Por Paulo de Tarso Venceslau


Coronel Lula 2(final)

É extensa a lista dos que foram lançados ao mar por resistirem à transformação do PT em partido político caudatário da liderança carismática e messiânica de Lula.

Presidente Lula tem procurado estabelecer alguma identidade com Getúlio Vargas. No campo político, mais recentemente, tenta fazer um paralelo entre a auto-suficiência de petróleo, divulgando como seu o fruto de um trabalho de décadas que fez da Petrobrás uma das maiores empresas do planeta, com o movimento nacionalista de o petróleo é nosso, de Vargas.
Nesse ano eleitoral, através da propaganda intensiva por todos os veículos de comunicação e de todos os palanques que continuará ocupando, Lula tenta mostrar que sua meta é o crescimento da economia, apesar de todos os pífios resultados depois de mais de 3 anos de governo. Sem dúvida existem dados muito positivos. Porém, a média anual de crescimento está bem aquém de todos os governos desde meados do século passado.
Além disso, o moderno coronel em que se transformou não tem nada a ver com a figura de Vargas que, muito pelo contrário, esvaziou o poder dos coronéis. O voto secreto e o voto feminino, a valorização do sufrágio urbano e das novas forças emergentes (operários, funcionárias) são apenas alguns exemplos das forças que Vargas lançou para se contrapor ao poder dos potentados rurais.
Os interventores e os intendentes enviados por Vargas para administrar os estados e os municípios durante o Estado Novo reduziram substancialmente a autoridade local e o poder dos coronéis. A industrialização, o crescimento demográfico, a migração para as cidades, são outras características do Brasil de Vargas que aceleraram ainda mais o declínio do coronelismo.
Apesar de algumas exceções, a redemocratização vivida pelo país com o fim da ditadura militar, em 1984, parecia ter enterrado de vez a figura do coronel. Antônio Carlos Magalhães, na Bahia, e José Sarney, no Maranhão são alguns dos raros exemplos que conseguiram sobreviver.

Ironia do destino

O surgimento e o crescimento do Partido dos Trabalhadores foram alicerçados, pelo menos na sua origem e na primeira década de sua existência, no compromisso de enterrar de vez os últimos resquícios dos coronéis do império que permaneceram na República Velha e que foram, de certo modo, recuperados pelo regime militar.
A vitória eleitoral em 2002 parecia anunciar novos tempos. Lula tinha tudo para ser a resultante de duas figuras emblemáticas: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. O primeiro criou as bases do moderno Estado e o segundo promoveu acelerado desenvolvimento econômico com enormes repercussões na vida cultural e social do Brasil.
Infelizmente, são opostos os resultados do governo petista diante daqueles que provocaram o enfraquecimento dos coronéis. Lula perdeu peso político nas regiões sudeste e sul e tornou-se dependente dos votos dos grotões. Coisa de coronel diziam os petistas de ontem que hoje não conseguem explicar porque o crescimento econômico foi reduzido a uma cansativa figura de retórica.
A perda de apoio entre católicos mais esclarecidos fez Lula procurar abrigo entre evangélicos conduzidos como rebanhos pelos seus bispos.
O centralismo de Vargas limitou substancialmente o toma lá dá cá herdado do império e República Velha. Lula recuperou a barganha como método através de políticas assistencialistas voltadas para as camadas mais pobres e desinformadas, comandadas por lideranças petistas locais ou regionais. Os agentes do governo distribuem esmolas e alimentos às regiões carentes para fortalecer a figura do “Paim”, como ACM gostava de ser chamado no interior do Bahia, ou do “Padim”, como era chamado o padre Cícero no sertão do Ceará.
Semelhança com o Vargas? Só se for com o ditador que fez acordo com a Alemanha nazista e deportou alemães, como Olga Benário, esposa do líder comunista Luiz Carlos Prestes, para serem assassinados em campos de concentração. Lula recebeu integralmente sua indenização mas impede que presos torturados, mortos e desaparecidos recebam a indenização que a Constituição lhes garante.
Lula não vacila em tirar do seu caminho velhos companheiros que lhe possam fazer sombra ou vacile no papel de “vaquinha de presépio”. É longa e extensa a lista dos que foram lançados ao mar por resistirem à transformação do PT em partido político caudatário da liderança carismática e messiânica de Lula.
Os petistas idealistas foram literalmente rifados em troca do apoio de velhos coronéis como ACM e Sarney. José Dirceu, o bate-pau de Lula que controlava as operações mais heterodoxas do governo, foi pro brejo. A única saída para Lula foi assumir pessoalmente as tarefas antes realizadas por seu ex-ministro. O coronel desnudou-se de vez.



 

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