Por Paulo de Tarso Venceslau
Paulo
Okamoto não fala o que sabe
Na terça-feira,
22, a CPI dos Bingos ouviu Paulo Okamoto, presidente do Sebrae,
e muy amigo do presidente Lula. O vazio e a ambigüidade das
respostas fizeram com que parlamentares oposicionistas sugerissem
que eu seja convocado, juntamente com Roberto Teixeira. Segundo
o Estadão, a convocação é por causa
de minha expulsão “do PT depois de denunciar extorsão
às prefeituras petistas de São José dos Campos,
Campinas, Santo André, Diadema e Piracicaba para fazer caixa
2 do PT”. E dizia ainda que “a empresa responsável
pela extorsão pertence a Teixeira, compadre do presidente
Lula”.
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Okamoto
era um funcionário burocrático da administração
da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, quando Lula desponta
como liderança sindical, marco inicial de uma carreira política
vitoriosa. Conhecedor das 4 operações elementares
de aritmética, logo se tornou um dos responsáveis
pelo controle das finanças. Pouca gente imagina o volume
de recursos do mundo todo que foi enviado para o “Fundo de
Greve”, de São Bernardo, controlado por Okamoto.
Ali consolidou a amizade e a confiança de Lula que perduram
até hoje. Na parte financeira Okamoto cuidava de pelo menos
duas grandes variantes: as finanças pessoais de Lula, que
incluía até o seu imposto de renda, e as informais
que eram tratadas sabe-se lá onde. E ali sempre residiu o
perigo.
Graças a isso tudo, Okamoto foi coordenador de finanças
de pelo menos duas das quatro campanhas presidenciais de Lula, depois
de ter sido presidente do Diretório Regional do PT, enfiado
goela abaixo pela República de São Bernardo, como
são chamados no PT os sindicalistas do ABC.
As conquistas de inúmeras prefeituras paulistas em 1992 transformaram
o então desempregado Paulo Okamoto – que já
não dispunha de qualquer cargo partidário, sindical
ou funcional – em coletor de recursos não contabilizados
para o Partido dos Trabalhadores.
Em 1993, por exemplo, esteve por várias vezes na prefeitura
de São José dos Campos para pedir a relação
de empresas fornecedoras com créditos para receber. Essa
informação foi dada pela própria então
prefeita Ângela Guadagnin à Comissão de Investigação
montada pelo próprio PT para apurar as denúncias que
eu fizera em uma longa entrevista ao Jornal da Tarde, em maio de
1997, quatro anos após denunciar os mesmos fatos a toda direção
do partido. O deputado Arlindo Chinaglia, então presidente
do PT paulista, afirma à mesma Comissão que Okamoto
não tinha cargo no Diretório estadual e que já
ouvira a respeito de finanças paralelas.
Até 2003, quando passou a fazer parte do governo de Lula,
Okamoto viveu de recursos públicos oriundos do Fundo Partidário,
gastos nos aparelhos montados como Instituto da Cidadania, Fundação
Florestan Fernandes etc. Quando não estava em um desses empregos
“públicos”, trabalhou na KVA, uma casa noturna
localizada no bairro de Pinheiros e cuja proprietária é
a mesma que hospedou, de graça, por muito tempo, a filha
de Lula, em Paris. Essa mesma pessoa emprestou por muitos anos um
apartamento na rua Casa Branca, nos Jardins, um dos bairros mais
sofisticados da capital paulista, para abrigar sindicalistas da
CUT e dirigentes petistas. Entre esses hóspedes, Okamoto
sempre se fez presente.
O estreito relacionamento entre Lula, Paulo Okamoto e Roberto Teixeira
me faz ter a certeza de que o dia em que a Justiça desvendar
pelo menos alguns dos negócios tratados entre eles, concluídos
ou não, a Nação Brasileira terá os primeiros
indícios da dimensão do que tem ocorrido nos bastidores
do governo e da nomenklatura petista.
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