CONTATO – Foi difícil sair do Taubaté no meio do campeonato?
Gilsinho
– Pesou um pouco. Queria ter terminado o campeonato porque tive dois vice-campeonatos [1998 e 2004] pelo Taubaté que não valeram o acesso à primeira divisão. Queria muito ajudar a subir o Taubaté e sair bem daqui e não tive essa chance. Mas tem uma hora que você precisa começar a pensar no lado profissional. O Taubaté também ganhou alguma coisa com a minha transferência. Foi bom para mim e também um negócio rentável para o Taubaté.

CONTATO – A idéia de ir para China foi amadurecendo aos poucos ou realmente houve assédio de empresários em 2004 durante o campeonato paulista da A-2? Na época, isso foi muito especulado...
Gilsinho
- Quando começou o campeonato 2004 eu já tinha proposta para jogar na China, mas acabou não se resolvendo. Daí, terminei o campeonato pelo Taubaté. Esse contanto voltou a se estabelecer em 2005 e resultou na minha ida.

CONTATO – E por que não deu certo na primeira tentativa?
Gilsinho
– Por causa de valores.

CONTATO – O Taubaté estava pedindo muito alto ou estavam oferecendo pouco?
Gilsinho
– Acho que o Taubaté estava pedindo muito.

CONTATO – O que determinou sua transferência?
Gilsinho
– Uma boa proposta [financeira] e a chance de tentar uma carreira internacional. Isso pesou bastante.

CONTATO – Dá para falar em números? O valor pago pelo seu passe...
Gislinho
– (risos) Existe uma briga no Taubaté por causa desse assunto. Me pediram para não falar disso. Mas foi algo muito bom, uma fatia boa.

CONTATO – Pediram?!...
Gilsinho
– É que no começo, quando saí, não cabia a mim e sim aos dirigentes falar do assunto.

CONTATO – Foi a MECA que pediu?
Gilsinho
– Na época era a MECA que estava respondendo pelo meu contrato. Eu tinha acabado de renovar com o Taubaté. Quando apareceu a proposta, o Toninho [da MECA] veio conversar comigo, me perguntou se realmente eu queria ir para China. E eu disse que, se fosse bom para o Taubaté e para mim, gostaria sim. Depois, o pessoal sentou para conversar e deu tudo certo.

CONTATO – Sua história no futebol chinês teve quatro momentos decisivos...
Gilsinho
– A primeira oportunidade que tive foi num jogo da Copa da China, antes de começar o campeonato. Os jogos eram contra times da segunda divisão. No primeiro jogo do campeonato, perdíamos de um a zero até os 45 minutos do segundo tempo. Fiz um gol aos 46 minutos e outro aos 47, o que permitiu que a gente passasse para a fase seguinte. Havia dois estrangeiros no time e só dois poderiam jogar contra o campeão do ano anterior na semana seguinte. O treinador achou melhor colocar um zagueiro e outro atacante, eu não joguei. A equipe empatou em zero a zero. No segundo jogo, a equipe perdeu de dois zero. Na terceira partida do campeonato o técnico me deu a chance contra um time grande que é o Beijing. Ganhamos de três a dois. Eu fiz dois gols. Depois disso, ganhamos sete partidas seguidas e eu fiz gol em todas elas. Foi ai que começou a dar certo. Durante a Copa, mandaram apenas os chineses do time para disputar um jogo fora de casa e perdemos de quatro a um no primeiro jogo. Na segunda partida, tínhamos que vencer com quatro gols de diferença. Conseguimos ganhar de quatro a zero. Fiz dois gols. E na semifinal, que foi contra o maior time da China, o Shandong, perdíamos de um a zero, em casa, e aos 40 minutos do segundo tempo fiz o gol da vitória que levou o jogo para prorrogação e vencemos nos pênaltis.

CONTATO – Você foi para um time da segunda divisão recém promovido. Qual era a mentalidade dos atletas chineses em relação a sua contratação?
Gilsinho
– Quando cheguei, fiquei assustado. A equipe vinha de vários amistosos antes da minha chegada. Era um time que tinha sido o último colocado do ano passado. E a meta do time era não ser rebaixado. Fui lá para querer vencer e pensei ‘caí num time que só pensa em perder’. Isso me assustou. Com o tempo a equipe colocou na cabeça que era possível vencer, que o time é grande... e as coisas começaram a dar certo. Hoje, a mentalidade é outra: eles querem brigar pelo título.

