CONTATO
- A primeira dama interfere em questões específicas
do Departamento de Educação?
José Benedito Prado –
Li a reportagem [do CONTATO] e sinceramente não entendi.
CONTATO
– Em evento realizado no Teatro Metrópole para apresentar
o projeto a respeito das apostilas, os vereadores foram impedidos
de participar. Esse veto partiu da primeira-dama?
Prado - Não sei quem falou isso, mas está
errado. Nunca foi dito isso (veto) a um vereador até porque
se eu fizer uma colocação dessa, vão me chamar
de ignorante.
CONTATO
– Como se justifica a compra de apostilas?
Prado - Não se fala apostila e sim sistema de ensino.
A implantação [do sistema de ensino] ocorreu em função
da necessidade da rede municipal ter um trabalho seqüenciado
e em decorrência do fato de que o Plano Nacional de Livros
Didáticos [PNLD] não consegue atender as necessidades
porque somos uma rede que está crescendo, absorvendo a rede
estadual.
CONTATO
- Para que tudo seja justificável é necessário
mudança metodológica e pedagógica. A primeira
questão é a não participação
dos professores na compra das apostilas. Segundo, questões
mais graves como: por que apareceram só três empresas
para uma licitação tão cobiçada de R$
33 milhões? Por que Anglo, COC e Positivo sequer foram convidadas?
Prado - Não convidamos porque foi feito pelo pregão
eletrônico. A partir do momento que saiu o edital, eles [do
Positivo] chegaram a apresentar material demonstrativo. Também
estranhei o Positivo não entrar. Depois, fiquei sabendo que
empresas que entram no município não podem atender,
ao mesmo tempo, o sistema público e o privado. Ou é
um ou outro. O Positivo está no Saad. Isso demonstra porque
não entraram.
CONTATO
– Por que o sr. não tomou essa iniciativa na gestão
de Bernardo Ortiz quando desempenhava as mesmas funções?
Prado - Cada momento tem sua prioridade. No outro contexto
a rede investiu na ampliação de estrutura física.
Era a necessidade do momento. Mesmo assim apresentei a idéia
e compramos livros.
CONTATO
- Algo em torno de R$ 33 milhões...
Prado - Trinta e três milhões [de reais] em
3 anos. Se calcular volume de alunos que a rede tem, dá uma
média de R$ 240 reais por ano. Eu acho pouco. Pense quanto
gasta, por exemplo, uma Febem?
CONTATO
- Quer comparar isso com a Febem?
Prado - Acho que há um equívoco muito grande
porque em Educação não se fala em gastos e
sim em investimentos. Essa é a maior falha que está
ocorrendo. Temos que ter claro que nunca se investiu tanto no aluno.
Em municípios como Aparecida e Lorena há sistema de
ensino de primeira à quarta série. Taubaté
implantou, de uma única vez, o sistema todo. Porque há
disponibilidade de recursos para serem investidos na Educação.
Não é uma medida impensada.
CONTATO
- Porque foi feito no recesso da Câmara? Não teve previsão
orçamentária?
Prado – Quem disse que não teve? Temos vereadores
que sabiam que eu estava estudando a implantação.
Não foi uma coisa feita nas férias. Não penso
assim.
CONTATO
- O sr. se ofereceu ao presidente da Câmara para ir lá?
Prado - O Henrique Nunes esteve comigo conversando e fui
eu quem disse que iria à Câmara se ele quisesse. Ele
falou que gostaria. Eu só precisava da autorização
do prefeito. Pedi e o prefeito disse que não teria problema.
Fui à tarde na Câmara, mas não houve convocação.
CONTATO
- Por que não teve a mesma preocupação de apresentar
aos professores?
Prado - Porque temos mais de mil professores na rede. Alguns
já sabiam. No meio do ano [2005], numa capacitação
de professores de Português, na escola José Ezequiel
de Souza, conversei com os professores sobre a implantação
do sistema. Os vereadores Jeferson e Pollyana sabiam que eu estava
analisando custos para implantar o sistema.
CONTATO
- A vereadora Pollyana declarou que não sabia...
Prado - Claro que sabia. A Pollyana sabia muito bem. Esteve
comigo várias vezes. Disse aos professores e ao vereador
Jeferson. Para aprovar a criação do Conselho Municipal
de Educação levou uma gestação inteira.
Se levar isso para discussão vamos ficar discutindo, discutindo
e o tempo passa.
CONTATO
– Se os professores que vão usar o material pedagógico
tivessem sido consultados mudaria alguma coisa?
Prado - Existe uma equipe pedagógica junto comigo.
Supervisores extremamente experientes que estiveram o tempo todo
ajudando nas decisões com relação à
implementação do sistema.
CONTATO
- Esses supervisores possuem um contrato precário com a prefeitura,
são celetistas. Professores e diretores afirmaram para CONTATO
que isso teria gerado temor e impedido críticas ou sugestões
que pudessem ser interpretadas como divergência.
Prado - Não acredito nisso. O grande problema que
existe é esse: sou funcionário da administração,
a gerente de educação é funcionaria de carreira.
Se eu pego [servidores] lá no solar, nossa equipe que está
lá é de professores que passaram pelo processo seletivo.
Ou então os professores são estatutários. Hoje
no quadro da educação cerca de 20% a 25% são
estatutários e o resto é servidor, vou tirar [diretores]
de onde?
CONTATO
- Servidor celetista?
Prado - Sim. Passaram por um processo seletivo. Foram contratados
porque não houve concurso. Vejo a situação
de maneira diferente. Agora é que começamos estruturar
isso.
CONTATO
– Por quê?
Prado – Porque, a partir do momento que não
tenho plano de carreira, vou fazer concurso público como?
Primeiro é preciso estabelecer as regras do jogo.
