Com
leis e livros, assim, se constrói um país,
sentenciava Lobato, desde sempre. Tendo sido o paladino
da leitura no país, alegava que era fatal a cadeia
lógica que se seguia à falta de leitura,
decidindo que sem leitura não haveria discurso,
fala; não poderia haver escrita, também
não haveria como ouvir e entender, não
se veria, pois não restaria como apreciar obras,
coisas, objetos, fenômenos sociais.
Ainda hoje, “não vemos”, mas despendemos
importâncias surpreendentes para dispensar o mais
importante dos trabalhos dos professores, aquele ligado
às propostas educacionais com vistas para a educação
da leitura e da educação para o conhecimento,
em Taubaté. Uma empresa foi escolhida para pensar
por todos, desobrigando competentes técnicos
de sua tarefa essencial. Agora, uma empresa paranaense
pensa por todos os competentes mestres de Taubaté,
remunerada pela módica importância de trinta
e três milhões de reais.
Encaixota-se o saber da cidade, adotando técnicas
e caminhos que também se prestam ao Oiapoque
e ao Chuí, recriando o país de um modo
novo e obtuso: por escolha da empresa fornecedora de
apostilas para o ensino de Taubaté, pouca ou
nenhuma diferença existe na língua falada
nesses “países” brasileiros, uniformizando-se
fonética, prosódia, vocabulário,
hábitos e costumes, como se o pensamento brasileiro
não fosse expressão de importantes dialetos,
história, raízes, acentos.
Decreta-se a unicidade dos desiguais e eliminam-se as
riquíssimas e necessárias capitais regionais
do pensamento, escrita, vocabulário, ambições,
projetos de crescimento. O país perde o relevo
das diferenças e se decreta a planície
falsa das igualdades, colocando pijama nos pedagogos,
a bem de uma harmonia que é das mentiras mais
convenientes da educação atual em nosso
país e em Taubaté, de modo mais imediato.
A apostila adotada atua como uma motoniveladora, colocando
tudo e todos em um único plano, dispensando as
bibliotecas, o que, aqui entre nós, não
abala nada e coisa nenhuma, pois as existentes projetam
o acanhamento de seus dirigentes, incapazes de impor
processos dinâmicos de multiplicação
de leituras e de leitores, conservando acervos desrespeitosos
e acanhadores, regidos por burocracia, regrinhas preguiçosas,
acervos de envergonhar Jeca.
O acanhamento do “sistema” tem a ver com
a timidez que inibe crescimento, aperfeiçoamento,
operacionalidade de gestores, mais ocupados em cultivar
poses, inventar gestos, como ilusionistas e incompetentes
pilotos de acanhadores acervos capazes de ruborizar
cidades de dez mil habitantes.
Para onde vamos? Vamos para uma série de artigos
onde se pretende traçar uma radiografia de nosso
grotesco insucesso, sempre acompanhado pelo orgulho
dos energúmenos que não lêem, não
falam, não escrevem, não ouvem e não
vêem.
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