Prefeitura
“muy” amiga
Uso
privado de recursos públicos
Não
bastasse o nepotismo explícito, o prefeito Roberto Peixoto parece
decidido a atender amigos e parentes que queiram dar festa, mudar de
casa ou simplesmente arrumar seu jardim. Confira detalhes nessa reportagem
exclusiva ilustrada com fotos.
Por
Marlon Maciel Leme
colaborou Jorge Fernandes
Nas últimas semanas, a redação
de CONTATO recebeu dezenas de telefonemas, cartas e e-mails de taubateanos
descontentes com algumas exibições explícitas de
mau uso da máquina pública na prefeitura de Taubaté.
O desfecho dessas suspeitas ocorreu há 15 dias depois que duas
correspondências anônimas chegaram à redação.
Dentro delas, havia algumas fotografias de flagrantes que confirmavam
as denúncias de que funcionários, equipamentos e veículos
da prefeitura de Taubaté estavam sendo utilizados para finalidades
particulares, mostrando que a administração Roberto Peixoto
(PSDB) aprendeu direitinho como não se deve fazer uma administração
honesta.
Exemplo recente disso foi a mudança dos pertences de uma família
de quatro pessoas, realizada na manhã de sábado, 8 de
abril, com o auxílio de um caminhão da prefeitura - com
direito a motorista – levados da casa número 101, localizada
na Avenida Jose Antônio de Barros, Jardim Santa Clara, próximo
à Casa de Custódia, para um outro endereço.
A mudança completa durou pelo menos três horas.
O padronizado caminhão azul Chevrolet 13000, com placa BPZ-6145,
de Taubaté, foi identificado pela numeração 191.
A assessoria de imprensa da prefeitura informou que o caminhão
pode ser utilizado tanto pelo Departamento de Serviços Urbanos
(DSU) quanto pelo Departamento de Obras Públicas (DOP), “conforme
a necessidade”. Porém, a prefeitura não informou
o motivo sobre o uso do veículo na mudança.
Ainda segundo a assessoria, o engenheiro Carlos Vilela, da ATI (Área
de Transportes Internos), subordinado ao DOP e responsável pela
manutenção da frota de veículos, vai apurar qual
departamento solicitou o caminhão e quem emitiu a ordem de serviço.
CONTATO apurou que o antigo morador da Avenida José Antônio
de Barros, que atende pelo nome José, é servidor da rede
pública municipal.
O Jardim Santa Clara tem a característica de ser habitada por
famílias de classe média alta que residem em casas de
alto padrão. Trata-se, portanto, de uma região que não
apresenta qualquer indício de munícipes carentes necessitados
de ajuda pública para realizar mudanças. Caso se tratasse
de família carente, não há qualquer dúvida
de que a atitude do prefeito seria elogiada pela sensibilidade social
diante de problemas dessa natureza. Mesmo assim, deve-se ressaltar que
se trata de um benefício que, caso fosse atendido, deveria ser
extensivo a todas as famílias carentes.
Acontece que esse tipo de iniciativa geralmente é fruto do pedido
eleitoreiro de algum vereador. Infelizmente, para muitos, a Câmara
é vista e tratada como um despachante de luxo de demandas pessoais
junto ao poder Executivo.
Jardinagem
e manutenção
Outro flagrante foi registrado bem perto dali. A pouco mais de dois
quarteirões, na Avenida Marechal Deodoro, nº 4, também
no Jardim Santa Clara, funcionários da prefeitura foram vistos
realizando serviços de limpeza, jardinagem e manutenção.
Nesse endereço funciona a Mansão das Festas. O imóvel
é alugado para a realização de festas e comemorações
para adultos e crianças.
O Departamento de Serviços Urbanos informou, através da
assessoria de imprensa, que o fato “não procede”.
O DSU alegou que os servidores que fazem jardinagem não utilizam
uniformes de cor laranja. A cor, segundo o DSU, é verde.
