Filipini
(2º dir): concentração ou oração
para afastar os fantasmas que assombram a Câmara
Por
Marlon Maciel Leme
Depois
de barrar a CEI do Gigli, Câmara não questiona
novos indícios de irregularidades na administração
tucana e, debaixo de um silêncio ensurdecedor, dá
voto de confiança a Roberto Peixoto quando aprova
livre remanejamento de verbas orçamentárias.
Depois
de rejeitar na terça-feira, 25, a abertura de CEI
(Comissão Especial de Inquérito) que investigaria
supostas irregularidades praticadas pelo chefe de gabinete
da prefeitura de Taubaté, Fernando Gigli Torres,
a Câmara de Taubaté aprovou, na terça-feira,
2, o aumento de 5% para 20% no limite de remanejamento
de verbas no orçamento municipal de 2006.
O Executivo obteve 12 votos favoráveis. O único
vereador contrário à proposta foi Jeferson
Campos (PT), principal opositor à administração
Roberto Peixoto (PSDB) na Câmara. O petista considera
“mais que suficiente” a margem de 5% de remanejamento.
O projeto foi o primeiro a ser votado, o que aconteceu
depois que o vereador Carlos Peixoto (PSC), líder
do governo tucano na Câmara, solicitou ainda no
início da sessão a inversão do item
XII na ordem do dia. Foi aprovado junto com um pacote
de 14 itens inclusos na pauta. A prefeitura de Taubaté,
por meio de sua assessoria, informou que a medida irá
atender principalmente os programas sociais.
Alguns dos vereadores que votaram a favor do projeto disseram
que a escolha foi um “voto de confiança”
ao prefeito Roberto Peixoto. Alvo de vários ataques
e insinuações por parte do prefeito, a vereadora
do PPS, Pollyana Gama Winther, votou favorável,
mas não escondeu seu descontentamento com a administração.
“Participamos de todas as reuniões, junto
com outros vereadores, para analisar a peça orçamentária.
Surgiram dúvidas e a prefeitura não mandou
nenhum dos seus representantes para nos esclarecer. Estou
dando um voto de confiança”.
Ex-presidente da Casa, o vereador Orestes Vanone (PSDB)
também lembrou na tribuna a falta de diálogo
com o Executivo, em 2005, durante a avaliação
do orçamento. “Nenhum diretor ou técnico
da prefeitura veio aqui para conversar com os vereadores”,
disse.
Outros parlamentares que também manifestaram insatisfação
com a administração foram Ângelo Filippini
(PSDB) e Maria Tereza Paolicchi (PSC). Ambos argumentaram
que o apoio ao projeto representou um voto de confiança.
Panorama
O
20 % aprovados de remanejamento devem minimizar problemas
financeiros enfrentados em alguns departamentos da administração.
Agora, o prefeito Roberto Peixoto terá autonomia
para remanejar até R$ 60 milhões, sem depender
de prévia avaliação da Câmara.
O orçamento de Taubaté para esse ano está
previsto em R$ 300 milhões.De acordo com o vereador
Luizinho da Farmácia, um dos principais representante
da base governista, a Câmara “reconheceu ter
cometido um erro que poderia atrapalhar a administração
da cidade”.
Turma
dos amigos
O
vereador Carlos Peixoto comparou o novo índice
com o de administrações anteriores. “É
uma questão de justiça. Todos os prefeitos
anteriores tiveram remanejamento de 20%. O Bernardo Ortiz
teve 20% e o Antonio Mário teve 60%. Por que só
o prefeito Roberto Peixoto tem que trabalhar com 5%?”,
defendeu.
Favorável a proposta, o pastor Valdomiro Silva
(sem partido) chegou a afirmar que 20% “é
muito pouco”. “Quero que o prefeito mande
para nós um projeto solicitando 60% de remanejamento.
Aprovo na hora”, declarou.
Diários do front
A
aprovação do novo índice de remanejamento
representou a segunda importante vitória do prefeito
na Câmara nos últimos 15 dias. A primeira
ocorreu com arquivamento da CEI que deveria investigar
caixa 2 operado por Fernando Gigli, chefe de Gabinete
do prefeito. Apesar do favoritismo, a administração
tucana tem sido bombardeada por denúncias que envolvem
arrecadação de recursos não contabilizados,
o caixa 2. O esquema seria operado supostamente pelo chefe
de gabinete do prefeito, Fernando Gigli Torres, presidente
da Comissão Permanente de Licitação.
Entretanto, o fato que mais chamou a atenção
essa semana na Câmara foi o silêncio conivente
durante toda a 55ª sessão ordinária.
Os vereadores pareciam evitar falar das denúncias
apontadas por CONTATO (edição 267) e atestadas
pelo próprio Roberto Peixoto em entrevista ao vivo
na segunda-feira, 24, na TV Cidade.
Resistência
Inconformados
com o resultado que tirou Gigli do paredão, um
grupo de vereadores apresentou no início da semana
novos documentos ao Ministério Público.
“O caminho agora é a promotoria. Tivemos
uma possibilidade [de CEI] na Câmara, mas não
conseguimos. Agora o vamos recorrer ao MP”, afirmou
Jeferson Campos.
De acordo com o petista, foram apresentadas ao MP reportagens
veiculadas pela imprensa sobre irregularidades cometidas
durante a realização da campanha natalina,
Iluminatau, em 2005.
“Como o Ministério Público já
abriu investigação desse caso, o que fizemos
foi levar mais subsídios que coletamos para embasar
o trabalho da promotoria”, disse o vereador do PT.
Na semana passada, CONTATO revelou com exclusividade que
um dos dois empresários mencionados por Peixoto
e pelo vereador Luizinho da Farmácia chama-se Honório
Shibata.
O pedido, segundo Shibata, foi feito por Gigli, por escrito,
em nome da prefeitura de Taubaté, no início
desse ano. CONTATO obteve cópia autenticada do
documento original assinado por Fernando Gigli, com firma
reconhecida. O empresário afirmou também
que entregou R$ 2,5 mil, em dinheiro, nas mãos
de Fernando Gigli. O recibo é assinado pelo gerente
da área de comunicação da prefeitura
CONTATO forneceu cópias desses documento para o
Ministério Público.