CONTATO
- Quem é Paulo Okamotto?
Paulo de Tarso Venceslau - É o homem em quem Lula
deposita toda confiança. Trata-se de um ex-funcionário
administrativo da Volkswagen, em São Bernardo. Na minha opinião,
sua ascensão no movimento sindical deveu-se a dois fatores:
a amizade com Lula e o fato de ter um conhecimento, tal como saber
as quatro operações, um pouco acima da média
da militância sindical.
CONTATO
- Desde quando você o conhece?
Venceslau - Desde o começo dos anos 1980. Além
de ter sido um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, fui
assessor da CUT – Central Única dos Trabalhadores –
entidade que ajudei a criar. Se você consultar a bibliografia
e filmes sobre a criação da CUT, você vai encontrar
imagens e textos com minha participação. Muitas teses
apresentadas em congressos contaram com minha contribuição.
Essa militância me aproximou de todo esse pessoal da CUT e
do PT.
CONTATO
- Como começou seu confronto com o PT?
Venceslau - Tive a (in) felicidade descobrir uma série
de falcatruas que eram sistematicamente cometidas por empresa (CPEM)
que era representada pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de
Lula e proprietário da casa onde o ex-líder metalúrgico
residiu de graça de 1989 a 1999. Essa empresa já havia
recebido cerca de US$ 10 milhões e ainda tinha mais de US$
6 milhões para receber da prefeitura de São José
dos Campos, onde eu era secretário da Fazenda. Meu erro foi
acreditar que era para valer o que estava escrito no estatuto do
PT. Foi um aprendizado que me custou muito caro.
CONTATO - Qual seria o exemplo mais
visível da mudança ocorrida com o PT:
Venceslau - A grotesca dança da deputada Ângela Bailarina
Guadagnin sintetiza tudo. Por exemplo. Quando ela me exonerou da
prefeitura em 1993 a pedido de Lula por intermédio de Paulo
Okamotto, ela chorou copiosamente. Ela se sentiu violentada naquele
momento porque eu era o queridinho da então prefeita de São
José porque estava trazendo resultado excelentes para sua
administração. Mas, como bom soldado, Ângela
cumpriu as determinações superiores. Treze anos depois,
ela não se sentiu nem um pouco violentada quando assumiu
a triste tarefa de defender um mensaleiro confesso de ter recebido
R$ 400 mil do valerioduto. Não satisfeita, fez questão
de dançar de alegria perante as câmeras de todo o Brasil.
Foi a maior agressão que já assisti ao cidadão
comum que paga seus impostos em dia. Foi um verdadeiro escárnio.
CONTATO - E os dirigentes petistas?
Venceslau - Estavam em suas casas bebericando caras e importadas
bebidas para comemorar na moita (eles não são burros
nem loucos) a “vitória” da safadeza sobre a opinião
pública nacional. A infeliz bailarina, como pau mandado,
não conseguiu resistir e mostrou à Nação
o verdadeiro sentimento dos petistas que tomaram de assalto a máquina
do Estado para colocá-la a serviço do seu partido.
“Meu erro foi acreditar que
era para valer o que estava escrito no estatuto do PT. Foi um aprendizado
que me custou muito caro”
CONTATO - Mas vamos ao que interessa,
como se sentiu frente a frente com Paulo Okamotto?
Venceslau -A sensação é indescritível.
Eu entrei sozinho no Senado e de repente lá estava diante
de feras. Não tenho qualquer intimidade com aquele ambiente.
Um jornalista me avisou que Okamotto já havia chegado e se
encontrava na sala da liderança do PT. E eu ali sentado,
me sentindo abandonado entre senadores e a imprensa nacional de
todas as mídias imagináveis. Foi uma eternidade de
minutos que não passavam nunca. Ainda bem que dessa vez eu
levei algumas balas para adoçar a boca e tirar o gosto de
guarda-chuva grudado na boca seca.
CONTATO
- E quando Okamotto entrou?
Venceslau - A sensação que já era
indescritível transformou-se em estranha. Muito parecida
com a que tive diante de Lula nos tribunais de São Paulo
durante as ações que ele moveu contra mim e perdeu.
Eu sabia que por trás de Okamotto, além de sua frieza
e mau-caratismo ele dispunha de um pequeno exército formado
por senadores e advogados e recursos legais que permitiam optar
por responder ou não as questões formuladas pelos
senadores. Nossos olhares se cruzaram. Olhei-o fixamente. Olho no
olho. Ele me encarou por apenas alguns segundos. Eu tinha e tenho
a convicção de que a força da verdade sempre
se impõe.
CONTATO
- O que lhe passou pela cabeça?
Venceslau - Eu não admitia frustrar meus amigos
e companheiros que naquele momento eu tinha a certeza de que estavam
acompanhando pela TV, pela internet ou por rádio aquele esperado
confronto. Mesmo sabendo que não havia muito mais a acrescentar
no depoimento que havia feito ali mesmo no dia 17 de janeiro. Além
disso, eu não tinha a menor idéia de como seria conduzida
a acareação. Eu sabia da minha história mas
não sabia como a peça seria conduzida pela mesa diretora
e muito menos o script de cada um dos outros atores. Apesar de não
se tratar de uma peça teatral, não dá para
negar que existe um pouco (ou muito) de dramaturgia. Um “espetáculo”
que não tem hora para terminar. É barra!!
CONTATO
- Você se limitou ao que já havia contado à
CPI ou trouxe novos elementos?
