Acompanhado por quatro
funcionários da prefeitura, Fernando Gigli Torres,
chefe de Gabinete do prefeito Roberto Peixoto (PSDB) e
presidente da Comissão Permanente de Licitação
da prefeitura, esteve reunido com alguns vereadores, na
Câmara, na tarde de segunda-feira, 3. Objetivo:
esclarecer denúncias de que ele teria pago, em
dinheiro, à TV Vanguarda, através da ACIT
(Associação Comercial e Industrial da Taubaté)
pouco mais de R$ 7 mil, referente a dívidas da
prefeitura de Taubaté com a emissora para a divulgação
da campanha Iluminatau, em dezembro do ano passado. O
caso foi publicado com exclusividade por CONTATO (edição
262) há cerca de 15 dias.
Gigli apresentou-se espontaneamente na segunda-feira,
3, na Câmara, antes que fosse votado o pedido de
convocação apresentado por Jéferson
Campos (PT) com as assinaturas dos vereadores Roderico
Rocha (PSC), Maria Gorete (sem partido), Waldomiro Silva
(PL), Maria Tereza Paolicchi (PSC), Orestes Vanone (PSDB)
e Pollyana de Araújo (PPS). Na quinta-feira, 30,
ele protocolou junto à Câmara uma carta em
que se comprometia apresentar-se no dia 3, um dia antes
da convocação.
Com alguns minutos de atraso, o encontro começou
tumultuado. Na ausência do presidente da Câmara,
vereador Henrique Nunes (PPS), que estava na Casa cuidando
de outros assuntos, Luizinho da Farmácia (PDT)
tentou evitar a presença da imprensa dentro da
sala, no segundo andar, onde Gigli esteve reunido com
os vereadores. Logo ao primeiro sinal de resistência,
o pedetista engrossou: “a imprensa não vai
participar”. Foi o suficiente para que os vereadores
Orestes Vanone (PSDB) e Jeferson Campos (PT) deixassem
a sala.
Depois de ouvir a confusão, Henrique Nunes, que
estava num cômodo ao lado, entrou na sala junto
com os outros vereadores e disse que a reunião
deveria ser aberta à imprensa. Luizinho retrucou:
“Vai participar [a imprensa] porque o Henrique Nunes
deixou, porque eu não deixo”.
A confusão entre Luizinho e jornalistas se estendeu
por mais alguns minutos. “Queria que a conversa
fosse só com os vereadores porque ele [Gigli] veio
espontaneamente. Quem tem que provar é quem acusa.
Se o jornal não tem provas não é
equivoco, é maldade. O Paulo [de Tarso] que traga
as provas para nós das denúncias publicadas.
O questionamento é um só: manda o Paulo
trazer as provas que ele tem”, comentou Luizinho.
A reunião prevista para iniciar às 15h foi
aberta por volta das 15h30, quando Henrique Nunes comentou
inicialmente que “a reunião não é
secreta e por isso não é preciso tirar a
imprensa”. A postura de Nunes foi elogiada por Maria
Gorete: “parabéns ao presidente pela sensibilidade,
a reunião é pública”.
Chico Saad (PMDB), por sua vez, comentou que pediu destaque
do requerimento apresentado por Jéferson Campos
- solicitando a convocação de Gigli –
porque um “requerimento dessa envergadura tem que
ser muito bem discutido antes de ir a plenário.
Isso, depois, pode se tornar uma CEI [Comissão
Especial de Inquérito]”, justificou em referências
às críticas recebidas da imprensa.
Antes que Gigli respondesse a primeira pergunta, o peemedebista
tentou trazer novamente a polêmica sobre a presença
da imprensa. “Gigli é a pessoa mais indicada
aqui dentro para decidir se a imprensa permanece ou não”,
mas não surtiu o efeito esperado. A insistência
de Saad chegou a incomodar alguns vereadores, como Orestes
Vanone que chegou a dizer que o peemedebista “dá
a impressão que está advogando para a prefeitura”.
Assim que Jeferson Campos abordou o motivo do encontro,
o chefe de gabinete negou todas as acusações
e apresentou uma cópia do pagamento feito pela
ACIT à Vanguarda, um extrato bancário e
um extrato do Imposto de Renda referente a 2004.
A reunião com Gigli encerrou-se por volta das 16h15,
mas alguns vereadores permaneceram na sala onde posteriormente
decidiram convidar, em dias separados, o presidente da
ACIT (Associação Comercial e Industrial
de Taubaté), André Saiki, e o diretor do
jornal CONTATO, Paulo de Tarso Venceslau, para prestarem
mais informações sobre o caso.
CONTATO apurou que a versão e as provas apresentadas
pelo chefe de gabinete não convenceram parte dos
vereadores. Pelo menos quatro vereadores ouvidos por CONTATO
não descartam a possibilidade de uma CEI (Comissão
Especial de Inquérito). De acordo com a vereadora
Pollyana de Araújo (PPS), os vereadores estudam
a possibilidade de abertura de uma investigação
mais aprofundada. “O convite está sendo formulado
hoje e será encaminhado ao presidente da ACIT.
Queremos resolver isso ainda nessa semana”, disse.
Paulo de Tarso informou que o recibo apresentado por Gigli
apenas comprova sua reportagem. A declaração
de imposto de renda não serve para absolutamente
nada. Já o extrato bancário poderá
servir para provar que Gigli não sacou dinheiro
de sua conta para pagar em espécie na boca do caixa
da ACIT. Gigli parece esquecer-se que no sábado,
25, afirmou para o diretor de CONTATO que “faz o
que quiser com o dinheiro dele”.
Se o dinheiro não saiu da poupança de Gigli,
conforme o mesmo havia declarado a funcionários
da Vanguarda, quem vai responder a pergunta: qual a origem
do dinheiro usado por Gigli para pagar a ACIT em nome
da prefeitura e sequer pedir um recibo? Qualquer semelhança
com Brasília não é mera coincidência.