CONTATO
- Não existe plano de carreira na rede pública?
Prado - Não. Vamos nos guiando pela 001 que foi
feita por razão da Constituição.
CONTATO
- O que é a 001?
Prado - A lei de administração. Foi elaborada
na época da Constituição e tem uma série
de artigos revogados que gera contestação por parte
de alguns professores. Esse questionamento da Pollyana (sobre falta
de concurso), ela conhece a rede e ela sabe qual é o quadro
estatutário que existe na rede. A Pollyana é estatutária.
A primeira coisa que temos que fazer é reverter isso.
CONTATO
- Porque não prioriza a formulação de um plano
de carreira?
Prado – Está priorizado e está sendo
elaborado.
CONTATO
- Mas para aprovar no último ano de governo é complicado...
Prado - Estamos com o plano elaborado.
CONTATO
- Qual o cronograma?
Prado - Ficamos 2005 trabalhando em cima desse plano. Só
que eu lhe faço uma pergunta em cima disso: porque não
feito nas administrações anteriores?
CONTATO
- O sr. foi o diretor do DEC na administração anterior,
porque não foi feito?
Prado - Eu fui diretor quanto tempo?
ONTATO
- O sr. assumiu quando?
Prado – Em julho [de 2004]. O elemento importante
nessa história é a aprovação do prefeito.
Ninguém fica dando cabeçada na parede para elaborar
um plano de carreira sem a autorização ou a solicitação
vinda do topo da hierarquia. Esse plano não foi feito até
hoje por que? Hoje temos que criar mecanismos que busquem solução
sem prejudicar o servidor.
CONTATO
- O que teria levado a prefeitura abrir mão do PNLD?
Prado - Um questionamento importante a ser feito é
por que no estado de São Paulo é descentralizado o
PNLD?
CONTATO
– É o único estado que faz sua cota de distribuição...
Prado - Exatamente. Segundo, porque, quando chega a escolha
de livros didáticos para todo o país, escolhe-se livros
de alfabetização, mas [só] o estado de São
Paulo não pode. Por isso compramos livros e a implantação
do sistema é para dar continuidade. As editoras elaboram
livros de acordo com uma filosofia, uma postura pedagógica,
com o trabalho que é desenvolvido na rede.
CONTATO
- No começo de 2005 teve outra grande polêmica sobre
livro Taubaté: Cidade Educação, Cultura e Ciência.
O sr. é o autor e abriu mão dos direitos autorais.
Prado - Organizador.
CONTATO
- Todo organizador de livro fica com as beneficies de ter feito
aquilo, certo? E o sr. abriu mão do direito autoral que teria...
Prado – Sim.
CONTATO
- E quem está recebendo o direito autoral hoje é a
empresa que ganhou a licitação, a Nova América
Editora. O sr. abriu mão em favor dela?
Prado - Eu não abri em favor da empresa, nunca pensei
nisso. Eu apenas não queria ter benefícios em função
daquilo.
CONTATO
- Nunca pensou nisso mas de repente abriu mão...
Prado - Não era nem direito meu, eu não tinha
nem como abrir mão disso porque quem organizou tudo foi a
empresa. O que foi feito? Foram feitos cortes [nos textos] porque
a empresa exagerou em conteúdo. O material era enorme e quando
nos mandaram fomos cortando. Depois, solicitamos a Divisão
de Museus para fornecer ilustrações.
CONTATO
- Como explica reproduções literais, sem citar fontes,
de outras obras como os trechos pirateados das obras da professora
Maria Morgado?
Prado - Essa questão de pirataria nunca houve. Já
trabalhei com a professora e fiquei extremamente chateado por ela.
Sempre achei que quem se sentisse prejudicado deveria procurar a
Justiça. Era um projeto da empresa, registrado, é
deles a proposta.
CONTATO
- E como o sr. entrou como organizador?
Prado - Essa situação surgiu porque a editora
defendia que seria bom entrar como organizador da obra.
CONTATO
– Organizadores de livros reunem estudiosos e cada um dá
um enfoque. Mas não foi isso que aconteceu. Na verdade o
sr. não organizou o livro.
Prado - Não. O livro foi organizado pela editora.
Fui alguém que cortou muito do conteúdo que estava
no material.
CONTATO
- O sr. foi quase um editor do livro, mas a Nova América
é que foi contratada para fazer a edição.
Prado - Se a função é exatamente é
essa, sim. Eu não sei exatamente a função do
editor.
CONTATO
– Mas, afinal, por que os vereadores não foram convidados
para participar da apresentação do projeto no Metrópole?
O sr. chegou a dizer ao Henrique Nunes que eram ordens de Luciana
Peixoto?
Prado - Esse evento foi organizado a pedido da empresa.
Não costumo ir a eventos, mas a empresa Expoente queria fazer
a apresentação do material. Eu trabalhava na organização
da formação e ficava envolvido com toda essa zorra
do início de ano nosso aqui [na rede municipal], que é
complicado. Solicitei ao DAS (departamento de Ação
Social) que organizasse o evento. O departamento organizou, supervisionou,
fez a lista de convidados, tudo como pedi.
CONTATO
- O sr. aprovou a lista?
Prado - Eu não me envolvo com isso.
CONTATO
- Mas é assunto da sua área. Quem melhor que o sr.
saberia quais as pessoas indicadas para participar do evento?
Prado - O que eu digo é o seguinte: pela reportagem
não entendi algumas coisas. Primeiro, a peça-chave
da reportagem é a interferência da primeira-dama. Dos
questionamentos ao longo da reportagem não entendi se os
vereadores ficaram magoados por não terem sido convidados
ou se não aprovaram o sistema porque não passou pelo
Câmara. Vou te contar uma história, mas gostaria que
não fosse gravada.
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