“Fui lá para querer vencer e pensei ‘caí num time que só pensa em perder’. Isso me assustou”

CONTATO – Quantos gols você marcou nessa temporada?
Gilsinho
– Em 26 partidas fiz 20 gols.

CONTATO – Você deve ter enfrentado dificuldades na fase de adaptação com idioma, relacionamento, alimentação...
Gilsinho
– Temos um tradutor que nos ajudou muito. Com a alimentação também tive dificuldades, mas depois acostumei. Lá tem grandes supermercados que facilitam um pouco. Mas fui preparado para tudo. Acho que foi rápida minha adaptação. Fiz muitas amizades com chineses no bairro onde moro. Eles sabiam que eu era jogador e vinham conversar.

CONTATO – Para torcida você é praticamente um pop star. Como encara isso?
Gilsinho
– É engraçado. Nunca vivi isso antes. Íamos ao shopping, por exemplo, aparecia alguém pedindo autógrafo e de repente tinha umas 30 pessoas parando, querendo tirar foto, conversar. Lá o reconhecimento é muito grande. No começo estranhei porque aqui [no Brasil] é normal. Mas sempre dou atenção, converso, tiro foto. Sempre tive paciência.

“Aparecia alguém pedindo autógrafo e de repente tinha umas 30 pessoas parando, querendo tirar foto, conversar”

CONTATO – Já enfrentou pressão da torcida chinesa?
Gilsinho
– Em nenhum momento. Houve uma fase que tive um probleminha com o novo treinador que havia entrado para substituir o antigo treinador. Mas os torcedores vinham me dizer que estavam do meu lado.

CONTATO – Qual foi o problema?
Gilsinho
– No futebol chinês também tem muita politicagem. Ficamos sabendo mais tarde que o treinador estava usando de má fé. Eu era o artilheiro do time, um dos artilheiros do campeonato, e fui sendo cortado. Isso aconteceu em cinco partidas. Jogava meio tempo, era substituído. Até que o presidente descobriu que o treinador estava me boicotando. Depois ele veio falar comigo, pedir desculpas. A torcida, a imprensa ficaram sabendo e saíram em minha defesa.

CONTATO – E como é o acompanhamento da imprensa?
Gilsinho
– A imprensa fica em cima, principalmente o jornal impresso. Lá o povo gosta mesmo de jornal impresso. Lêem tudo e só acreditam no que está no jornal. Lá tem uns cinco jornais esportivos e programas de televisão, mas a credibilidade é do jornal.

CONTATO – Você joga futebol há quanto tempo?
Gilsinho
– Desde criança. No Taubaté eu entrei em 1990, na época do técnico Cesário. Fui campeão mirim. Passei por todas as categorias de base ate chegar no profissional. Minha primeira partida pelo profissional foi em 1996. Joguei como lateral direito, lá em Presidente Prudente. Perdemos de um a zero.

CONTATO – Você começou num ano difícil para o Taubaté quando o time quase caiu para a quarta divisão. Como foi isso para você?
Gilsinho
– Quem acabou tirando o time do sufoco fomos nós jogadores, eu, Weber, o zagueiro Paulo Edson, Douglas, Rubão. Das últimas cinco partidas, tínhamos que ganhar quatro. E conseguimos.

CONTATO –Você se considera uma exceção?
Gilsinho
– Não digo exceção, mas é uma coisa muito difícil conseguir. Não pelo lado financeiro, mas por superar o desafio de ir jogar num país completamente desconhecido e ser vencedor. Nunca desisti. Existem tantos clubes no Brasil hoje em dia sem condição: não pagam os jogadores, deixam o atleta em dificuldade. Mas o jogador continua lá tentando o seu sonho, mesmo sabendo que a maioria não vai conseguir. Por tudo isso que também vivi me considero vencedor.

“Existem tantos clubes no Brasil sem condição: não pagam os jogadores, deixam o atleta em dificuldade. Mas o jogador continua lá tentando o seu sonho, mesmo sabendo que a maioria não vai conseguir”

CONTATO – Você também foi uma criança que queria ser jogador de futebol?
Gilsinho
- Desde criança quis ser jogador. Morava no Monjolinho, era um sítio longe, lá eu cresci com uma bola. Fui criado com uma bola. Meu pai também jogou bola. Um dia ele quebrou a perna e ficou sentado no sofá brincando de chutar a bola com a outra perna. Eu devia ter uns três anos.

