Um sistema revolucionário pode ter sido criado aqui em Taubaté por Zé Demétrio, como é conhecido o escultor mais famoso da terra de Lobato. Se aprovado, poderá ser solução para a transposição das águas do Rio São Francisco.

Texto e fotos
Paulo de Tarso Venceslau

paulodetarso@jornalcontato.com.br


Zé Demétrio não é o Leonardo da Vinci, aquele pintor, escultor, cientista, engenheiro, físico e escritor que viveu de 1452 a 1519 e que entre suas obras estão Mona Lisa e Última Ceia.
Zé Demétrio é quase um caboclo. Gosta da vida simples que vive num sítio à beira da via Dutra. Mas esse artista tem obras espalhadas por muitas partes do Brasil. Aqui em Taubaté, a estátua dos Bandeirantes erigida no trevo da Dutra, no início da rodovia Osvaldo Cruz, por exemplo, já provocou calorosas discussões. E pouca gente sabe que Renato Teixeira, autor de Romaria, serviu de modelo para o escultor.
Além de artista, Zé Demétrio é inventor. São tantas idéias que chamá-lo de Professor Pardal não lhe causa qualquer espanto. O inventor fez questão de mostrar em primeira mão para CONTATO sua penúltima invenção. As longas décadas de sólida amizade e a credibilidade do jornal foram determinantes nessa decisão. Na manhã de quarta-feira, 9, nossa reportagem foi conhecer o “Sistema de Transposição de Líquidos”, cujo protótipo encontra-se funcionando no seu sítio.

A Obra
A invenção foi fruto do acaso, de um quase acidente. Ao tentar transpor gasolina de um galão para outro, Demétrio acabou engolindo parte do líquido. Inconformado, começou a imaginar uma saída menos traumática. De repente, cai-lhe a ficha: se ele enchesse metade da mangueira com a gasolina do galão cheio, ela puxaria o restante da gasolina quando colocada num nível inferior. Bingo!
Os mais apressados dirão que Arquimedes já havia descoberto a teoria dos vasos comunicantes há mais de dois séculos antes de Cristo. Em linguagem rebuscada da física, o princípio de Arquimedes diz que todo objeto imerso num fluído sofre a ação de uma força vertical dirigida para cima, com intensidade igual ao peso do fluído deslocado. É exatamente o que acontece quando o líquido contido na metade da mangueira escorre e transfere, por gravidade, o líquido do galão cheio para o galão vazio.
Com essa idéia na cabeça, Zé Demétrio começou a pensar no seu uso no cotidiano de seu sítio. Pesquisando, descobriu um veio de água num morro perto de sua casa. Próximo passo, foi cavar uma enorme fossa para represar o fio d’água. Represada a água, puxou uma mangueira de ¾ de polegada que saía da pequena lagoa, passava por cima de uma elevação de alguns metros acima do nível da água e ia até sua casa.
Mas não havia como puxar a água até a parte mais alta para que, por gravidade, ela puxasse água da lagoa. Ele descartava o uso de uma bomba que poderia fazer o trabalho inicial. A solução, verdadeiro pulo do gato, foi abrir um respirador na parte mais alta e vedar a ponta inferior. Com um pouco de trabalho físico, ele transportou água até o respirador e encheu a mangueira. Em seguida fechou o respirado e desceu para abrir o registro na parte mais baixa. De repente, a água jorrou com uma pressão que lançava água a alguns metros de altura. Estava montado um sistema que não necessita de energia elétrica e funciona, em tese, eternamente, ou pelo menos pelo tempo de vida da mangueira.
O resto é variação sobre o tema. Ainda incrédulo com o resultado, Zé Demétrio convidou alguns engenheiros da Sabesp para avaliar sua “invenção”. Comentário do engenheiro chefe: “A solução estava sob nosso bigode e não vimos”.

Planos
O convite à Sabesp, porém, só foi feito depois que a “invenção” já se encontrava devidamente registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, através de sua Delegacia de São Paulo.
Entusiasmado com os primeiros resultados, Demétrio começa a fazer planos para transformar sua invenção em solução para problemas históricos como a transposição das águas do rio São Francisco, por exemplo. Ele tem certeza que, com um investimento apenas simbólico, é possível realizar a transposição sem que haja perda do precioso líquido.
Nesse sentido, já enviou um dossiê ao bispo dom Luiz Flávio Cappio, que recentemente fez uma greve de fome de repercussão internacional para protestar contra o projeto do governo federal para a transposição das águas do São Francisco. Afinal, dom Cappio é de Guaratinguetá, o que poderá ajudar na divulgação de sua proposta.
Outros passos deverão levá-lo ao Departamento de Obras do município de São Paulo e ao ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional.
Se tudo der certo, Zé Demétrio, o Leonardo da Vinci do Vale, vai mostrar ao mundo que existem soluções que só dependem de criatividade. E isso, os artistas são os que mais têm.

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