Por Pedro Venceslau

Jogo rápido com

Marco Coimbra, do Instituto Vox Populi

Marco Coimbra, um dos grandes estrategistas da campanha vitoriosa de Fernando Collor de Melo para presidente, em 1989, é sociólogo formado e com mestrado pela Universidade de Brasília e doutorado pela Universidade Manchester. Suas fortes ligações com Collor começaram desde que seu pai casou-se com a irmã mais velha do ex-presidente. Hoje, Coimbra é um dos três sócios do Instituto Vox Populi, grande nome das pesquisas eleitorais em nível nacional. Entre análises e prognósticos, Coimbra fala a CONTATO sobre o cenário político atual, avalia os principais candidatos à presidência em 2006 e deixa escapar algumas dicas de campanha.


CONTATO: A crise política atingiu Lula?
Marco Coimbra:
Afetou algumas dimensões muito importantes. A estratégia de proteção do presidente, que foi afirmar seu desconhecimento dos fatos, fragilizou a imagem dele como liderança afirmativa. Ele não terá esse argumento quando for disputar o segundo mandato.

CONTATO: Que postura o presidente devia ter tomado assim que estourou a crise?
Marco Coimbra:
A atitude poderia ter sido mais aberta, especialmente com os setores de formação de opinião. Se ele tivesse falado mais cedo com os jornalistas, teria desarmado um pouco a resistência (ao governo) dentro da imprensa.

CONTATO: Você acredita que o PSOL será o grande tema eleitoral do ano que vem?
Marco Coimbra:
Por conta da Heloísa Helena - na hipótese de ela ser candidata a presidente - o partido deve ter uma votação muito além do gueto, que chega, no máximo, a um e meio por cento.

CONTATO: Seria um voto de protesto?
Marco Coimbra:
Certamente. Mas, além dos voto de protesto, muita gente votaria nela pelo fato de Heloisa Helena ser uma mulher combativa e séria.

CONTATO: As pesquisas já dão uma idéia precisa da corrida eleitoral do ano que vem?
Marco Coimbra:
Tudo indica que haverá uma repetição da polarização PSDB e PT, que se repete desde 1994. Em duas eleições o PSDB ganhou, puxado pelo plano real. Na terceira o PT ganhou. Nesse sentido, as pesquisas de hoje já são muito claras sobre o que muito provavelmente ocorrerá no ano que vem. Elas não identificam qualquer perspectiva de alterar ou romper essa polarização.

CONTATO: Alckmin tem mais chance que Serra no PSDB?
Marco Coimbra:
Alckmin tem muito mais perspectiva que o Serra. É um candidato novo, mas com um vasto currículo para expor. Ao contrário do Serra, que, fora de São Paulo, continua sendo fundamentalmente o ex-ministro da saúde do Fernando Henrique. O fato de o Serra ter disputado e vencido, em 2004, a eleição em São Paulo, não muda tanto esse quadro, porque ele não terá muita coisa diferente para mostrar. Assim, uma candidatura como a do Alckmin aponta para o futuro porque ela não remete diretamente a uma eleição passada, a um governo passado, ou a um presidente com um desgaste que o Fernando Henrique tem hoje. A (candidatura) do Serra joga um pouco para o passado.

CONTATO: O Alckmin teria que adotar que tipo de estratégia para se tornar nacional?
Marco Coimbra:
Há todo o calendário de aparições no rádio e na televisão, no primeiro semestre com os horários partidários, seja em nível nacional ou estadual. O PSDB deveria escolher um candidato o mais rápido possível para que ele possa aproveitar essas mídias – extremamente importantes nas eleições passadas – durante o primeiro semestre.

CONTATO: Aécio Neves tem chances agora ou é um candidato para o futuro?
Marco Coimbra:
Teoricamente, poderia ser agora. Se o governador de São Paulo há oito anos não fosse do PSDB e não tivesse resultados tão sólidos, provavelmente nós estaríamos discutindo Serra e Aécio. Quando ele chegar no final de um segundo mandato em Minas, aí sim ele estará cem por cento pronto.

CONTATO: O PMDB tem algum outro nome com chances, além do Garotinho?
Marco Coimbra:
O [Germano] Rigotto [governador do Rio Grande dos Sul] tem uma imagem muito ruim no seu estado, o que certamente não facilita a projeção para fora.

CONTATO: Quem do PT teria mais chance para ganhar o governo de São Paulo: Mercadante ou Marta?
Marco Coimbra:
Eu sempre acreditei que o Mercadante era o nome mais forte. Eu acho que ele está se saindo bem nessa história toda. Está pronto para ser candidato e preparou-se no momento certo. A derrota da Marta no ano passado não foi uma boa derrota. Ela terminou mais fraca do que poderia ter terminado, mesmo perdendo. Perder e ganhar é da política. Já ganhar bem ou perder bem, depende de escolhas que você faz. Às vezes, é melhor você pensar na qualidade da sua derrota do que numa tentativa desesperada de ganhar a qualquer preço, que acaba não dando certo e deixa marcas lá na frente.

CONTATO: E quais seriam os melhores nomes para enfrentar o PT em São Paulo?
Marco Coimbra:
Hoje, qualquer nome do PSDB está em igualdade de condições. Aníbal, Goldman...

CONTATO: Está tudo em pé de igualdade em São Paulo?
Marco Coimbra:
Qualquer candidato do PSDB em São Paulo será muito forte. Mesmo que ele comece com um ou dois por cento.


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