Por Paulo de Tarso Venceslau
O
email não deixa dúvidas: Fernando Gigli Torres,
chefe de Gabinete do prefeito Roberto Peixoto, para saldar
uma dívida da Prefeitura, pagou a TV Vanguarda, através
da ACIT, com sua poupança pessoal. Qualquer semelhança
com Paulo Okamoto, o amigo e compadre de Lula que pagou
as contas do presidente com recursos de origem desconhecida,
não é mera coincidência.
Iluminatau
foi uma campanha de Natal que tinha tudo para dar certo.
Projetada pela agência é! propaganda foi aprovada
pela Associação Comercial e Industrial de
Taubaté (ACIT), pelo movimento Viva Centro e pela
prefeitura municipal. São três instituições
acima de qualquer suspeita. Certo? Errado. As duas primeiras
– ACIT e Viva Centro - provaram que agem de acordo
com as regras vigentes. Os inquilinos do Palácio
Bom Conselho, porém, mostraram, mais uma vez, desconhecerem
os procedimentos mais elementares da administração
pública.
Na quarta-feira, 15, surgiram as primeiras pistas. Um funcionário
de um departamento da prefeitura ligado a eventos leu um
e-mail trocado entre funcionários da TV Vanguarda
a respeito de dois títulos de cobrança –
um pago e um em aberto – a respeito da campanha de
Natal 2006, batizada de Iluminatau.
O e-mail relata, entre outros pontos que:
“A
ACIT está em débito, título 003221,
R$ 8.877,70, vencido em 15/01/2006”. (...) Fernando
Gigli disse que pagaria com verba de Carnaval. Porém,
cinco dias depois Fernando Gigli “disse que não
tinha previsão de pagamento, pois o anterior ele
já tinha pago com dinheiro dele que havia tirado
da poupança e sugeriu que o André [Saiki,
presidente] da ACIT fizesse o mesmo para quitar este [título]
que está em débito”.
O email conclui que só restava a saída de
enviar o título “para o protesto em cartório”
Esse
e-mail chegou à nossa redação pelas
mãos de um funcionário da prefeitura.
Prefeitura com a palavra
Antônio
Roberto Paolicchi, diretor de Turismo, informa que a Vanguarda
fez questão de faturar em nome da ACIT porque a prefeitura
não tinha conseguido fazer os empenhos das despesas
do evento, condição sine qua non para que
o governo municipal possa efetuar o pagamento. A ausência
de empenho teria sido provocada por dois motivos: atraso
por parte da prefeitura que só aprovou o projeto
no início de novembro e inchaço de itens que
teriam extrapolado o planejado.
Maria Luiza da Costa, a Malu da é! propaganda, agência
que venceu a disputa pela conta da campanha de Natal, confirma
o atraso mas não aceita o inchaço. Segundo
a sócia da agência, o evento seguiu rigorosamente
o planejado. Isso contradiz a informação de
que dona Luciana Peixoto teria embutido vários itens
como portais e ornamentação de praças
que teriam inflacionado o custo planejado.
Para Paolicchi, não se pode dizer que houve qualquer
tipo de dolo no pagamento efetuado por Fernando Gigli. “Ele
apenas antecipou o pagamento [à Vanguarda] e pediu
para que o André [Saiki, da ACIT] fizesse o mesmo.
Mas o André disse que não [faria qualquer
adiantamento] porque não tinha como fazê-lo.
Acontece que a despesa geral não coube na verba do
Banespa. Hoje ainda existe uma pendência de R$ 10.500,00
[não paga] do Natal e do Carnaval”.
Paolicchi avança em sua explicação.
“A prefeitura não empenhou as despesas porque
para sair como a ACIT queria – portais etc –
a verba estourou. O pagamento da imprensa [por exemplo]
ficou de fora. E agora a prefeitura está pedindo
que colaboradores banquem essa despesa”, afirma o
diretor de Turismo, que não se conforma com o fato
de a imprensa ter sido discriminada nos pagamentos realizados
até agora. “Não entendo como a Odila
[Sanches, diretora de Finanças da prefeitura] deixou
passar uma coisa dessa” (não pagar a imprensa),
completa Paolicchi.
O prefeito Roberto Peixoto, seu chefe de Gabinete e a diretora
de Finanças não retornaram nossas ligações.
Versão da agência é! propaganda
Segundo Malu, diretora da agência
é! propaganda, o planejamento do evento estava pronto
desde junho de 2005. Teria ficado acertado que a ACIT ficaria
responsável pelo pagamento da sua agência porque
a prefeitura teria de fazer uma licitação
uma vez que a agência não tinha qualquer ligação
com a prefeitura.
