CONTATO
- Hoje você completa 1 ano com Doida Varrida. O que passa
pela sua cabeça nesse momento?
Sbruzzi - O Doida Varrida é como qualquer espetáculo
não popular, só que deu certo. Uma peça pode
durar um mês, duas apresentações ou 10 anos.
Ela fez um ano e, com o público que a gente teve, é
provável que ela complete pelo menos 2 ou 3 aniversários.
Pelo menos é o que eu e o Duda Ribeiro [autor] pensamos.
CONTATO
- Foi preciso malabarismo para mantê-la em alta?
Sbruzzi - O malabarismo acontece na produção.
Mas antes é preciso ter público. Depois é é
preciso ter uma boa produção que possa fazer isso
acontecer, ou seja, agendar teatro, conseguir divulgação,
fazer uma boa assessoria, porque senão não tem público
e o público só vai à peça se souber
que ela existe. Estamos em fevereiro e estou aqui em Taubaté,
de férias. Mas passo o dia agendando espetáculo. No
interior de São Paulo a gente vai fazer Bauru, Marília,
São José do Rio Preto, Presidente Prudente e todo
Vale do Paraíba de novo.
Em Taubaté, eu sei que faremos quatro apresentações
no TCC, duas no último domingo de março e outras duas
no primeiro domingo de abril. Também vamos fazer Belém
do Pará e Rio de Janeiro. Para isso tem que ter alguém
agendando. Temos a Cristiane que assessora a gente no Rio. Quem
fez isso no ano passado fui eu, mas agora faço a produção
de São Paulo e ela faz a do Rio. Quando uma está agendando
o primeiro semestre, a outra já está agendando o segundo
para que a peça possa continuar’. Se agendar só
um semestre, em julho acabam as apresentações e não
dá tempo de fazer a produção em cima da hora
para entrar em cartaz no segundo semestre.
CONTATO
- Quantas pessoas envolvidas na peça?
Sbruzzi – Oito pessoas. Eu, diretor, autor, operador
de luz, operador de som, assistente de direção, Cristiane
produtora e uma oitava pessoa que vai pulando de cidade em cidade
para. Sem um produtor local fica muito difícil. Por exemplo:
antes de levar o espetáculo para Belém do Pará,
mandamos o projeto, para um produtor de lá, que você
já conheça, para que o elenco chegar lá e apresentar.
CONTATO
- Como avalia o desafio de fazer teatro no Brasil?
Sbruzzi - É complicado. Você tem que pegar
esse malabarismo para manter uma peça e multiplicá-lo
por mil. Se fizéssemos uma pesquisa deve haver umas 100 pessoas
no país inteirinho vivendo de teatro, talvez não tenham
nem isso. No eixo Rio–São Paulo, conheço só
três pessoas.
CONTATO
- Como foi o encontro com Doida Varrida?
Sbruzzi - O Duda Ribeiro fico meu amigo e me convidou para
fazer shows de humor produzidos por ele junto com Bruno Mazzeo,
no Teatro Mistura Fina, no Rio. O Duda também produzia o
show do Chico Anízio. Quem eles mais gostavam de ver atuando
era convidado para participar do Show do Chico, e eu entrei nessa.
Há três anos, com o fim das apresentações,
o Duda me perguntou o que eu ia fazer. Disse que pensava estrear
um espetáculo no Rio ou ir para lá com um espetáculo
pronto. Ele me disse que era melhor fazer um espetáculo com
gente do Rio, diretor, autor. O Duda é autor de peças
e me disse que mandaria um texto que já tinha escrito e não
deu em nada. Era um texto escrito para ele e para o [Raul] Gazolla,
chamado Doido Varrido. Li e achei perfeito. Ele adaptou o nome e
algumas piadas que tinham mais a ver com o universo masculino, daí
virou Doida Varrida. Eu pensava quem iria dirigir. Daí o
Duda falou para eu chamar o [Luiz Carlos] Tourinho, da Globo, para
dirigir porque uma vez ele [Tourinho] havia dito que gostaria de
trabalhar comigo. No mesmo dia eu liguei, encontrei com o Tourinho
no Tablado, onde ele estava dando aula, fiz a proposta e ele aceitou
na hora.
CONTATO
– A logística é complicada?
Sbruzzi – Doida Varrida é um espetáculo
de bolso. Eu viajo com o espetáculo dentro do carro. Ele
pode estar dentro de um grande teatro como o Sérgio Cardoso
[em São Paulo], no teatro do Sesc, no Teatro Municipal de
São José dos Campos, no Metrópole, de Taubaté,
como pode estar numa sala de aula.
“Doida
Varrida é um espetáculo de bolso (...) pode estar
dentro de um grande teatro, como pode estar numa sala de aula”
CONTATO – Com foi a recepção da peça
em Taubaté?
