Como muitos sabem, o drama dos brasileiros
que vivem fora do Brasil me comove. Tenho dedicado pesquisas
pacientes a este tema que, contudo, continua atordoando
a muitos que têm sensibilidade para apontar que as
razões do drama que vão além dos percalços
econômicos nacionais e da busca de oportunidades materiais.
Sempre achei que mais do que as explicações
financeiras ou profissionais há impulsos que são
de outra ordem: sentimentais, de reorganização
dos projetos pessoais e íntimos, fatores que, afinal,
também determinam mudanças. Entre tantos temas
decorrentes desse fluxo imigratório acelerado, as
histórias de amor me enternecem. Presto bastante
atenção a casos especiais e ao longo dos meses
vou juntando recortes de jornais com histórias. Nesta
linha, tenho notado que quase sempre mulheres brasileiras
são envolvidas em crimes, alguns trágicos
demais. Mesmo sabendo que este problema afeta também
outros grupos migratórios, vale ressaltar o nosso
caso.
Em meados de dezembro de 2005, os jornais noticiavam mais
um caso que nos últimos cinco anos tem aumentado
geometricamente. Uma jovem paulista de nome Ana Elisa Toledo,
de 24 anos, foi assassinada enquanto dormia, no Estado do
Colorado, em Denver, onde fora estudar. O criminoso era
seu ex-namorado, de apenas 19 anos, um tcheco também
imigrante que lhe desferiu várias facadas e, sozinha,
reclusa em um quarto, ela morreu.
Esta história me fez recordar outras que, como sempre,
aqui como alhures, trazem as mulheres como vítimas
preferenciais. O caso de Ana Lúcia Bandeira Bezerra,
a dançarina de 31 anos que morreu de overdose de
cocaína, em Gênova, no mês de setembro,
chamou atenção por ela ter sido induzida ao
consumo pelo ator italiano Paolo Calissano. Em outubro do
mesmo ano, uma carioca de 17 anos, de nome Janaina Reis,
foi morta em Deefield Beach, na Flórida, pelo porto-riquenho
Juan Rafael Arrieta-Rolón, de quem era namorada por
apenas duas semanas. Em todas as histórias, sexo,
ciúme e violência se misturam em uma combinação
fatal.
Estes casos mostram que há uma cruel marca comum:
a solidão das moças que buscam compensação
em amores arriscados. O fato de termos cerca de um óbito
por mês faz com que pensemos nas razões específicas
que caracterizam os crimes de brasileiras fora do Brasil.
Logicamente, não nos basta repetir que “ora”
repete-se uma prática que é quase universal:
homens matando mulheres em casos de amores escusos ou impossíveis.
Fora do país, sem instituições que
as protejam e sempre carentes de aparo familiar e mesmo
de amizades, estas garotas se mostram mais vulneráveis.
Outro aspecto a ser notado é a relação
com amantes ou companheiros, sempre estrangeiros. Isto coloca
em evidência mais um ponto importante: a questão
cultural e a compreensão do que significa o uso do
corpo em situações de deslocamento identitário.
É lógico que é rico pensar em amores
de pares de culturas diferentes. Quantos exemplos positivos
temos! Mas, no caso de moças solitárias, principalmente
fora do país de origem, muitas vezes, a confusão
entre a busca de companhia e parceria por sexo puro e simples
pode levar a situações em que o confronto
cultural chegue ao limite do suportável. Ademais,
a constatação de que casos inversos, ou seja,
de homens brasileiros que se relacionam com mulheres estrangeiras,
principalmente em face da imigração fora do
Brasil, refletem melhores resultados, nos faz pensar nas
razões profundas que permitem tais circunstâncias.
Pensando na gravidade do problema e levando-se em conta
a questão da solidão das mulheres no exterior,
cabe notar que além de se manter uma regra infeliz
de subjugo do sexo feminino às premissas do machismo,
duplica-se o risco que apenas pode ser aliviado se mais
do que buscar parceria houver esclarecimento cultural. E,
é claro, amor.