A
sessão da Câmara Municipal de terça-feira, 4,
foi extremamente reveladora. Parecia que a cidade vivia a maior
calmaria política de sua história. Nenhum vereador
fez qualquer comentário sobre as denúncias tornadas
públicas em nossa edição anterior. Nessa sessão,
os vereadores aprovaram o aumento de remanejamento de verbas de
5 % para 20 % com um único voto contra.
No dia seguinte, a filha de um vereador me liga para saber porque
eu atacava tanto seu pai, um homem honrado que nunca roubou nada.
“Como você pode acusá-lo de ladrão? Como
pode chamá-lo de soldadinho?”, cobrava a indignada
moça na outra ponta da linha.
Diante dessa cobrança, só restou-me um esforço
hercúleo – não sei se bem sucedido – para
refutar ponto por ponto. Comecei explicando que nunca chamei ninguém
de ladrão porque nosso jornal não faz ataques pessoais.
Opções sexuais, abusos de bebidas etílicas,
ter ou não ter religião, não nos dizem respeito.
Lancei o primeiro desafio: “mostre onde a matéria traz
qualquer insinuação a respeito da honra do seu pai
(dela)?”. Não havia e não há nada a respeito.
Afirmamos sim que o vereador “tal qual um soldado de infantaria”
cumpre ordens do prefeito sem questionar e que votou contra a instalação
da CEI, mesmo sem ter participado dos depoimentos feitos à
Câmara pelas pessoas envolvidas diretamente. Se ele não
compareceu à Câmara, se ele cumpre ordens sem qualquer
visão crítica, se ele cria desculpas infelizes para
defender a prática indefensável de caixa 2, o problema
era dele, vereador, e não do jornal. Paciência. Sei
que a moça que gosta muito do seu pai. Mas ele é uma
figura pública e como tal tem que prestar contas de seus
atos.
O vereador e filha leram a matéria que traz a foto de um
“empresário” que teria generosamente arranjado
dinheiro para que Fernando Gigli, chefe de Gabinete do Prefeito,
pagasse uma dívida da prefeitura à ACIT. Um pagamento
que foi feito em dinheiro vivo, documentado pela contabilidade da
centenária entidade e testemunhado por inúmeros funcionários,
inclusive por um diretor da ACIT.
Honório Shibata, o generoso empresário, apresentou
documentos assinados. Mesmo sabendo que se tratava de uma história
porcamente montada pelos assessores do Palácio Bom Conselho,
deixei por barato. Por uma razão muito simples. A falsa história
me dava provas tão concretas como a versão verdadeira.
A falsa história tornada verdadeira com os documentos apresentados
mostra que Fernando Gigli usa e abusa da prefeitura. Num lampejo
de generosidade, posso até admitir que tudo faz e o prefeito,
tal qual Lula, nada sabe. Nesse caso, o prefeito teria de tomar
alguma iniciativa diante da prova concreta de que seu chefe de Gabinete
usou papel timbrado da prefeitura para pedir R$ 2.500,00 a Shibata.
Faço uma aposta. Darei uma garrafa de cachaça Havana,
de Salinas, MG, para quem conseguir provar a legalidade desse ato.
Se for uma senhora, darei um frasco de perfume que escolher, entre
todas as marcas nacionais e estrangeiras.
Se o prefeito Roberto Peixoto quiser enfrentar o desafio e provar
que não é verdadeira a assinatura de Gigli que consta
no pedido e que dona Odila Sanches, diretora de Finanças
da prefeitura, lançou o valor pedido nas receitas da prefeitura,
eu pagarei o valor decuplicado. E o prefeito ainda poderá
optar entre cachaça e o melhor whisky escocês do planeta.
E pagarei cem vezes o valor da aposta se o prefeito provar que não
disse no debate realizado na TV Cidade que ele sabia que dois empresários
“amigos de Gigli” haviam colaborado com ele.
Ora, se o prefeito sabia de tudo e confessou antes da realização
da sessão que reduziu à pizza o pedido de CEI para
que a Câmara investigasse a denúncia; se a Câmara
ouviu e registrou a versão mentirosa do chefe de Gabinete
e mesmo assim não quis investigar nada; se depois de tudo
isso a Câmara aprova o aumento de livre remanejamento de recursos
por parte do prefeito com apenas um voto contra, só me resta
duas alternativas: rezar, como recomendaria a Velhinha de Taubaté
pra quem político bom só é bom enquanto candidato,
ou confiar na Justiça e fornecer todas as provas coletadas
por CONTATO para que o Ministério Público tome as
providências cabíveis.
A filha do vereador que me perdoe, mas provas já foram encaminhadas
ao Ministério Público.
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