Sbruzzi - Ano passado, 3.500 pessoas assistiram Doida em
Taubaté. Isso é o máximo do máximo para
mim. Um dia, o Chico Anísio, quando fui me apresentar com
ele, me disse: então você é a Karina Sbruzzi,
muito prazer. E eu falei brincando: eu não sou famosa, é
por isso que você não me conhece. Sou famosa só
na minha cidade. Então ele respondeu: se você é
famosa na sua cidade, vai ser famosa no Brasil inteiro, porque a
coisa mais difícil é fazer sucesso na cidade onde
nascemos. Ele [Chico Anízio] deve ter dito isso por causa
daquele ditado: “Santo de casa não faz milagre”.
Mas, o fato é que, com isso, ele me mostrou um outro lado
que eu não tinha percebido.
CONTATO
- Como vê toda a repercussão da temporada 2005?
Sbruzzi - Achei assustador porque era a minha estréia
no Rio. Eu era uma pessoa desconhecida que fazia comédia.
Quando saiu a primeira critica [jornal O Globo] elogiando a peça,
me assustei. Passei a receber convites e elogios. É um espetáculo
que além de fazer rir tem um conteúdo extremamente
peculiar, detalhado. Psicólogos e psiquiatras passaram a
comentar que a representação estava perfeita. Houve
muita pesquisa e respeito pelo tema “loucura”. Teve
muita seriedade, foi um trabalho levado a sério e sem grana.
Para isso, fiquei quase um ano no Rio de Janeiro produzindo o espetáculo,
bancando com meu dinheiro. Às vezes era de tio, da tia, do
pai, do banco.
CONTATO
- Você mora no Rio desde quando?
Sbruzzi - Em maio faz 3 anos.
CONTATO
- Foi lá por causa do teatro.
Sbruzzi - Por causa do teatro.
CONTATO
- Você saiu de Taubaté por causa do teatro...
Sbruzzi - Fui para São Paulo aos 17 anos para estudar
teatro. Lógico que, quando estava sem grana, voltava para
casa dos meus pais. Ficava um ano aqui, fazia teatro em festa de
aniversário, qualquer coisa para ganhar uma grana. Comecei
a dar aula de teatro, depois dei aula quatro anos numa faculdade.
Ia para São Paulo, ficava lá por um tempo, produzia
peças e viajava. E em 2001, já era atriz, foi quando
sai para morar fora e fui fazer uma turnê pelo país.
Em 2003 fui para o Rio. Ficava lá, mas fazia algumas coisas
em São Paulo.
CONTATO
- Em Taubaté, apesar do esforço de alguns grupos independentes
de teatro, como você vê o incentivo e o espaço
que é reservado ao teatro na cidade?
Sbruzzi - Falta incentivo e dinheiro. Felizmente ou infelizmente,
as pessoas que querem viver de arte ou aquelas que vivem de arte,
fazem porque gostam, porque são apaixonadas. Ninguém
ganha dinheiro com isso em Taubaté.
“As pessoas que vivem de arte, fazem
porque gostam, porque são apaixonadas. Ninguém ganha
dinheiro com isso em Taubaté”
CONTATO – O Teatro de Bretch talvez seja o único
grupo apoiado pela prefeitura de Taubaté e ainda assim é
uma colaboração simbólica que não chega
a R$ 100 por pessoa. Como vê isso?
Sbruzzi – A questão não é só
em Taubaté e no Brasil todo. Quase não tem projeto
destinado à cultura. Só existem duas leis de incentivo
à cultura no país que é a Lei Mendonça
[Lei 10.923/90] e a Lei Rouanet [Lei nº 8.313/91]. Assim, como
é possível viver de cultura no país?
CONTATO
– E que tipo de contribuição o teatro tem para
oferecer para cidade?
Sbruzzi - Acho que o teatro tem que fazer o caminho inverso,
ou seja, incentivar a prefeitura a bancar os projetos. Eu sei que
não é fácil e não estou dizendo que
será isso que vai fazer a prefeitura abrir a mão,
pode ser que, mesmo assim, não abra [a mão]. Por exemplo:
um grupo pega um tema educacional, qualquer coisa saudável
para a população e que tenha algum apelo que faça
a prefeitura perceber nisso há um apelo social. Se eu estivesse
em Taubaté tentando fazendo teatro, acho que esse seria o
caminho que eu ira fazer, ou seja, desenvolver projetos que eu possa
buscar possíveis patrocinadores e dizer: “você
tem que me bancar por causa disso, disso e disso”. Argumentar
e convencer que a proposta é boa.
CONTATO
- Como começou sua relação com a comédia?
você encontrou a comédia ou ela te encontrou?
Sbruzzi - Eu praticamente nasci com ela. Minha casa sempre
foi uma comédia, meu pai [Benedito ramos a Silva] era um
cara engraçadíssimo. Eu ria muito dele. Minha mãe
[Dinorá Costa da Silva] e minha irmã [Patrícia
Sbruzzi] também são muito engraçadas. O ambiente
era a própria comédia, minha casa era sempre uma gargalhada.
