9, nossa reportagem foi conhecer
o “Sistema de Transposição de Líquidos”,
cujo protótipo encontra-se funcionando no seu sítio.
A Obra
A invenção foi fruto do acaso, de um quase acidente.
Ao tentar transpor gasolina de um galão para outro, Demétrio
acabou engolindo parte do líquido. Inconformado, começou
a imaginar uma saída menos traumática. De repente,
cai-lhe a ficha: se ele enchesse metade da mangueira com a gasolina
do galão cheio, ela puxaria o restante da gasolina quando
colocada num nível inferior. Bingo!
Os mais apressados dirão que Arquimedes já havia descoberto
a teoria dos vasos comunicantes há mais de dois séculos
antes de Cristo. Em linguagem rebuscada da física, o princípio
de Arquimedes diz que todo objeto imerso num fluído sofre
a ação de uma força vertical dirigida para
cima, com intensidade igual ao peso do fluído deslocado.
É exatamente o que acontece quando o líquido contido
na metade da mangueira escorre e transfere, por gravidade, o líquido
do galão cheio para o galão vazio.
Com essa idéia na cabeça, Zé Demétrio
começou a pensar no seu uso no cotidiano de seu sítio.
Pesquisando, descobriu um veio de água num morro perto de
sua casa. Próximo passo, foi cavar uma enorme fossa para
represar o fio d’água. Represada a água, puxou
uma mangueira de ¾ de polegada que saía da pequena
lagoa, passava por cima de uma elevação de alguns
metros acima do nível da água e ia até sua
casa.
Mas não havia como puxar a água até a parte
mais alta para que, por gravidade, ela puxasse água da lagoa.
Ele descartava o uso de uma bomba que poderia fazer o trabalho inicial.
A solução, verdadeiro pulo do gato, foi abrir um respirador
na parte mais alta e vedar a ponta inferior. Com um pouco de trabalho
físico, ele transportou água até o respirador
e encheu a mangueira. Em seguida fechou o respirado e desceu para
abrir o registro na parte mais baixa. De repente, a água
jorrou com uma pressão que lançava água a alguns
metros de altura. Estava montado um sistema que não necessita
de energia elétrica e funciona, em tese, eternamente, ou
pelo menos pelo tempo de vida da mangueira.
O resto é variação sobre o tema. Ainda incrédulo
com o resultado, Zé Demétrio convidou alguns engenheiros
da Sabesp para avaliar sua “invenção”.
Comentário do engenheiro chefe: “A solução
estava sob nosso bigode e não vimos”.
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Planos
O convite à Sabesp, porém, só foi feito depois
que a “invenção” já se encontrava
devidamente registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial,
através de sua Delegacia de São Paulo.
Entusiasmado com os primeiros resultados, Demétrio começa
a fazer planos para transformar sua invenção em solução
para problemas históricos como a transposição
das águas do rio São Francisco, por exemplo. Ele tem
certeza que, com um investimento apenas simbólico, é
possível realizar a transposição sem que haja
perda do precioso líquido.
Nesse sentido, já enviou um dossiê ao bispo dom Luiz
Flávio Cappio, que recentemente fez uma greve de fome de
repercussão internacional para protestar contra o projeto
do governo federal para a transposição das águas
do São Francisco. Afinal, dom Cappio é de Guaratinguetá,
o que poderá ajudar na divulgação de sua proposta.
Outros passos deverão levá-lo ao Departamento de Obras
do município de São Paulo e ao ministro Ciro Gomes,
da Integração Nacional.
Se tudo der certo, Zé Demétrio, o Leonardo da Vinci
do Vale, vai mostrar ao mundo que existem soluções
que só dependem de criatividade. E isso, os artistas são
os que mais têm.
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