Por Paulo de Tarso Venceslau
Coronel
Lula (1)
As pesquisas revelam que o grande eleitor de Lula está nos
grotões do norte e nordeste do país: semi-analfabeto,
desinformado e dependente de programas assistencialistas do governo
federal. Trata-se de um remake da figura que marcou a República
Velha (1889-1930): o coronelismo político. Nessa primeira
parte, é abordado o aspecto histórico. Na segunda
e última parte serão mostradas as relações
que explicitam, na minha opinião, o papel do PT na contra-mão
da História.
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Nunca
poderia imaginar que um dia eu assistiria o renascimento da figura
do coronel na vida política brasileira. Os mais desinformados
poderão argumentar que eu estou forçando a barra.
Os mais informados, provavelmente, se calarão diante das
evidências. Vejamos.
O coronelismo surgiu na República Velha (1889-1930). Caracteriza-se
pelo enorme poder concentrado em mãos de um poderoso local,
geralmente um grande proprietário, um dono de latifúndio,
um fazendeiro ou um senhor de engenho próspero. Sua influência
transcendeu a política quando passou a influir na vida cultural,
musical e literária através de obras que marcaram
profundamente o imaginário simbólico nacional. Os
causos dos coronéis foram contados pelo avô para seus
netos. Meu amigo Sebe poderá confirmar ou não sobre
a importância da história oral a respeito desse período.
Uma curiosidade: o coronelismo se institucionalizou com a criação
da Guarda Nacional, em 1831, depois que dom Pedro I foi deposto.
Foi inspirada pelos acontecimentos de 1789, na França. Lá
havia a "guarda burguesa", uma milícia civil que
representava o poder armado dos proprietários que passaram
a patrulhar as ruas e estradas em substituição às
forças tradicionais, derrubadas pelos revolucionários.
O governo da Regência (1831-1842) colocou os postos militares
à venda, podendo então os proprietários e seus
próximos adquirirem os títulos de tenente, capitão,
major, tenente-coronel e coronel da Guarda Nacional (não
havia o posto de general, prerrogativa exclusiva do Exército).
O coronelismo na história política nacional nada mais
foi do que a expressão brasileira de um fenômeno tipicamente
ibérico, o do caudilhismo. Sempre que o poder político
central ficava enfraquecido na península Ibéria havia
a ascensão do chefe provincial ou local que adquiria expressão
militar e jurídica própria.
No Brasil, o coronelismo encontrou no mundo rural dominado por latifúndios,
engenhos e fazendas as condições propícias
para seu desenvolvimento. Os moradores obedeciam cegamente os coronéis.
Não ousavam desafiar sua autoridade. Sua instrução
limitava-se a saber desenhar o nome no papel, o suficiente para
que se tornassem eleitores fiéis dos candidatos propostos
pelo coronel.
A escassez de tudo e a pobreza quase que absoluta, quando não
miséria dos moradores explica a enorme dependência
que todos tinham do coronel.
As bases do poder estavam na terra, na família e nos agregados.
A terra era o poder em si. A família propiciava casamentos
arranjados para ampliar o seu domínio, colocando gente do
seu sangue e da sua confiança em todo os escalões
do poder municipal e estadual. Os agregados eram os parentes distantes,
compadres, afilhados e demais protegidos do coronel, que espalhavam
sua autoridade para regiões bem mais distantes do que a da
sua terra.
O poder dos coronéis pegou de surpresa os republicanos de
1889. Apesar do direito de voto ter sido estendido aos alfabetizados,
rapidamente verificaram que a universalização do sufrágio
não redundou no enfraquecimento dos coronéis. Os eleitores
não passavam de 20% da população e comportavam-se
nas eleições tais como bois mansos, incapazes de reagir
ao despotismo do manda-chuva.
O leitor mais atento poderá ficar curioso para saber qual
a relação que essa história tem a ver com os
recentes acontecimentos na política brasileira. Na segunda
e última parte, tentarei mostrar como funcionava a estrutura
de poder dos velhos coronéis, como Getúlio Vargas
enfrentou o poder dos coronéis, a crise e o declínio
dos coronéis e o seu ressurgimento com o governo Lula.
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