Então praticamente nasci num palco. A segunda personagem
que fiz e que mais fez sucesso, a dona Escolástica, foi inspirada
numa amiga da minha mãe. Eu imitava ela desde os 7 anos de
idade. Fui fazer ela [dona Escolástica] no teatro e virou
sucesso.
CONTATO
– Em qual peça?
Sbruzzi - No “Deu Maromba na Maroma”, em que
eu fazia 20 personagens, entre elas, a Escolástica. Eu fazia
ela mais velhinha, caricaturada. A amiga da minha mãe não
era velhinha e ainda não é velhinha, mas ela era muito
engraçada. Quando ela ia embora, eu entrava imitando tudo
o que ela falava. Os amigos dos meus pais iam embora e eu os imitava.
Acho que meus pais me achavam engraçado e por isso me apoiavam.
Não era uma coisa desrespeitosa, nada disso, tanto é
que essa amiga da minha mãe foi me ver no teatro, ficou emocionada,
achou o máximo.
CONTATO
- Qual a sua escola no teatro, a sua formação?
Sbruzzi - Eu fiz o Teatro Escola Macunaíma em São
Paulo. É um curso profissionalizante que não é
faculdade. Na universidade me formei em Publicidade e Propaganda
pela UNITAU.
CONTATO
- Doida Varrida roda o país até julho desse ano e
depois volta ao Rio. É isso mesmo?
Sbruzzi - A nossa idéia é exatamente essa:
ir até o meio do ano rodando pelo Brasil e, em agosto, re-estrearmos
no Rio, onde deveremos permanecer em cartaz até o final do
ano.
CONTATO
- Qual a expectativa nessa nova temporada?
Sbruzzi – Esperamos que todos que assistiram, assistam
de novo. E quem não assistiu, assista. Esperamos conseguir
uma divulgação maior. A peça merece ser vista
por muita gente porque é muito próxima da nossa realidade.
Tanto em homens quanto em mulheres que assistem a peça, o
riso é provocado pela identificação imediata
com a personagem. Não tem como você assistir a peça
e não se ver nela, sem ver a sua esposa, a sua mãe,
sua filha, seu namorado, seu pai.
CONTATO
- Você diria que a lucidez e a loucura andam de mãos
dadas?
Sbruzzi - Sim. Porque depende muito do que a gente considera
como real, como normal.
CONTATO
– Em entrevista a CONTATO, o Madureira, do Casseta e Planeta,
nos disse que comédia se faz em cima de preconceitos. Você
concorda com essa opinião?
Sbruzzi - É um dos caminhos. No Maromba havia 20
personagem e 13 quadros, em cada quadro um tipo de preconceito.
O tema era preconceito. Tinha um personagem que era um travesti,
tinha uma que era uma velhinha totalmente escusa e marginalizada,
outro personagem era o índio que foi queimado, tinha a criança
pobre e a criança rica. Era uma comédia, mas era em
cima do preconceito.
CONTATO
- Alguma novidade para esse ano que já possa adiantar ?
Sbruzzi – No teatro, quero focar o Doida Varrida
porque no ano passado interrompi três meses de Doida Varrida
para fazer “O Bebê de Reginaldo”, um texto do
Duda Ribeiro, que tinha no elenco o Tourinho e eu. Viajamos outubro
e novembro com o espetáculo e resolvemos por vários
motivos não continuar em 2006. Agora, o Doida Varrida virou
prioridade.
CONTATO - Alguma coisa voltada para Taubaté, para
o Vale?
Sbruzzi - Queria fazer todo mês um sarau em Taubaté.
Mas precisa de patrocinadores, alguém que tope e banque pelo
menos uns seis meses para ver a repercussão. É um
projeto que deu muito certo em São Paulo. Já na televisão
nunca tive muito tempo para me expor, para fazer testes. Esse ano
vou me direcionar mais para isso também. Primeiro porque
eu acho que chegou a hora e, segundo, porque, a televisão
ajuda muito quem quer viver de teatro.
CONTATO
- Algum convite para televisão?
Sbruzzi - Devo gravar uma participação especial
em A Diarista esse ano. Eu sei que tem coisas legais para acontecer
em breve, só não quero arriscar nomes e depois não
acontecer.
CONTATO
- Novela?
Sbruzzi - Acho que até novela, coisa que nunca imaginei
fazer, talvez aconteça.
CONTATO
– É verdade que há uma aproximação
com o Miguel Falabella?
Sbruzzi - Não é nada exatamente com ele.
Nem tive contato com ele. Mas disseram a ele do meu trabalho e que
[Doida Varrida] tem muito a ver com o perfil que o Miguel procura
para trabalhar. O que procuro fazer é que ele [Falabella]
vá assistir o Doida Varrida. Por mais que a pessoa conheça
ou ouça falar do seu trabalho você precisa fazer aquela
pessoa ir vê-lo no teatro. É o que estou tentando fazer.
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