Por
Marlon Maciel Leme e Fabrício Junqueira
O
árbitro Milton Etsuo Ballerini apita o final do
sofrido 1 x 0 sobre o Rio Claro, no domingo 23. O estádio
Joaquim de Moraes Filho balança. Dentro e fora
do campo, um misto de alegria e revolta envolve torcedores,
comissão técnica e atletas. Torcedores aplaudem
o time e ao mesmo tempo protestam enfurecidos aos gritos
de “fora Toninho!”.
Um pouco antes, o maqueiro do Taubaté, Marião,
desmaiou na beira do campo e foi levado de ambulância.
Protegido por três seguranças, Antônio
Eduardo de Oliveira, o Toninho, diretor da MECA Sports,
terceirizadora da futebol do ECT, ouve ofensas e recebe
cusparadas de torcedores enfurecidos.
Essas são apenas algumas das muitas cenas de uma
jogo que jamais será esquecido pelos cerca de 600
torcedores que estiveram no Joaquinzão. Mais parecia
decisão de campeonato onde o Taubaté só
tinha a opção de vencer, torcer por um tropeço
do XV de Piracicaba em Limeira para livrar-se do rebaixamento.
A salvação saiu da cabeça do zagueiro
Evandro. Uma testada certeira ainda no início do
primeiro tempo fez o único e salvador gol da partida.
Mas as atenções continuavam voltadas para
o resultado do jogo em Limeira. O alívio só
veio depois que a Inter venceu o XV de Piracicaba por
3 X 2, o que garantiu ao Burrão na série
A2. Depois desse jogo, o presidente do E.C.Taubaté,
Francisco Tulha, em Limeira, entrega ao médico
da equipe limeirense uma mala com R$20.000,00.
O começo
No
fim de setembro, advogados ligados ao E.C.Taubaté
defendiam que a MECA, presidida por Oliveira, não
havia cumprido cláusulas contratuais e cometido
fraudes no repasse de valores referente à transação
de jogadores, falta de pagamento de energia elétrica,
INSS e a falta de pagamento de encargos trabalhistas que
estavam sendo cobrados desde 2003.
A primeira decisão judicial através de uma
liminar favoreceu Oliveira, mas o juiz da 5º Vara
Civil de Taubaté, Carlos Eduardo Reis de Oliveira
acabou dando ganho para o Burro da Central.
Guilherme Paiva, nomeado interventor jurídico pelo
juiz em seguida, anuncia Marcelo Martellote como gerente
de futebol do Taubaté. Jogadores começam
a chegar. Os ventos favoráveis terminam ainda em
novembro quando, com o apoio de alguns conselheiros, a
MECA Sports e a PSI (Partner Sports International) lançam
uma nova ofensiva para continuar a terceirizar o futebol
do Taubaté. A confusão estava armada.
Balaio
de gatos
Em
dezembro, enquanto o rival Guaratinguetá (hoje
classificado para o quadrangular decisivo da série
A2) já fazia sua pré-temporada, ninguém
sabia quem comandaria o Taubaté. O jogador apresentado
na curta “era Paiva” já haviam saído
do clube. Mânica era o treinador. Mas quem jogaria?
Jornalistas esportivos questionavam e nenhuma solução
era apresentada.
Nos bastidores, comentavam que o nome de Paiva havia sido
vetado pelo prefeito Roberto Peixoto. Na ocasião,
um diretor de departamento da prefeitura chegou a declarar,
“com o Paiva lá, o Taubaté não
terá nenhuma ajuda da prefeitura”. O interventor
jurídico foi rapidamente fritado dentro do Burro
da Central.
Acordão
em cima da hora
Depois
de idas e vindas em janeiro, o Taubaté disputou
(e bem, diga-se de passagem) a Copa São Paulo de
futebol júnior e um “acordo de cavalheiros”
fez com que o E.C.Taubaté novamente aceitasse a
MECA Sports no comando do seu futebol. Em menos de um
mês começou a desesperada luta para montar
e treinar uma equipe competitiva que estrearia dia 5 de
fevereiro em casa contra o União Barbarense.
O gerente de futebol Valmir Gritti ao lado do técnico
Mauro Mânica começa a inglória missão
de contratar uma equipe com vinte mil reais. Jogadores
desconhecidos desembarcam no Joaquinzão, sem pré-temporada,
sem jogo treino, o Taubaté começa sua “aventura”
na série A2.
