Por Pedro Venceslau

CONTATO - Muitas versões diferentes têm aparecido na mídia sobre o seu futuro profissional. Já falaram que você iria para Band, SBT...
Boris Casoy
– A maioria destas notícias é pura especulação. Mas é evidente que estou conversando com as emissoras. Só não quero adiantar nada por enquanto.

CONTATO - Fontes do alto escalão da Record afirmam que, no começo do ano passado, encomendaram uma pesquisa onde o público apontou diversos problemas no seu telejornal: lentidão, excesso de opinião, overdose de manchetes de Brasília. Por isso, decidiram promover uma mudança radical, mas você não aceitou...
Boris
– Em primeiro lugar, eu coloco dúvidas sobre a metodologia aplicada. Trata-se de uma pesquisa de mercado, auxiliar, ligeira e que sofre contestações científicas. De qualquer forma, nós combinamos um tipo de pesquisa e a Record fez outra. E o resultado não apontou nada disso. Não disse que havia comentários demais, nem excesso de notícias de Brasília. É importante ressaltar que a pesquisa não era sobre o nosso telejornal, mas comparativa entre o "Jornal da Record" e o "Jornal Nacional". A pesquisa, de fato, apontou várias falhas. Entre elas, que o cenário novo, que já era parecido com o da Globo, era muito ruim. E sugeriu, entre outras coisas, que se melhorasse a reportagem e que faziam falta correspondentes internacionais.

CONTATO - Foi o resultado dessa pesquisa que levou a emissora a idealizar um "clone" do "Jornal Nacional"?
Boris -
Antes da pesquisa, já haviam me pedido para fazer alguma coisa parecida com o "Jornal Nacional". Essa era a idéia e incluía dividir a bancada com uma moça bonita e inteligente. Eu me recusei. Não faria com prazer uma imitação do "Jornal Nacional", um clone. Nem entro no mérito se a Record estava certa ou errada. Eu simplesmente não faria. Minha proposta sempre foi de jornal ancorado, com um âncora que é também o editor-chefe e tem independência. Foi nessa época que a Record convidou a Fátima e o William Bonner.


"Eu não faria com prazer uma imitação do Jornal Nacional"


CONTATO - Como você se sentiu quando ficou sabendo do convite?
Boris
- Eles, é claro, desmentiram. Mas acho que é um direito da emissora. Tenho 50 anos de jornalismo. Já subi e desci de diversos cavalos. Essa é mais uma história. Claro que mexeu comigo, mas não foi nada profundo. Foi um episódio da vida profissional. Faz parte.

CONTATO - Por que o "Jornal da Record" não conseguia decolar na audiência?
Boris
- Porque sofria constantes mudanças de horário. Quando estreou a novela ele chegou a mudar todo dia de horário.

CONTATO - Você sentia muita pressão por audiência?
Boris
- Não. Eu nunca modifiquei o jornal em função de audiência. Não resvalei o mundo cão, nem apelei. Um jornal sério não pode fazer isso.

CONTATO - Uma das teses que circularam na mídia sobre a sua saída da Record foi de que houve pressão do Governo Federal pela sua demissão, já que o bispo Marcelo Crivella e o Lula teriam fechado um acordo político no Rio de Janeiro.
Boris
- Essa pressão, como você relatou [no Portal Imprensa], de fato existiu. Mas a Record nunca me pressionou. Pelo contrário. Eles sempre me deixaram a par dos acontecimentos. Agora, as pessoas e o meio político me dizem que as razões da minha demissão foram políticas. Eu não posso endossar essa opinião. Só tive um episódio estranho. No dia em que se realizou, já no final do ano passado, uma campanha publicitária para promover o "Jornal da Record", um dos diretores sugeriu que a gente colocasse no pé da página do anúncio a frase: "Brasil, um país de todos". Eu, é claro, não topei. Eu disse: "Você está brincando. Isso é um slogan do governo". Foi um sinal estranho. Mas os outros diretores também vetaram essa idéia.

CONTATO - Por que a negociação com a Record foi parar no tribunal?
Boris
– No dia 30 de dezembro, uma sexta-feira, de maneira surpreendente, o Bispo [Honorilton] Gonçalves me chamou e disse que a Record havia decidido rescindir o meu contrato. Naquela noite, eu, a Salete [Lemos] e o Dácio Nitrini [diretor do Jornal da Record] fomos impedidos de apresentar o jornal. Eu e a Record, então, combinamos que faríamos um acordo sobre a multa. Começaram as negociações. Só que eu achei que aquilo estava parecendo mais uma compra e venda da feira de Acari do que uma negociação séria. Foi uma negociação humilhante e eu resolvi encerrar, ir à justiça para cobrar o que meu contrato determina.