“Desde criança quis ser jogador. Morava no Monjolinho, era um sítio longe, lá eu cresci com uma bola”

CONTATO – O que você fez para conquistar os chineses?
Gilsinho
– Muito trabalho, determinação e futebol. Eles gostam muito da minha velocidade, da forma como consigo sair da marcação. E dos gols. Uma coisa que chamou a atenção deles foi que eles achavam que minha característica não era de jogador brasileiro, mas de europeu.

CONTATO – Na sua opinião, qual o futuro do E.C.Taubaté?
Gilsinho
– Quero ver o Taubaté na primeira divisão. Espero que esse problema judicial se resolva o mais rápido possível. Já passou da hora, era para o time estar montado. Espero que o Taubaté volte ao lugar que merece, que a cidade merece. Espero que o Taubaté volte para a primeira divisão e que tenha uma equipe competitiva.

“Quero ver o Taubaté na primeira divisão. Espero que esse problema judicial se resolva o mais rápido possível. Já passou da hora, era para o time estar montado”

CONTATO – Como avalia essa disputa entre o Taubaté e a MECA?
Gilsinho
– Posso dizer que todos esses anos que passei no Taubaté, com a MECA ou outras empresas, comigo as coisas sempre foram acertadas direito. Não tenho nada do que reclamar. Não tenho o que falar mal. Comigo a MECA cumpriu seus compromissos. Não sei o que sobra para o Taubaté. Para o Taubaté com certeza às vezes não deve ser tão bom. Sei que muitos deixaram pendências, mas comigo não tenho o que falar.

“Comigo a MECA cumpriu seus compromissos. Não sei o que sobra para o Taubaté. Para o Taubaté com certeza às vezes não deve ser tão bom”

CONTATO – O Taubaté perde com isso?
Gilsinho
– Acho que sim. Se não fosse essa pendência era para o time estar treinando. Com certeza está atrapalhando muito. Quanto mais rápido isso for definido, melhor para o Taubaté. O campeonato começa em fevereiro. Ano passado, nessa época, já tínhamos feito 15 dias de pré-temporada. O Taubaté tem muito a perder com isso tudo.

CONTATO – As condições oferecidas aos juniores no Taubaté são adequadas? Qual sua opinião?
Gilsinho
– O Taubaté está tendo um bom planejamento, mas não é o ideal. Tem muitas equipes bem atrás disso. Muitos clubes montam time de futebol profissional sem ter as mínimas condições de ser amador. Isso ai está nivelando por baixo a situação do futebol.

“Muitos clubes montam time de futebol profissional sem ter as mínimas condições de ser amador. Isso ai está nivelando por baixo a situação do futebol”

CONTATO – Você acha que isso é resultado da Lei Pelé?
Gilsinho
– Acho que a Lei Pelé beneficiou o jogador renomado. Quem tem nome consegue mercado, mas quem está começando tem muito mais dificuldades.

CONTATO – O que falta para o Burrão?
Gilsinho
– O Taubaté ainda está tentando melhorar. Mas hoje temos os melhores juniores.

CONTATO – Qual sua opinião sobre os “cartolas”?
Gilsinho
– Têm pessoas honestas, mas têm aquelas que tentam se beneficiar. Os empresários têm os jogadores na mão e não mais o clube.

CONTATO – Como vavalia a presença da política no futebol?
Gilsinho
– É ruim. A política do já está numa fase ruim e ainda querem se meter no futebol... A política tem que procurar cuidar do interesse dela sem interferir no futebol.

CONTATO – E sobre a máfia do apito?
Gilsinho
– É triste. Até na China tem esses problemas de clubes que compram juízes. O caso Edílson foi repercutir na China. Todas as televisões falaram disso. É triste saber que os torcedores compram os ingressos para assistirem partidas “compradas”.

“O caso Edílson foi repercutir na China. Todas as televisões falaram disso. É triste saber que os torcedores compram os ingressos para assistirem partidas ‘compradas’”

CONTATO – Você já atuou em partidas apitadas por Edílson Pereira de Carvalho. Você chegou a desconfiar da postura dele em campo?
Gilsinho
– Em alguns jogos ele apitou bem. Nunca levantou suspeita. Não imaginava que ele poderia participar de um negócio como esse da máfia do apito.

CONTATO – Para encerrar: quais os sonhos e desilusões de um jogador de futebol?
Gilsinho
– O sonho é se tornar um jogador profissional e vencedor. Depois, é atuar em uma grande equipe e, se possível, atuar na seleção. Já a desilusão é a frustração de tentar ser um jogador e não conseguir. O começo sempre é muito difícil.

 



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