Festa
de arromba
O terceiro episódio envolve o gerente de Cultura de Taubaté,
Anderson da Silva Ferreira, genro do prefeito Peixoto. Ele não
mediu esforços para comemorar mais uma primavera ao lado de centenas
de amigos na noite de sexta-feira, 7.
Contratou o que existe de melhor no ramo de eventos e organizou uma
festança no Buffet Jóia, antiga Hífen, no quilômetro
4 da Rodovia Osvaldo Cruz, só para convidados. Orçada
em mais de R$ 20 mil, segundo empresários consultados por CONTATO,
há fortes indícios de que a festa contou com a colaboração
da administração pública para promover a sua “The
Friends Party – A Festa dos Amigos”.
A generosidade da prefeitura em relação ao genro do prefeito
excedeu os limites do público e do privado. Anderson organizou
sua festa em horário de expediente, conforme noticiou CONTATO
na edição anterior com base em amplo material retirado
da página de Anderson Ferreira, no Orkut, impressas e arquivadas
à disposição do Ministério Público.
Além disso, Anderson utilizou serviços de empresas que,
coincidentemente, também prestam serviços à prefeitura,
como é caso da Portban. Sediada em São José dos
Campos, a empresa é especializada em locação de
sanitários químicos portáteis.
De acordo com Antônio Costa, funcionário da empresa, para
uma festa de duração de 10 horas e cerca de 700 convidados
– como é o caso da comemoração promovida
por Anderson – são necessários, pelo menos, oito
sanitários. O valor do aluguel de cada unidade gira em torno
de R$ 80. Em outras palavras, a festa do gerente de Cultura gerou um
custo adicional aproximado de R$ 640 no orçamento.
Se alguma dúvida pudesse existir, ela foi afastada com a entrevista
por telefone que CONTATO fez com Costa, da Portban. Ele informou que
sua empresa é cadastrada na prefeitura, uma cliente “considerada
excepcional”. Para provar de sua proximidade com o poder público,
Costa afirmou que tem ligações com o Palácio Bom
Conselho, especialmente nas figuras de Anderson Ferreira, Antônio
Paolicchi (diretor de Turismo), Moacyr (assessor de Paolicchi) e Tenente
Dias.
E
os limites legais?
No dia 9 de abril, domingo, foi a vez do prefeito Roberto Peixoto reunir
amigos, familiares e convidados para comemorar a Páscoa e assoprar
velinhas em comemoração ao seu 55º aniversário.
CONTATO apurou que a festa do prefeito foi realizada no mesmo local
escolhido por Anderson para a The Friends Party.
Foi um almoço para mais de 500 talheres. Segundo apurou nossa
reportagem, foi patrocinado por fornecedores da prefeitura que se cotizaram
para bancar o regabofe do prefeito e seus amigos. A legislação
em vigor reza que autoridades não podem receber presentes com
valores superiores a R$ 100,00, exatamente para impor limites em ganhos
extra-funcionais por parte de autoridades.
Diante dessas constatações, algumas indagações
pairam no ar. Se a conta foi paga pela prefeitura, por que então
negar os recibos das despesas com o Buffet Jóia? Se o almoço
foi patrocinado por empresários que fornecem serviços
e outros produtos para a prefeitura, como explicar esse regalo que ultrapassa
em muito o limite legal de R$ 100,00?
Algumas semelhanças entre o presidente Lula e o prefeito Roberto
Peixoto, por incrível que pareça, começam a se
separar. Lula, por exemplo, reformou o Palácio da Alvorada com
recursos privados. Todos os patrocinadores terão seus respectivos
nomes gravados em uma placa que ficará exposta à visitação
pública. Peixoto, talvez por absoluta falta de experiência,
utiliza-se de métodos que há muito tem sido condenados
pela opinião pública e também pela própria
Justiça.
Esse episódio do almoço de Páscoa/aniversário
é apenas mais um indício de mau uso da máquina
pública para fins particulares, na atual administração
municipal.