O
mais atuante historiador de Taubaté, não por acaso
o administrador que separou a história da cidade em antes
e depois dele, caiu em gargalhadas quando leu o prefácio
escrito pelo ilustre alcaide no famigerado livro sobre a história
de Taubaté, “comprado” por um milhão,
quinhentos mil e algumas quireras de reais: “Isso nunca foi
escrito por ele!” (apud O Valeparaibano).
Realmente, nosso preclaro primeiro mandatário não
é dotado de luzes intelectuais para tal empreendimento. Aí
houve um ghost writer, um “escritor fantasma”, aqueles
que vendem, às vezes honestamente, sua pena para a glória
daqueles que estão por cima da onda. Juscelino teve seu ghost
writer em Augusto Frederico Schmidt, de Jango diziam que era Darci
Ribeiro, se você ler os discursos dos generais da ditadura
certamente concluirá que foram muitos os que emprestaram
seus conhecimentos, seu intelecto, sua pena para aqueles olvidáveis,
que, na dúvida sobre como escrever sexta-feita (com esse
ou com xis?), marcavam a reunião para segunda-feira.
Eu acabo de ler um livro fantástico sobre a II Guerra Mundial,
escrito por Winston Churchill, que nunca precisou de ghost writer,
foi até Nobel de Literatura. Confesso também que aprecio
muito ler “A Guerra da Gália”, de Júlio
César (e me deleito mais ainda com as histórias de
Asterix, na aldeia irredutível), sem dúvida outro
que não precisou que alguém escrevesse por ele. Mas
aí estamos falando de vultos da história, pessoas
de caráter, não de postes eleitos para serem outros
iscariotes (aliás, o terceiro).
Mas ser ghost writer pode até ser uma ocupação
legítima, rende aí alguns trocados para intelectuais
sem arrimo, atende mandatários que não têm tempo,
tão ocupados estão com o governo ou com as viagens
no aerolula.
Agora, coisa feia, coisa degradante para nossa Taubaté, é
o saqueio, o furto, o assalto, o botim feito com a obra da professora
Maria Morgado de Abreu, de seus livros, resultados de pesquisas,
de estudos, de muito trabalho, para dar recheio ao livro “comprado”
pelo tal Departamento de Cultura (mas, afinal, o que eles compraram?)
Não só com a obra da professora, mas vejam que os
painéis do Museu de História, feitos pelo artista
prof. Ernani, com base em croquis do injustamente esquecido prof.
Camilher Florençano, com textos da professora Morgado, aparecem
ali inteiramente, sem qualquer indicação de autoria,
sem qualquer referência, no mais reles desprezo com a obra
artística e intelectual de terceiros.
Em meu artigo anterior, disse que tinha lido a famigerada edição
do “Taubaté cidade educação, etc. etc.”,
em diagonal, mas sentia claramente que os textos da professora D.
Maria Morgado estavam ali, saltando aos olhos, sem créditos,
sem referências, sem aspas, apenas aquele introdutório
falando da “primeira-dama da historiografia taubateana”.
Hoje, resta provada a apropriação indébita
dos textos da querida professora. Para não cansar os leitores
(são mais de 50 inserções copiadas, “chupinhadas”,
surrupiadas, furtadas), vamos dar algumas aqui:
“Taubaté,
de núcleo irradiador de bandeirismo” (Maria
Morgado de Abreu) |
“Taubaté,
Cidade Educação, Cultura e Ciência”,
José Benedito Prado, Diretor DEC da PMT |
Pág.
9 – Taubaté, tradicional cidade do leste paulista,
desempenhou papel relevante na evolução histórica
e econômica do país. |
Pág.
5 – A cidade desempenhou papel relevante na evolução
histórica e econômica do país |
|
|
Vejam
agora a sutileza de pequenas modificações: |
No
ciclo do ouro, foi núcleo irradiador de bandeirismo e
no 2º Império, durante o surto cafeeiro do Vale
do Paraíba, destacou-se como o município de maior
produção de café em zona paulista. |
No
ciclo do ouro foi núcleo de partida do bandeirismo e
no Segundo Império, no auge da produção
cafeeira do Vale do Paraíba, foi destaque como o município
de maior produção de café em zona paulista. |
|
|
Mas
aos poucos a desfaçatez da cópia, pura e simples,
se impõe, naquilo que eu chamo de gilete-press, ou seja,
a reprodução tal e qual, na cara dura. Vejam só: |
Igrejas
coloniais e antigos solares permanecem testemunhando outras
eras ao lado de modernos edifícios. |
Igrejas
coloniais e antigos solares permanecem testemunhando outras
eras ao lado de modernos edifícios. |
Há mais de cinqüenta inserções de textos
da professora Maria Morgado na triste obra da Prefeitura, sem aspas,
sem indicações, sem referências, sem créditos.
Ao lado dessas, há outras, chupinhando outros autores que
tiveram trabalho com seus textos, suas pesquisas, suas obras infamemente
desrespeitadas. Todos esses plágios estão arrolados.
Infelizmente, ouço dizer que algumas pessoas aprovam a obra
por ser “muito bonita”. Sem dúvida, é.
As coleções de arte de Goebbels e Goering eram lindas,
maravilhosas, fantásticas, mas... roubadas.
|