Presidente
Lula tem procurado estabelecer alguma identidade com Getúlio
Vargas. No campo político, mais recentemente, tenta fazer
um paralelo entre a auto-suficiência de petróleo, divulgando
como seu o fruto de um trabalho de décadas que fez da Petrobrás
uma das maiores empresas do planeta, com o movimento nacionalista
de o petróleo é nosso, de Vargas.
Nesse ano eleitoral, através da propaganda intensiva por
todos os veículos de comunicação e de todos
os palanques que continuará ocupando, Lula tenta mostrar
que sua meta é o crescimento da economia, apesar de todos
os pífios resultados depois de mais de 3 anos de governo.
Sem dúvida existem dados muito positivos. Porém, a
média anual de crescimento está bem aquém de
todos os governos desde meados do século passado.
Além disso, o moderno coronel em que se transformou não
tem nada a ver com a figura de Vargas que, muito pelo contrário,
esvaziou o poder dos coronéis. O voto secreto e o voto feminino,
a valorização do sufrágio urbano e das novas
forças emergentes (operários, funcionárias)
são apenas alguns exemplos das forças que Vargas lançou
para se contrapor ao poder dos potentados rurais.
Os interventores e os intendentes enviados por Vargas para administrar
os estados e os municípios durante o Estado Novo reduziram
substancialmente a autoridade local e o poder dos coronéis.
A industrialização, o crescimento demográfico,
a migração para as cidades, são outras características
do Brasil de Vargas que aceleraram ainda mais o declínio
do coronelismo.
Apesar de algumas exceções, a redemocratização
vivida pelo país com o fim da ditadura militar, em 1984,
parecia ter enterrado de vez a figura do coronel. Antônio
Carlos Magalhães, na Bahia, e José Sarney, no Maranhão
são alguns dos raros exemplos que conseguiram sobreviver.
Ironia
do destino
O surgimento e o crescimento do Partido dos Trabalhadores
foram alicerçados, pelo menos na sua origem e na primeira
década de sua existência, no compromisso de enterrar
de vez os últimos resquícios dos coronéis do
império que permaneceram na República Velha e que
foram, de certo modo, recuperados pelo regime militar.
A vitória eleitoral em 2002 parecia anunciar novos tempos.
Lula tinha tudo para ser a resultante de duas figuras emblemáticas:
Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. O primeiro criou as
bases do moderno Estado e o segundo promoveu acelerado desenvolvimento
econômico com enormes repercussões na vida cultural
e social do Brasil.
Infelizmente, são opostos os resultados do governo petista
diante daqueles que provocaram o enfraquecimento dos coronéis.
Lula perdeu peso político nas regiões sudeste e sul
e tornou-se dependente dos votos dos grotões. Coisa de coronel
diziam os petistas de ontem que hoje não conseguem explicar
porque o crescimento econômico foi reduzido a uma cansativa
figura de retórica.
A perda de apoio entre católicos mais esclarecidos fez Lula
procurar abrigo entre evangélicos conduzidos como rebanhos
pelos seus bispos.
O centralismo de Vargas limitou substancialmente o toma lá
dá cá herdado do império e República
Velha. Lula recuperou a barganha como método através
de políticas assistencialistas voltadas para as camadas mais
pobres e desinformadas, comandadas por lideranças petistas
locais ou regionais. Os agentes do governo distribuem esmolas e
alimentos às regiões carentes para fortalecer a figura
do “Paim”, como ACM gostava de ser chamado no interior
do Bahia, ou do “Padim”, como era chamado o padre Cícero
no sertão do Ceará.
Semelhança com o Vargas? Só se for com o ditador que
fez acordo com a Alemanha nazista e deportou alemães, como
Olga Benário, esposa do líder comunista Luiz Carlos
Prestes, para serem assassinados em campos de concentração.
Lula recebeu integralmente sua indenização mas impede
que presos torturados, mortos e desaparecidos recebam a indenização
que a Constituição lhes garante.
Lula não vacila em tirar do seu caminho velhos companheiros
que lhe possam fazer sombra ou vacile no papel de “vaquinha
de presépio”. É longa e extensa a lista dos
que foram lançados ao mar por resistirem à transformação
do PT em partido político caudatário da liderança
carismática e messiânica de Lula.
Os petistas idealistas foram literalmente rifados em troca do apoio
de velhos coronéis como ACM e Sarney. José Dirceu,
o bate-pau de Lula que controlava as operações mais
heterodoxas do governo, foi pro brejo. A única saída
para Lula foi assumir pessoalmente as tarefas antes realizadas por
seu ex-ministro. O coronel desnudou-se de vez.
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