Malu não admite porém que tenha havido inchaço
nas despesas previstas no planejamento “que estava
pronto desde junho quando foi apresentado à ACIT”,
afirma a sócia da agência.
Essa informação põe abaixo o argumento
do diretor do departamento de Turismo, Antônio Roberto
Paolicchi, na sua explicação sobre não
existência de empenho por parte da PMT. Segundo Malu,
“nem todos os departamentos estavam cientes do projeto
como um todo, só aprovado no início de novembro”.
Se a PMT até aquela data não havia feito qualquer
empenho, com certeza não teria tempo hábil
para fazê-lo em condições de cumprir
com os procedimentos legais exigidos. Desse modo, a experiente
Vanguarda teria recusado qualquer compromisso com a prefeitura
uma vez que sabia que o mesmo não poderia ser cumprido
dentro dos preceitos legais.
Fernando “Okamotto” Gigli
Diante
desse quadro, só restava uma saída não
ortodoxa por parte do Poder público municipal. CONTATO
foi atrás e descobriu que o pagamento feito por Fernando
Gigli Torres, chefe de Gabinete de Roberto Peixoto, por
exemplo, foi em espécie. Isso mesmo. Mais de R$ 7
mil em luletes, como diria o Barão P4. Uma em cima
da outra. Ou seja, Gigli retirou de sua poupança
mais de 7 mil luletes para pagar uma dívida com a
prefeitura. Quanta generosidade!!
O
Ministério Público poderia perfeitamente entrar
em cena pedir autorização judicial para rastrear
sua conta para saber se de fato dali foi sacada a referida
quantia. Ganha uma viagem pra Lua quem não souber
responder a pergunta: “Qual a origem da grana usada
para pagar a Vanguarda?”
Interessante também a reação da é!
propaganda. Trata-se de uma versão negada por Malu,
mas confirmada por outros agentes envolvidos. Diante da
sugestão de receber diretamente da Vanguarda a comissão
devida pela prefeitura, a é! propaganda recusou-se
por uma razão muito simples: não teria como
explicar a origem dos recursos recebidos. Uma preocupação
que não incomoda o chefe de Gabinete do prefeito
Roberto Peixoto que usa recursos pessoais para pagar contas
da prefeitura.
A mesma preocupação da agência aflige
também a ACIT. Consultado por telefone, André
Saiki, presidente da entidade, confirmou que recebeu da
prefeitura os recursos necessários para pagar a primeira
parcela da dívida com a Vanguarda mas se recusou
a tecer qualquer outro comentário a respeito da segunda
parcela e do conselho sugerido por Gigli: pagar o título
com recursos pessoais, como teria feito o chefe de Gabinete.
Informado que Paolicchi afirmara que a ACIT seria a responsável
pela inclusão de novos itens no projeto original
como portais e mais iluminação, Saiki nega
“que tenha partido da ACI qualquer proposta adicional
ao projeto original que pudesse ter provocado o estouro
do orçamento para a campanha de Natal”.
Nossa reportagem apurou que a Vanguarda já protestou
o título 003221 em nome da ACIT, no valor de R$ 8.877,70,
que deverá ser acrescido de juros e multa. A Vanguarda
confirmou que o referido título já estava
protestado.
Conclusão
Salta
à vista que enquanto empresas e instituições
sérias não admitem, de maneira alguma, utilizar-se
de procedimentos informais mesmo nesses tempos pós
delubianos marcados por operações não
contabilizadas, o prefeito Roberto Peixoto se cala e está
cada vez mais parecido com o presidente Lula: nunca sabe
de nada. Mesmo quando as denúncias são comprovadas.
Tal qual Lula, nosso prefeito insiste em desconhecer a avalancha
de denúncias que envolvem seu chefe de Gabinete.
Bastava um pequeno levantamento junto à imprensa
e ao Ministério Público para ver que sobram
impressões digitais de Fernando Gigli na maioria
dos negócios suspeitos realizados pela prefeitura.
Negócios que trazem obrigatoriamente a chancela de
Luis Rodolfo Cabral, diretor Jurídico, que não
consegue explicar a inexplicável ilegalidade desses
mesmos negócios.
Finalmente, Fernando Gigli Torres, tal qual Paulo Tarciso
Okamotto, presidente do Sebrae, parece desfrutar da virtude
de ter se transformado em O +, doador universal, como ficou
conhecido Okamotto, responsável por misteriosos e
generosos pagamentos das contas de seu compadre e amigo
Lula.