Ações criminosas do Primeiro Comando da Capital geram onda de insegurança em Taubaté. Para a polícia, a situação está sob controle e não há motivo para tanto medo.

Por: Jorge Fernandes
Colaborou Paulo de Tarso Venceslau


Força tática da Polícia Militar patrulha ruas e avenidas de Tauabté na última segunda-feira
No primeiro dia útil após os ataques orquestrados pela facção criminosa PCC -Primeiro Comando da Capital, cidades paulistas acordaram sob uma neblina de caos, medo e boato. Policiais assassinados, ônibus queimados, repartições públicas atacadas rechearam a já amedrontada vida de paulistas. Em Taubaté, o clima não foi diferente. Segunda-feira, 15, foi um dia de insegurança.
A onda de terror na cidade atingiu seu ápice com as rebeliões no Centro de Detenção Provisória de Taubaté e no P1, iniciados no final de semana. No CDP, em menos de 24 horas ocorreram duas rebeliões. O controle do presídio só foi retomado definitivamente na segunda-feira por volta das 17 h, deixando um saldo de dois detentos mortos. Durante a rebelião, cerca de 300 pessoas foram retidas dentro da penitenciária. O motim no P1 de Tremembé também foi contido na segunda-feira. Mas, somente às 18h, após a liberação de três reféns.
Além das rebeliões, dois ônibus da empresa ABC Transportes foram incendiados no domingo. No bairro do Belém, o ônibus 324 foi incendiado por volta das 15 horas. Seis horas depois, foi a vez do veículo 308, no bairro Gurilândia: três homens bloquearam o ônibus, encharcaram-no com gasolina e atearam fogo. O estrago só não foi maior porque o tanque de combustível é fabricado com material plástico. “A carroceria chegou a pingar como água, tamanho era o calor”, relatou um funcionário da empresa que chegou ao local minutos após o ataque.

Centro de Triagem de Tauabté: suspeitos detidos pela PM
“Perda total”, avaliou o funcionário. A frota da ABC foi reduzida em 40% durante o horário comercial da segunda-feira. Às 19h, porém, a empresa recolheu os 86 ônibus que compõem a frota. Só na terça-feira a circulação voltou ao normal.
Na redação de CONTATO, os telefones não pararam de tocar durante toda a segunda-feira. Nossos leitores queriam saber detalhes a respeito de um suposto ataque que teria ocorrido contra a base da Polícia Militar localizada na Rodoviária Velha e o assassinato de um segurança de uma joalheria na região central. Nossa reportagem foi às ruas para conferir de perto as histórias que corriam soltas. Tudo boato.
A Avenida 9 de Julho, assim como as ruas e avenidas centrais, ficou congestionada por volta das 17 hs. Após enfrentar o congestionamento na região central, nossa reportagem seguiu para o 1º Distrito Policial, na Avenida Juscelino Kubitschek. No sentido bairro-centro, a avenida foi interditada um quarteirão antes do 1º DP; no sentido inverso, centro-bairro, apenas uma faixa da pista foi liberada. O bloqueio de segurança começou no sábado, 14. O clima tenso nas ruas não reverberou dentro do distrito policial, aparentemente. Mesmo assim, policiais civis e militares não dispensaram seus coletes a prova de balas. No momento em que o delegado Getúlio Mendes informava que a situação estava sob controle, a rebelião no CDP era sufocada.

Sensação de insegurança em meio a boatos:
congestionamento na região central da cidade
Na operação policial desse final de semana, pelo menos 40 suspeitos foram detidos no Centro de Triagem. Por volta das 18h30, quando a reportagem deixou o estabelecimento policial, mais dois suspeitos foram detidos. Segundo os policiais militares, eles foram abordados por atitude suspeita no bairro Vila das Graças.
Paulo Roberto Rodrigues, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), foi enfático: “99% não passam de boatos”. Para ele, a cobertura da mídia sobre os ataques, principalmente a televisiva, “é sensacionalista e gera pânico na população”. Rodrigues recorreu à velha rixa entre as policiais paulistas e fluminenses para encerrar a entrevista. “Facção famosa e bandido famoso aqui [em São Paulo] não tem. Tem no Rio de Janeiro”.
Com mais de 40 anos de corporação, Paulo Procópio, delegado da DISE, estava estupefato. “É a primeira vez que tenho conhecimento desse tipo de situação em todo o estado de São Paulo”, afirmou. Protegido com um colete à prova de balas, Procópio solicitou que não fossem realizadas fotografias.

 


Apesar de todo o terror que predominou durante o dia, a noite de segunda-feira viveu uma situação inusitada. Não havia viva alma nas ruas. O toque de recolher funcionou sem nunca ter sido acionado. Segundo o coronel Guimarães, comandante do 5º. BPMI, rebeliões em presídios não duraram mais que 2 dias.
Mesmo assim, o prefeito Roberto Peixoto preferiu não arriscar e decretou suspensão das aulas em toda a rede municipal de ensino por dois dias, 16 e 17, sem consultar o comando da Polícia Militar (ver entrevista na pág. 6).
A medida não agradou alguns pais. “Gosto dessa administração, mas foi uma atitude desagradável já que a situação não está fora de controle”, comentou, por telefone, um munícipe que preferiu não ser identificado. Na Universidade de Taubaté, que também cancelou aulas, a suspensão durou de segunda-feira à noite até a manhã de quarta-feira.
A calmaria, segundo tudo indica, ainda não é sinal de que a rotina pacífica voltou a reinar. Na quarta-feira, 17, por volta das 22 horas, o medo voltou a rondar. O jornalista Miguel Kater acabava de sair do Centro de Triagem com uma nota escrita no bolso para ser levada ao vivo pela rádio Jovem Pan: os órgãos de segurança haviam interceptado ligações do PCC. Os bandidos anunciavam que a partir da meia-noite policiais civis e militares seriam atacados. A ameaça, felizmente, não se concretizou. Mas o medo de que uma nova onda de ataques possa ocorrer ainda permanece vivo dentro de cada cidadão.

 

das 20h de sexta-feira, 12, até às 18h de quarta-feira, 16, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulgou o poder de fogo do crime organizado.

  • 281 ocorrências, sendo 82 a ônibus, 54 a residências de policiais, 17 a bancos, 01 garage de ônibus e 01 a estação de Metrô;
  • 45 vítimas fatais, sendo 23 PMs, 07 policiais civis, 03 guardas municipais, 08 agentes penitenciários, 04 cidadãos comuns e 93 criminosos;
  • 122 detenções;
  • 134 armas apreendidas.

 

Fonte: Secretaria de Segurança Pública de São Paulo