Venceslau - Creio que trouxe pelo menos dois episódios
novos: sobre a história da agência Contexto na prefeitura
de São José dos Campos, que envolve a TVT e revela
a longa parceria entre Lula, Zé Dirceu, Delúbio, Gushiken
e Paulo Okamotto entre outros; e o apartamento onde moravam militantes
da CUT e do PT.
“Quem
assistiu a transmissão viu que minhas afirmações
estavam baseadas em relatórios produzidos pelo próprio
PT”
CONTATO
- Que história é essa da Contexto?
Venceslau - Na prefeitura de São José havia
uma diretora de Comunicação chamada Denise Fonseca
de Carvalho, uma capixaba enviada pela direção petista.
Essa moça era casada com Vitor Salazar, um ex-dirigente da
UNE no final dos anos 1980, e que assumiu a secretaria de Governo
na segunda fase do governo de Ângela. Esse casalzinho não
devia saber sequer onde era São José antes de ir para
lá. Denise contratou a agência Contexto para produzir
programas promocionais da prefeitura para serem exibidos nas TVs.
Acontece que Denise condicionou a assinatura do contrato à
contratação da Rede de
Comunicação dos Trabalhadores – TVT, fundada
e dirigida por Lula, Zé Dirceu, Delúbio Soares, Gushiken,
Paulo Okamotto, etc. O contrato da Contexto com a TVT era verbal
(até parece o pagamento que Gigli fez na boca do caixa da
ACIT) sem qualquer recibo. O escândalo estourou, a Câmara
pediu o impeachment de Ângela que só foi salva porque
rolou muita, mas muita, grana entre os vereadores. A origem da grana
e outros quejandos estão até hoje na Justiça.
Tomara que a CPI reabra esse caso.
CONTATO
- E o apartamento?
Venceslau - Apareceu porque Okamotto destacou sua carreira
profissional. Eu não agüentei e relatei alguns de seus
“empregos” na Gráfica FG (de fundo de greve)
e na casa noturna KVA, de propriedade de Marília Andrade,
herdeira da empreiteira Andrade & Guierrez e ex-mulher de Luis
Favre, atual marido de Marta Suplicy. Fiz questão de omitir
detalhes para não constranger nem Marília e nem o
senador Suplicy, ex-marido de Marta. Porém, o senador fez
questão de sair em defesa da “generosidade de Marília”.
Eu me restringi ao ao adjetivo usado pelo senador para falar que
os empregos de Okamotos era todos frutos de generosidade do Sindicato
dos Metalúrgicos de São Bernardo, de Lula, de Marília
Andrade. Marília é tão generosa que cedia gratuitamente
um apartamento na Alameda Casa Branca, em São Paulo, para
abrigar dirigentes da CUT e do PT. Suplicy não sabia da história
e Okamotto acabou confessando que ele havia morado naquele apartamento
porque ele era o seu administrador.
CONTATO
- E aí?
Venceslau - Eu apenas chamei a atenção para
fato de Okamotto nunca ter administrado nada que colocasse em risco
algum recurso pessoal, como é o caso de milhares pequenos
empreendedores ligados ao Sebrae do qual ele é presidente.
Como é que alguém que vive de generosidades pode propor
alguma solução para os problemas que afligem os micro
e pequenos empresários? Portanto, seu emprego no Sebrae não
passa de mais uma generosidade de Lula com nosso pobre dinheirinho.
CONTATO
- Mas o que a CPI esperava dessa acareação?
Venceslau - Acredito que os senadores da oposição
esperavam que surgisse uma brecha para pedir a quebra de sigilo
bancário, fiscal e telefônico de Okamotto. Não
sei se conseguiram. Mas deixaram claro que ficaram mais convencidos
de que se esse sigilo for quebrado o impeachment do presidente Lula
seria inevitável.
CONTATO
- Você não se incomodou em ser chamado de mentiroso
pelo Olamotto?
Venceslau - Quem assistiu a transmissão viu que
minhas afirmações estavam baseadas em relatórios
produzidos pelo próprio PT. Um deles assinado pelo jurista
e ex-deputado Hélio Bicudo, pelo deputado federal José
Eduardo Cardoso e pelo economista Paul Singer. Por isso mesmo eu
respondi inúmeras vezes com a pergunta/afirmação:
você, Okamotto, está mentindo agora ou mentiu lá
atrás para a direção do PT?
CONTATO
- Qual sua avaliação final?
Venceslau - É muito difícil para que se submete
a quase 6 horas de “tortura” avaliar seu desempenho.
Porém, baseado na repercussão extremamente positiva
da grande mídia e da quantidade de manifestações
de solidariedade que recebi e continuo recebendo me passa a agradável
sensação de dever cumprido. Espero ter mais sossego
de agora em diante.
“Eu
tinha e tenho a convicção de que a força da
verdade sempre se impõe”
CONTATO
- Qual sua expectativa daqui pra gente?
Venceslau - Espero e torço para que a maravilhosa
militância abra os olhos e ponha ordem naquele partido que
era uma esperança e se transformou na maior decepção
que se tem registro da história para pelo menos 55 milhões
de brasileiros que votaram em Lula. Tenho certeza que o fim de figuras
como Zé Dirceu e o caudilho Lula poderá fazer com
que a militância petista reconstrua aquele partido com base
em valores e princípios éticos que foram abandonados
ao longo dessa caminhada. Se isso vier a ocorrer, tenho certeza
que a democracia brasileira será beneficiada. Pelo menos,
nossas instituições correrão um risco menor
de serem assaltadas por aventureiros que buscam de forma obsessiva
o poder pelo poder.
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