Não
dá para se descartar os riscos dessa escola ser classificada
como terceirizada, um tipo negócio proibido pelo
Ministério da Educação.
Por Paulo de Tarso Venceslau
Na
última edição de CONTATO, reafirmamos
que não temos qualquer objeção à
vinda de outras escolas superiores a Taubaté. Elas
serão sempre bem-vindas desde que cumpram os requisitos
essenciais exigidos.
Chamamos a atenção para os dois riscos mais
visíveis: 1) a falta de segurança que os
alunos da Faculdade Comunitária de Taubaté
(FCT) terão durante o curso; e 2) e a possibilidade
de se receber um diploma não reconhecido pelo Ministério
de Educação.
Apontamos a fissura legal que permitiu o funcionamento
da FCT, uma vez que, segundo seu diretor acadêmico,
José Luiz Poli, “a faculdade comunitária
não tem personalidade jurídica. Ela funciona
com base no seu Regimento Escolar que é aprovado
pelo Ministério da Educação”.
Relatamos as informações fornecidas por
um membro do Conselho Federal de Educação
a respeito de pelo menos dois processos que envolvem a
FCT: um que o ministro autoriza o funcionamento da unidade
de Taubaté; e outro, elaborado pelo próprio
Ministério da Educação e que conta
com parecer favorável do Conselho Federal de Educação,
que proíbe a Anhanguera de abrir novas unidades.
Esse processo ainda não foi homologado pelo ministro
Fernando Haddad, da Educação, que o guardou
em alguma de suas gavetas. Mostramos que aí que
reside o maior perigo que poderá abrir uma temporada
de crise na Anhanguera Educacional com efeitos diretos
sobre a Faculdade Comunitária de Taubaté.
Concluímos que a batalha jurídica anunciada
é a maior prova que existem um sem número
de riscos escamoteados pela Anhanguera Educacional. E
estranhamos que tudo isso conte com aval explícito
da administração Roberto Peixoto, o que
nos parece uma iniciativa que não se coaduna com
o papel do prefeito que deveria ser o primeiro a se engajar
na defesa do inestimável patrimônio público
que é a Unitau.
Interesses
bicudos ou escusos?
CONTATO
apurou que um tucano de alta plumagem, ex-ministro da
Educação de FHC, é o grande assessor
contratado a peso de ouro pela Anhanguera Educacional
para viabilizar seus negócios que já se
espalham por quase todo o estado de São Paulo.
Paulo Renato de Souza, pré-candidato tucano ao
governo paulista, teria intermediado um grande negócio
que teria resultado na compra de 51% das ações
da Universidade Anhembi Morumbi por parte de um poderoso
grupo econômico internacional (ver Folha de São
Paulo de 2 de dezembro de 2005 “Grupo dos EUA compra
a Anhembi Morumbi”).
O leitor mais atento poderá perguntar: “O
que isso tem a ver com a Faculdade Comunitária
de Taubaté?”. Apenas que a Anhembi Morumbi
possuiria 51% das ações da Anhanguera Educacional,
majoritária diante dos 49% do seu presidente Antônio
Carbonari Neto. Portanto, em última instância,
o vestibulando da FCT precisa saber que ele está
entrando em uma escola que lhe esconde a sua teia de relações.
Não se trata de nenhum crime ou má fé.
Chamamos a atenção sobre fatos que são
mantidos sob sigilo. A falta de transparência faz
com que se acendam as lanternas da desconfiança.
Universidade
Mundial
No seu site pode-se ler que “em 2005, depois de
ampliar sua gama de cursos com muita criatividade, a Universidade
Anhembi Morumbi fecha uma grande aliança com a
Rede Internacional de Universidades Laureate - a maior
e mais importante rede de universidades do mundo. Agora,
os alunos da Anhembi Morumbi passam a ter oportunidade
de formação e atuação mundial,
por meio de programas exclusivos de intercâmbios
para complemento da grade curricular, múltipla
diplomação, estágio internacional,
entre outros”.
Seria “a primeira vez que uma universidade brasileira
realiza este tipo de aliança. Os alunos terão
também possibilidades de estudo, estágio
e diplomação no exterior, domínio
de idiomas estrangeiros e aprendizagem em currículos
e conteúdos de padrão mundial”. E
complementa que “seguindo uma tendência mundial,
a Universidade Anhembi Morumbi e a Rede Internacional
de Universidades Laureate agora integram um sistema globalizado
de ensino, com 20 instituições presentes
em 15 países”. Maiores informações
em “Feições de Mercantilização
da Educação e Neocolonialismo”, de
Roberto Leher, em www.lpp-uerj.net/outrobrasil/Docs/13122005161150_An%C3%A1lise_rleher_dez05.doc
Caso
de polícia?
Essa
notícia alvissareira, caso a Anhanguera Educacional
seja de fato controlada por esse grupo, contrasta e poderá
até anular as graves denúncias formuladas
pelo jornal O Globo, em 7 de maio de 2000, com a matéria
“Franquia Universitária: nova fraude no ensino”.
Resumidamente, o jornal denuncia um esquema através
do qual faculdades pequenas tentavam se unir a universidades
particulares através de um “esquema ilegal
de terceirização do ensino”.
O mesmo jornal reproduz conversas gravadas onde Antônio
Carbonari Neto, então dirigente da Faculdade Politécnica
de Jundiaí, “propõe a um representante
de instituição privada o negócio
irregular”.
Na ocasião, “o MEC garantiu que o sistema
de franquia dos serviços de ensino superior é
proibido”. Luiz Roberto Curi, então diretor
do Departamento de Política de Ensino da Secretaria
de Ensino Superior (SESU), mostrou-se “indignado
com a tentativa de burlar as normas do MEC”. E reagiu:
“No negócio de açougue isso pode acontecer,
no ensino não”.
Olho
aberto
Diante
de tantas informações pouco abonadoras,
ninguém poderá, em sã consciência,
assegurar que a FCT mais cedo ou mais tarde poderá
ser classificada como uma empresa terceirizada de um Centro
Universitário ligado à mesma mantenedora
Anhanguera Educacional, braço capitalista de um
grande negócio. Seu produto básico chama-se
educação.
Tomara que a advertência ainda ecoe nos corredores
do MEC para impedir que Taubaté, diante da concorrência
desleal que poderá enfraquecer e até mesmo
destruir sua Universidade Municipal, acabe se transformando
em um grande frigorífico terceirizado por ambições
menos nobres.
Afinal, o ex-ministro Tarso Genro afirmava que a educação
é estratégica para o desenvolvimento do
país, por isso ela não poderia ser controlada
por empresas internacionais. Posição que
encontra receptividade junto a UNE (União Nacional
dos Estudantes), quando Gustavo Petta, presidente reeleito
afirma: "É por meio da educação
que se formam os valores do nosso povo. Ela não
pode ficar à mercê dos interesses estrangeiros."