:: Texto e fotos por Marlon Maciel Leme ::


CONTATO - Como a sra. vê as intervenções da prefeitura nas áreas verdes da cidade como o Parque Dr. Barbosa de Oliveira, praça Paul Harrys, Convento de Santa Clara?
Vidal –
Desastrosas. Essas obras são mais um equívoco da prefeitura. Mais uma vez os carros são mais importantes do que saúde pública e meio ambiente. As bicicletas é que salvam Taubaté. Os motoristas nem podem reclamar porque se cada ciclista estivesse num carro, ninguém andava. Isso tudo é estranho até porque o Monteclaro César, diretor de Trânsito da prefeitura, é arquiteto e urbanista. Ao longo de anos estudou como a questão ambiental não foi trabalhada na cidade. Mostrou como Taubaté foi perdendo os vários corpos d’água que existiam, o que colaborou para que a cidade ficasse cada vez mais quente. Não é por falta de informação. É uma política equivocada. Se existe uma cidade que precisa ser modelo em meio ambiente é Taubaté porque ela tem uma universidade enorme com todas as áreas afins: agronomia, biologia, engenharia ambiental. Mas isso não acontece.

CONTATO – Tudo isso com o aval do Partido Verde...
Vidal
– Estou decepcionada com o Partido Verde. Quando eles estavam fazendo as obras na rua Humaitá, encontrei o Monteclaro e falei para ele que “era uma oportunidade para fazer uma bela sombra na avenida” porque ali o trânsito é intenso e é uma área muito quente. O que eles fizeram? Plantaram palmeirinhas. É uma piada de mau gosto. Um dos problemas mais graves em Taubaté é o câncer de pele. A cidade não tem sombra, é causticante.


“Um dos problemas mais graves em Taubaté é o câncer de pele. A cidade não tem sombra”


CONTATO – Como começou seu envolvimento com a questão ambiental em Taubaté?
Vidal
– Ajudei a fundar o GECA [Grupo de Estudos e Conscientização Ambiental] em 83 e começamos um trabalho de educação ambiental. Fiquei mais quatro anos e depois fui desenvolver uma oficina pedagógica para educação ambiental com fantoches de dedo para crianças.

CONTATO – Qual o diagnóstico ambiental de Taubaté?
Vidal
– É o da falta de política ambiental. Só vemos algo sendo feito em junho, na Semana do Meio Ambiente. Sabe qual é o custo disso? O aquecimento cada vez maior da cidade, a supressão cada vez maior de áreas verdes etc. Embora tenha havido um ganho na área de mata verde, no Vale do Paraíba, na área urbana, principalmente, em Taubaté, o decréscimo de área verdes foi dramático nos últimos anos.


“Na área urbana, principalmente, em Taubaté, o decréscimo de área verdes foi dramático nos últimos anos”


CONTATO – Será que a prefeitura ainda não entendeu isso?
Vidal
– É muito equívoco. Veja a rua Humaitá, o que foi feito lá? E não é só o poder público, a iniciativa privada também adora cimentar, tacar ladrilho em tudo. Estão tirando todas as áreas de infiltração que o solo tem para poder abastecer os rios com água limpa.

CONTATO – A questão ambiental ocupa algum espaço na agenda pública?
Vidal
– Nenhum. Participo de várias ong’s [organização não governamental] na região e ninguém recebeu convite para discutir Plano Diretor ou Agenda 21. Em Taubaté, o pouco que existe não dá para atingir 100% da população. No ano passado, houve uma audiência pública com a comissão de meio ambiente da OAB que conseguiu trazer o Instituto Polis que foi à Câmara e deu um curso sobre Plano Diretor. Foram convidadas todas as entidades representativas, ong’s, associações de bairro, e, lógico, o poder público. Só que o representante da prefeitura de Taubaté não participou das reuniões.

CONTATO – A sra. tem alguma esperança em relação ao Plano Diretor?
Vidal –
Não sei o que vai sair, [nem] o que a prefeitura vai apresentar. De repente pode até ser uma coisa maravilhosa. O problema é que, se você não envolver todas as pessoas nos processos aos quais elas estão atreladas, você não consegue implantar esses projetos no plano social.

CONTATO – E a educação ambiental?
Vidal
– A questão ambiental nas escolas não existe. Tenho uma declaração do diretor municipal de Educação [prof. José Benedito Prado] dizendo isso. Ano passado, elaboramos um questionário para conhecer um pouco das políticas na área de meio ambiente, saber o que as instituições estavam realizando. E a gente viu que não tem nada, não existe um plano para o meio ambiente.

CONTATO – Que pesquisa era essa?
Vidal
– Ela foi aplicada no primeiro e segundo semestre do ano passado pelo Comitê Municipal de Águas. Foram captadas amostras em 12 áreas diferentes. Os resultados foram surpreendentes porque eles sabem que não existe coesão, que não existe política sócio-ambiental implantada, mas eles têm grande interesse em discutir e resolver os problemas ambientais. Mas os órgãos públicos não se abrem. Outro exemplo dessa pesquisa é que quando se perguntou se havia algum trabalho sobre meio ambiente, feito pelas escolas, que poderiam ser mostrados, a resposta foi “não”. As escolas não tinham trabalho para mostrar na época da Semana do Meio Ambiente.

CONTATO – Qual é sua formação?
Vidal
– Fiz pedagogia na PUC de São Paulo e Direito aqui em Taubaté. Especializei-me em Antropologia da Educação, na Escola Pós-graduada da Fundação de Sociologia e Política de São Paulo. Na USP, trabalhei na área de psicologia social para área infantil, onde enfoquei a violência doméstica contra criança e adolescente. Coloquei esse fenômeno como eixo do trabalho ambiental. Também me especializei em Educação Ambiental, em 2002, através do Ministério do Meio Ambiente, pelo programa do PINOMA [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Educação Ambiental], em conjunto com a Universidade de Brasília.

CONTATO – Como conseguiu se inscrever?
Vidal
– Eu era diretora de ong e na época todos os dirigentes tinham uma vaga certa. Só que as ong’s eram raras e tinha muita vaga. Por isso, nossa equipe toda foi aprovada.

CONTATO – Isso trouxe resultados práticos para Taubaté?
Vidal
– As mudanças em Taubaté têm que ser profundas. A gente sente que não é só em Taubaté, mas o poder público, em geral, é despreparado, não tem os instrumentos que são fundamentais para trabalhar. Para se ter uma idéia, e não sou eu que falo isso, Taubaté foi considerada a cidade mais atrasada na área sócio-ambiental de todo Vale. Ganhou esse diploma numa conferência sobre Plano Diretor há um mês em Ubatuba.


“A gente sente que não é só em Taubaté, mas o poder público, em geral, é despreparado”


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