Por Paulo de Tarso Venceslau

Vírus na máquina da prefeitura
Vírus de computador é uma peça de software (programa) projetado e escrito para se auto-copiar e se disseminar em vários locais, sem o conhecimento ou a permissão do usuário. Adicionam seu código ao sistema do seu computador de modo que, quando a parte infectada do sistema é executada (rodada), o vírus também é executado.


O “dono” da máquina da prefeitura de Taubaté é o prefeito Roberto Peixoto. Ele conhece todos os programas, inclusive o programa fonte. Traduzindo. Foi ele que nomeou (instalou) cada um dos seus auxiliares (programas) e delegou (configurou) as tarefas para cada um dos seus homens de confiança.
Acontece que o computador do prefeito começou a dar pau desde o início de seu governo. Os escândalos da compra abortada de asfalto a quente, a escandalosa compra de livro pirateado, a compra de apostilas por apenas R$ 33 milhões são apenas alguns exemplos que apontam para a existência de vírus na máquina administrativa da nossa prefeitura.
O usuário de um computador percebe rapidamente que seu equipamento não está rendendo o que já rendeu. O contribuinte municipal que usa os serviços da prefeitura também já percebeu que a máquina administrativa está rateando. Apesar de todos os avisos, o prefeito finge que não é com ele. Já insistimos nessa semelhança do comportamento do prefeito Roberto Peixoto com o do presidente Lula. Nenhum deles sabe absolutamente nada do que ocorre a sua volta.
Não satisfeito, Peixoto parece que resolveu reforçar sua identidade com o presidente. Um passo nesse sentido pode ser observado no acordo firmado com o PMDB local. O vereador peemedebista Chico Saad já se comporta como líder do governo na Câmara. E, como tal, tem sido mais realista que o rei, ao lado do vereador Luizinho da Farmácia (PDT) que adquiriu alergia pela imprensa independente.
Mas o vírus mais pernicioso foi batizado com o nome de Fernando Gigli Torres, chefe de Gabinete do prefeito. Ele age com tanta desenvoltura que até já foi comparado a Paulo Okamotto, o homem que tem a chave dos mistérios que cercam o presidente Lula. Em Brasília, qualquer poste sabe que se for quebrado o sigilo bancário, fiscal e telefônico dele, num dia, pode acarretar o impeachment de Lula no dia seguinte.
Gigli parece conduzir Peixoto para o mesmo beco sem saída. Flagrado na boca do caixa da ACIT pagando com recursos próprios uma conta da prefeitura, o chefe de Gabinete levou um susto e saiu à luta para montar uma estória para encobrir um fato grave, fruto de despreparo administrativo, adjetivo mais light que me veio à cabeça. Revelou um amor ímpar à cidade e ao Palácio Bom Conselho. Disse pessoalmente por telefone ao autor dessa crônica que “o dinheiro é meu e eu faço o que bem entender com ele”. E reforçou seu argumento afirmando que ele tinha como comprovar a origem dos recursos e também renda suficiente para tanto.
Prontificou-se a prestar voluntariamente informações aos senhores vereadores. Na tarde de segunda-feira, 3, ele apresentou uma cópia do pagamento feito pela ACIT à Vanguarda, um extrato bancário e um extrato do Imposto de Renda referente a 2004. Uma estorinha tão consistente quanto a explicação dada por Palocci a respeito da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa que cometera o “crime” de ter visto dezenas de vezes o então ministro na mansão que hospedava ilustres representantes da República de Ribeirão Preto.
Prefeito Roberto Peixoto, insisto em reafirmar: quem avisa amigo é. Se os melhores advogados que atendem o governo federal não conseguiram inventar uma versão capaz de resistir à força dos fatos, com certeza não serão as noites mal dormidas de Luis Rodolfo Cabral, diretor Jurídico e aliado de Gigli, que criarão alguma versão mais verdadeira que uma nota de R$ 3,00.
O episódio a respeito do aniversário de Anderson Ferreira, gerente de Cultura é mais um indício de que o vírus que era fácil de identificar e combater pode ser sintoma de uma grave metástase. Quando isso acontece em um computador, seu proprietário precisa reformatar todo o disco rígido. Com certeza, nesse caso, ele perde todos os programas instalados. É comum também ocorrer a perda total da memória do HD. Nos seres humanos, pode significar um fim trágico. Porém, na vida de um político, esse vírus pode significar o fim de uma promissora carreira.

 

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