CONTATO - Você já passou por grandes redações - como SBT e Folha de S. Paulo - e cobriu vários governos. Esse tipo de pressão já havia acontecido antes?
Boris
– Que eu tenha tomado conhecimento, não. Só o governo Lula agiu dessa maneira. Sempre tive discordâncias ideológicas com o PT, mas sempre respeitei a democracia no partido, a ética e o cuidado que eles pareciam ter com os negócios públicos. Isso tudo se desvaneceu.

CONTATO - Qual o grande legado do governo Lula?
Boris
– O grande legado é que o Brasil virou a rabeira do mundo. Tem um desenvolvimento pífio, só superior ao Haiti. O Lula tem um carisma muito grande e até pode vencer as eleições em função disso. Mas ele derrotou o sonho de muita gente. Fui acusado, muitas vezes, de ser lulista devido à intensidade da presença dele nos meus programas, antes dele ser eleito. Lula sabe disso e me agradeceu pessoalmente em duas campanhas. Uma vez no poder, o PT revelou seu verdadeiro caráter. Não todo mundo, mas a maioria.

CONTATO - Você acha que existiu, durante a crise, um clima de perseguição da mídia às esquerdas, como insistem os dirigentes do governo?
Boris
- Não é verdade. Para começar, o PT não é a única esquerda. Os outros partidos estão aí. Pergunta isso para o pessoal do PSOL, que é uma dissidência do PT e tem muito caráter ético e ideológico. Tudo isso que aconteceu foi dentro da base governamental.

CONTATO - Recentemente, o William Bonner comparou, diante de uma platéia de professores de jornalismo, o espectador médio do Jornal Nacional ao personagem Hommer Simpson. Esse comentário gerou uma enorme polêmica.
Boris
- O termo usado pelo Bonner foi infeliz, uma simplificação. Mas ele foi correto e honesto dentro de uma certa visão. Essa comparação representa uma das correntes predominantes na televisão, que imagina o telespectador médio menos dotado de inteligência do que ele realmente é. Essa corrente pensa no público como uma massa disforme, com vocabulário reduzido, que não consegue entender os fatos da política e da economia.

CONTATO - Você faz parte dessa corrente?
Boris
– Não. Eu faço parte da outra, da corrente que acha que a grande maioria da população entende as notícias e os fatos da economia e da política. O jornalismo que explica, mostra e comenta, provoca o exercício do debate político. É a busca pela audiência a qualquer preço que leva a essa visão de que espectador médio é um estúpido.

CONTATO - Você pensou em se aposentar depois da saída da Record?
Boris
– Eu decidi voltar a trabalhar, mas não sabia que a vida de vagabundo era assim tão gostosa (risos). Eu estava cansado, tanto física como emocionalmente. Estou me recuperando.

CONTATO - Como foi sua experiência como assessor de imprensa?
Boris
– Fui assessor de quatro políticos: Herbert Levy, secretário da agricultura, em 1968; Antônio Rodrigues Filho (pai do atual ministro da agricultura, Roberto Rodrigues), que substituiu Herbert; Luis Fernando Lima, ministro da agricultura, em 1970; e Figueiredo Ferraz, prefeito de São Paulo, em 1971. Foi uma experiência muito boa. Provei para mim mesmo que era possível fazer assessoria de imprensa, representando a imprensa dentro do seu gabinete. Eu era um instrumento de garimpagem de informação dentro do poder público. Foi na secretaria e no Ministério da Agricultura que eu conheci o Brasil.

CONTATO - Você voltaria a trabalhar com assessoria de imprensa hoje?
Boris
– Hoje não. Estou em outro estágio da minha carreira de jornalista.

CONTATO - Silvio Santos e Igreja Universal: com qual dos dois patrões você se sentiu mais à vontade?
Boris
– Me senti muito à vontade tanto com Silvio quanto com a Igreja Universal. Acho, inclusive, que a visão que as pessoas têm da Universal é equivocada. Nunca fui pressionado e sempre tive independência nos dois canais.

CONTATO - Como surgiu essa história de que você fazia parte, nos anos 60, do CCC (Comando de Caça aos Comunistas)?
Boris
- Foi uma acusação mentirosa da revista O Cruzeiro. Nesta publicação, também foram acusados de pertencer ao CCC dois estudantes que estavam treinando guerrilha em Cuba e quase foram condenados à morte. Só não morreram por interferência do Miguel Arraes. Existem livros na boca do forno onde o próprio pessoal que participou da guerrilha me defende. Esse episódio mostra como a imprensa pode matar a honra das pessoas. Essa história, que foi extremamente negativa na minha vida, serviu para eu aprender a tomar muito cuidado com a honra alheia. Eu senti na carne, eu sei como é. Acabei entrando até em lista de morte.

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