Início
O
time montado às pressas começa vencendo
o Barbarense em casa por 2x0 com gols de Renato Santiago
(um dos poucos conhecidos jogadores contratados) e causa
uma falsa euforia nos torcedores. Na seqüência,
uma série de derrotas que culminou com a derrota
em casa para o líder Barueri, no sábado
de carnaval, faz a primeira vítima: cai o técnico
Mauro Mânica. Gritti dirigiu a equipe de forma interina
até que Antônio Eduardo de Oliveira anunciasse
o nome de Gian Rodrigues (demitido do Guaratinguetá)
para dirigir o Alviazul.
Mais
tropeços
O
primeiro compromisso é frente ao rival Guaratinguetá,
fundado em 1998 e do qual o Taubaté nunca havia
perdido uma partida. Na tarde de 4 de março, o
ECT perde por 2x1. Ainda nos vestiários, Toninho
Oliveira dispara: “A culpa de terem montado esse
time de merda é do Mânica e do Gritti. Eu
não vou gastar um tostão a mais para melhorar
esse time, ninguém me ajuda!”. Gritti rebate,
“montei uma equipe com o que eu tinha em mãos.
Não sou milagreiro!”. Na rádio Jovem
Pan, o jornalista Miguel Kater vaticinava: “A torcida
tem que esquecer de classificação, a luta
será contra o rebaixamento. O Taubaté tem
jogadores que nunca poderiam vestir a camisa azul e branca,
a situação é perigosa!”.
Três dias depois, o Taubaté recebia o XV
de Piracicaba, no Joaquinzão, e tomava uma goleada
de 5 x 2, com direito a grito de olé e protesto
de torcidas organizadas. O Burrão estava na zona
de rebaixamento, sem norte e sem direção.
O barco estava afundando.
Na última partida do primeiro turno, o Taubaté,
que não perdia para o Rio Claro desde 1976, foi
presa fácil para o “Galo Azul”, que
venceu por 3x1. Com três jogos e três derrotas,
Gian Rodrigues foi demitido do comando técnico.
A
reação?
Uma
tentativa de reação começa com a
contratação do experiente técnico
Walter Zaparolli, conhecido treinador do interior paulista
que conseguiu vários acessos e livrou muitas equipes
de rebaixamentos. Em uma articulação com
empresários da cidade, o deputado federal Ary Kara
(PTB), o vice prefeito Alexandre Danelli e Reinaldo Carneiro
Bastos ao lado de José Manoel Evaristo e Otávio
Corrêa, treze reforços chegam ao Joaquinzão
e alguns são dispensados.
“A situação era desesperadora. Fui
até a FPF pedir ajuda ao Reinaldo que com dois
telefonemas trouxe reforços do Santos (Rodrigo,
Xuxa e Luisinho), São Caetano (Felipe Kaká)
e Guarani (Carlão)”, contou o presidente
Chico Tulha.
Os primeiros bons resultados começam a aparecer
o que fez a torcida sonhar com uma possível classificação.
O sonho terminou numa quarta-feira à tarde quando
o Taubaté perdeu por 3x2 para o Nacional sem cinco
titulares. Começou mais um inferno astral com a
derrota fora de casa para o Barueri e mais um tropeço
diante do Guaratinguetá, em casa. “Naquela
tarde, perdemos de virada com um jogador a mais em campo.
Quase joguei a toalha”, desabafa o técnico
Zaparolli.
A
pamonha de Piracicaba azedou
Depois
da derrota em casa, o Burro enfrentaria uma partida decisiva
em Piracicaba, se perdesse o Burro da Central estaria
rebaixado. Sem zagueiros com condições de
jogo, Zaparolli escalou um Taubaté com dois meias
na zaga e jogou fechado, até o zagueiro Amaral
da equipe piracicabana perder a cabeça e agredir
Adriano do Taubaté e ser expulso, quando o Taubaté
perdia por 1x0. A partir desse momento, o Taubaté
mandou no jogo. Empatou com o artilheiro Renato Santiago
(dez gols na competição) e perdeu um “caminhão
de gols”. No final, Zaparolli em lágrimas
lamentava ter perdido a chance de ter “matado”
o XV de Piracicaba fora de casa. Mário Luis da
rádio Educadora de Piracicaba já profetizava,
“quem precisa rezar agora é o XV”.
No vestiário, após a partida, parte da premiação
foi paga aos jogadores. A segunda parcela só veio
depois da salvação em casa diante do Rio
Claro e do presente de Limeira.
A pamonha de Piracicaba azedou e o Burro da Central escapou
da degola. Coisas do futebol!